“Deixe a prova de filosofia para amanhã.” (Bichos Escrotos, in Carpe Diem”)
Adequando-se filosoficamente ao momento de antanho, surgiu em Curaçá, já se vão alguns anos, a Banda Bichos Escrotos. Salvo engano, dissolveu-se em 2016, ou por volta dessa quadra do tempo, depois de, pelo menos, uma década de existência.
Pressuponho que o caminho em direção aos objetivos de cada integrante da banda tenha determinado a procura por outras encruzilhadas da vida, certamente hoje exitosas.
A banda formava-se de jovens sonhadores, educados, espirituosos, irrequietos, inteligentes, ideologicamente preparados.
Na década de 1980 Caetano Veloso e os Titãs já diziam que “aqui, na face da terra, só bicho escroto é o que vai ter”.
Convenhamos, não erraram. Basta olhar para Brasília. Por lá se misturam escrotos, deslumbrados e outros bichos mais, muitos dos tais afrontam a fauna nacional. Mas esta é outra história que não deve ser tratada aqui para não deslustrar a referência aos Bichos Escrotos, de Curaçá.
Os Bichos Escrotos de Curaçá tinham outra matriz, outro princípio: a decência, o lastro cultural, a pureza do objetivo, o olhar social.
Limito-me aqui, estritamente, à palavra escroto tal como consta nos dicionários e no sentido aplicável ao nome da banda. A variante biológica não vem ao caso.
Não ultrapasso essa barreira filológica. Esmero em filologia, nalgumas ocasiões, pode significar pedantismo para quem dela não entende, como é meu caso. Convém não me atrever.
O fato é que os Bichos Escrotos de Curaçá, mais do que um grupo, uma banda, era um movimento cultural que estimulava a pensar e a curtir o momento (carpe diem), um estado de espírito que de certa forma enriqueceu Curaçá do ponto de vista da arte. Transitava do rock a músicas regionais.
“Deixe a prova de filosofia para amanhã e vem comer dessa maçã” vai na mesma linha de “o segredo da vida é desfrutar a passagem do tempo” de que fala James Taylor, o que não deixa de ser uma maneira de estimular o bem viver, a boa convivência, o não levar as coisas muito a sério, porque tudo passa, sem pender para a alienação das mentes e para o comodismo ideológico.
Ainda, segundo James Taylor: “Ninguém sabe como chegamos ao topo da colina, mas já que estamos a caminho, também podemos desfrutar do passeio”.
The Fevers perguntavam na década de 1970: “Para que viver assim tão triste, se você perdeu a ilusão?”.
Perder a ilusão e a esperança não significa ter que lamentar, esquecer de que tudo passa, porque virão outros horizontes, outra alvorada, outro amanhecer, outra luz para clarear o caminho.
“Aceitar o que for, colher o dia”, diria Horácio, poeta romano.
Nessas últimas décadas, encontramos muitas maneiras de perder a esperança, mas resistimos às intempéries.
Voltando aos Bichos Escrotos, de Curaçá.
Não estava lá, não estive lá pra ver, curtir, fazer parte na condição de espectador daquela efervescência cultural curaçaense.
Curaçá ganhou com a existência da banda. A arte e a cultura de Curaçá ficaram mais robustas. Redundância necessária.
Essa a formação dos Bichos Escrotos de Curaçá, salvo engano, erros e omissões: Maurízio Bim (guitarra e voz); Lula Pereira (guitarra), Jefferson Luís (baixo) e Fabinho (bateria).
Caminhemos. A prova de filosofia pode ficar para amanhã.
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