
O governador da Bahia Jerônimo Rodrigues (PT) vem alternando momentos de insensatez e sabedoria política.
A insensatez
No que tange à violência que toma conta da Bahia, o governador tem insistido no sentido de que o ex-presidente Bolsonaro é o responsável pelo caos, mormente em Salvador, onde o crime organizado parece querer se instalar definitivamente ou já se instalou.
Em agosto de 2022, ainda em campanha eleitoral, Jerônimo Rodrigues “citou o discurso do presidente da República, Jair Bolsonaro, a favor do livre armamento por parte da população como principal motivo para os índices de violência na Bahia estarem tão altos” (TV Band Bahia/Rádio Band News, 07/08/2022).
Recentemente, em entrevista ao Jornal da Manhã (TV Bahia) por ocasião da morte de um policial federal e alguns meliantes em Valéria, subúrbio de Salvador, o governador responsabilizou Bolsonaro pela situação que, segundo ele, decorre da política armamentista do ex-presidente.
Ora, o governador da Bahia deve saber – e se não souber é uma questão grave – que os traficantes não compram fuzis e outras armas modernas em lojas, tampouco providenciam porte de armas e legalização de posse junto a autoridades de acordo com as exigências de quaisquer políticas de armamento.
As sofisticadas armas do crime organizado entram no Brasil através de voos internacionais, portos fluviais e marítimos, pequenas aeronaves e também através das chamadas fronteiras secas.
É de supor que o governador baiano saiba disto.
Se as autoridades alfandegárias, de fiscalização e de fronteiras não inibem esse tipo de ilegalidade, presume-se que é por negligência, ineficiência, falta de estrutura ou incompetência de seus agentes.
Em consequência, isto não tem nada a ver com política de livre armamento da população, mesmo que discordemos dela e mesmo que discordemos frontal e politicamente das asneiras, delírios, conduta e posição ideológica do ex-presidente Bolsonaro.
Os fuzis que os traficantes empunham nas periferias dos grandes centros urbanos certamente não foram adquiridos legalmente em lojas do ramo comercial específico e de acordo com as normas da política de desarmamento.
Talvez fosse o caso de o governador da Bahia penitenciar-se diante da humildade e reconhecer que os mais de 16 anos de governos petistas de Jaques Wagner, Rui Costa e dele próprio não conseguiram reduzir ou não tentaram reduzir a violência no estado o que, aliás, governadores de outros estados também não conseguiram.
Como se sabe, cuidar da segurança pública é atribuição dos governos estaduais. Cavar outras circunstâncias para justificar falhas do estado no combate ao crime é, no mínimo, laborar em equívoco.
O governador está apequenando sua atuação, ofuscando sua emergente biografia, enveredando pelo lado da mesquinhez ideológica e pavimentando o caminho em direção à mesmice política.
A sabedoria política
Em Curaçá, município do Submédio São Francisco, o governador Jerônimo Rodrigues inaugurou em 16/09/2023 a escola de tempo integral Maria de Almeida Araújo e a Delegacia de Polícia.
A homenagem à educadora Maria de Almeida Araújo, honra e glória de Curaçá, é irretocável, merecida, oportuna e, sobretudo, enriquecedora da educação e cultura locais.
Houve de tudo na festa de inauguração, inclusive um show de deselegância contra o prefeito Pedro Oliveira, eleito pelo PSC, salvo engano, anfitrião que recebeu civilizadamente o governador e seu séquito e que, até por uma questão de educação, deveria ter sido preservado de alguns destemperos verbais, o que somente diminui a lhaneza de quem os disse.
Tirante os correligionários mais exaltados de ambos os lados, ninguém gosta de palavras ríspidas e desvios dos caminhos naturais da civilidade e da convivência sadia.
O evento mais pareceu comício político fora de época e de contexto. Deslustrou a ocasião. Os súditos do govenador fizeram a festa e esqueceram que Curaçá é de todos, independentemente da cor partidária.
Entretanto, neste particular, o governador Jerônimo Rodrigues portou-se com decência e sabedoria política exemplar. Não espinafrou o adversário e prefeito Pedro Oliveira até porque o momento não comportava desavenças.
Por óbvio, não se trata de campanha eleitoral, mas de entrega de obras de fundamental importância para o município. E só. O governo do estado não está fazendo nenhum favor aos curaçaenses.
A atitude, desta vez sensata do governador, merece ser reconhecida.
araujo-costa@uol.com.br