A Justiça da Bahia e o cupim da indecência

Tribunal de Justiça da Bahia

O cupim da indecência está roendo o Poder Judiciário da Bahia.

Há algum tempo não muito distante – anos de 2019 e 2020 –  o Superior Tribunal de Justiça mandou prender alguns magistrados da justiça estadual baiana, incluída aí uma ex-presidente do Tribunal de Justiça, afastou cautelarmente o então presidente do Tribunal e outros desembargadores e alcançou até juízes de primeira instância, todos acusados pela prática de crimes, inclusive venda de sentença e formação de quadrilha.

Um descalabro.

Naquela quadra do tempo, aconteceram senões que envergonharam a Justiça da Bahia e expuseram as vísceras de alguns de seus integrantes, que se desviaram da decência e dos ditames da nobre função jurisdicional e optaram pela delinquência.

Há muito que alguns magistrados da Bahia vêm envergonhando os baianos e não só os baianos, mas todos os brasileiros. É conhecida a tendência de alguns magistrados à delinquência. Poucos, felizmente.

Entrementes, nem tudo está perdido. Isto não chega a contaminar, no todo, a nobre Justiça baiana. Há magistrados sérios, de caráter irrepreensível. Sempre há, certamente a maioria.

Do alto de suas corruptas arrogâncias, esses apequenados magistrados que enveredaram para o crime, certamente deram muitas lições de moral a pessoas humildes que procuraram a Justiça para defesa de seus direitos, enquanto eles se locupletavam de dinheiro sujo, segundo o Superior Tribunal de Justiça.

Aliás, em audiências, passar descomposturas em advogados e pessoas humildes que procuram a justiça, é comum entre magistrados pequenos, insignificantes, arrogantes, avessos à nobreza da judicatura.

A incompatibilidade entre a nobre função de magistrado e a prática de crime afigura-se abismal. Portanto, é inconcebível o desvio moral de magistrado em direção ao crime.

Como acreditar em magistrados que enxovalham suas togas e jogam o caráter no despenhadeiro do crime?

Agora a história é outra, mas não menos vergonhosa.

“Líder da principal facção criminosa da Bahia foi solto no plantão judiciário por um desembargador, num domingo, às 20h42. Quando outro desembargador revogou a decisão já era tarde demais, ele havia desaparecido. É normal? É aceitável?”, pergunta Ricardo Capelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça.

Como se vê, não é normal. Não é aceitável.

Mas, data venia, o traficante não fugiu, não desapareceu. Simplesmente cumpriu ordem judicial e saiu da cadeia.

De tão mal explicada a decisão do desembargador, “o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou a abertura de uma reclamação disciplinar para apurar a conduta do desembargador Luiz Fernando Lima, do Tribunal de Justiça da Bahia, que mandou soltar um dos maiores traficantes do estado” (Veja, 16/10/2023).

Como se vê, Sua Excelência é um primor de bondade.

O que estarrece, em quadro assim, é que a Bahia vem atravessando uma grave crise na segurança pública, de modo que é sabido que organizações criminosas estão assustando a população, ocupando espaços e enfrentando a polícia.  

O Conselho Nacional de Justiça afastou das funções o bondoso desembargador.

Em 2022, em operação desencadeada pelo Ministério Público da Bahia, o juiz aposentado Rosalino dos Santos Almeida, ex-titular da comarca de Paulo Afonso, foi preso acusado de participar de fraudes milionárias e organização criminosa (Diário do Poder, 07/06/2022). Muito triste. 

Na Bahia, cumpre-se o que Rui Barbosa disse:

“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

A Justiça da Bahia precisa extirpar esse cupim da indecência.

araujo-costa@uol.com.br

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