Em Chorrochó, a expectativa de uma possível homenagem à memória do líder político Dorotheu Pacheco de Menezes parece convergir para um estuário de incompreensões.
A cultura e a educação de um povo não dependem necessariamente da vontade ou da forma que cada um, em particular, interpreta a realidade estribado somente no seu ponto de vista.
Educação e cultura se impõem por si sós, de modo que a tradição se encarrega de perenizá-las.
Em 12/09/2023, o deputado Marcelinho Veiga (União Brasil) apresentou projeto de lei na Assembleia Legislativa da Bahia de interesse do município de Chorrochó.
O projeto cuida de denominar Colégio de Tempo Integral Prefeito Dorotheu Pacheco de Menezes a uma nova escola ora em construção em Chorrochó. Como o novo prédio, a princípio, vai abrigar o Colégio Estadual São José, na prática dar-se-á a mudança de nome do São José, embora o projeto não fale em mudança de nome.
Seguem-se o projeto e a justificativa já de conhecimento da sociedade chorrochoense:


E daí?
Daí é que o Colégio Estadual São José estrilou, disse que não foi consultado, manifestou-se contra a iniciativa e reivindicou, para si, a prerrogativa de eventual iniciativa neste sentido.
Diz a comunidade escolar do Colégio Estadual São José: “Projetos dessa natureza devem partir da comunidade escolar através do colegiado escolar e não de terceiros que não mantêm nenhuma relação com o Colégio”.
Do alto de minha ignorância e insignificância não consigo vislumbrar que a iniciativa da homenagem tenha de passar, necessariamente, por quaisquer relações com a instituição.
Procurei saber quais os nomes que integram o colegiado. Constatei que são profissionais respeitáveis, admiráveis e de alto gabarito, elevado preparo intelectual e conhecida história de dedicação ao Colégio Estadual São José, circunstância que os habilita a opinar, discordar, sugerir, vetar.
O fato é que outras pessoas vêm se manifestando sobre o assunto, mas a discussão parece tropeçar entre a tradição (manter o nome do São José) e a homenagem a Dorotheu.
A insigne professora e historiadora chorrochoense Neusa Maria Rios Menezes de Menezes disse que “já esperava por toda essa polêmica”, circunstanciou mui competentemente as bases do Colégio Estadual São José e até se reportou à portaria de estadualização do Colégio assinada pelo então secretário estadual de Educação Eraldo Tinoco.
Prestimosa a interferência, mais que louvável, das ex-alunas da instituição, Margarida Maria Rios Menezes e Lúcia Maria Rios Menezes, que foram fundamentais para evitar que a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC), mantenedora do São José, o extinguisse.
A professora Neusa diz, sabiamente: “o nome em uma parede nunca significou nada para mim”. E dá vivas ao Colégio Estadual São José. Eu também dou vivas ao São José.
Não tenho cacife para meter o bedelho nessa conversa de gente grande.
Sou cria do Colégio São José – e me orgulho disto – admirador de seu corpo docente e desejoso de que a instituição continue educando, estruturando mentalidades e desenferrujando as mentes de nossos jovens, preparando-os em direção ao caminho do bem e da nobreza pessoal e profissional.
De outro turno, sou defensor intransigente das tradições e cultura de Chorrochó e, neste particular, até tenho sido severo algumas vezes ao criticar o descaso das autoridades no que concerne aos alicerces culturais do lugar.
Há algum tempo fiz um movimento no sentido de mudar o nome da Rua Coronel João Sá, na sede, para Rua Dorotheu Pacheco de Menezes. Estávamos na gestão da prefeita Rita de Cássia Campos Souza.
Até hoje não entendo, a história não registra e ninguém me explicou qual a importância do coronel João Sá, lá das bandas de Jeremoabo, para Chorrochó.
Até pessoas da família Pacheco e Menezes foram contra e quem não foi contra ficou em silêncio, o que dá no mesmo.
Não tive êxito. Fiquei falando sozinho para deixar de ser besta.
O fato é que o imponente nome do coronel João Sá está lá, impecável, rivalizando com a humildade de Dorotheu Pacheco de Menezes.
Todavia, parece razoável entender que, no presente caso, em se tratando de homenagem ao fundador do Colégio São José, todos podem contribuir para desanuviar interpretações enviesadas, não misturar alhos com bugalhos e tampouco inserir política partidária nessa discussão, o que apequena o debate.
José Nilson Rodrigues, conhecida liderança polícia de Chorrochó participou do engendramento dessa ideia. Quero crer que sua intenção foi contribuir para engrandecer a história de Chorrochó, sustentar a memória do município.
Entretanto, se Chorrochó continuar nessa toada e nesse nível de descaso com a memória, as próximas gerações sequer ouvirão falar no nome de Dorotheu Pacheco de Menezes e de tantos outros que lutaram para a existência do município.
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