
Antonio Tito Costa (1922-2023), político e jurista, respeitado nas áreas de Direito Constitucional e Eleitoral, ex-prefeito do município paulista de São Bernardo do Campo (1977-1983) e deputado federal constituinte (1987-1990), faleceu em 28/10/2023.
Tito Costa foi o responsável, em parte considerável, pela ascensão nacional de Lula da Silva e seu amigo nos momentos de extrema dificuldade do petista. Chegou a esconder Lula e a família por cerca de 20 dias, em sua chácara, no município paulista de Torrinha, quando a polícia política do general Ernesto Geisel perseguia o então sindicalista.
Na ocasião em que o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) prendeu Lula, Tito Costa não o abandonou.
Quando Lula se debandou para o lado da corrupção, Tito Costa se afastou com uma frase dura: “Decepção. Lula perdeu a chance de ser um operário-estadista. Preferiu outros caminhos” (Diário do Grande ABC, 22/09/2015).
Tito Costa viria a se encontrar com Lula, anos depois do rompimento, em duas ocasiões: na posse do ministro Ricardo Lewandowski no Supremo Tribunal Federal. Lewandowski e Tito Costa eram amigos de muitos anos; a outra, no lançamento da Universidade Federal do ABC.
Nas famosas greves de 1979, quando Lula se despontou e firmou sua liderança sindical e política , Tito Costa cedeu o Estádio Municipal de Vila Euclides para os grevistas se reunirem, em assembleia, sob a liderança de Lula.
Os primeiros contatos de Lula com Tito Costa deram-se em 1976. Lula era dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema e Tito Costa candidato a prefeito. Lula o apoiou e recebeu a retribuição do prefeito três anos depois, nos agitados dias das greves dos metalúrgicos.
O apoio do então prefeito do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) a Lula, lhe custou um chamado a Brasília e uma conversa difícil com o general Golbery do Couto e Silva, todo poderoso ministro chefe da Casa Civil do presidente Geisel e com o chefe da Casa Militar.
Tito Costa contou: “Eles me falaram que eu estava colocando muita lenha na fogueira em São Bernardo. Falei que não, que colocava água na fervura” (Entrevista ao Diário do Grande ABC, 16/07/2018).
O distanciamento de Tito Costa e Lula da Silva deu-se mais por razões éticas do que políticas. Tito Costa achava Lula “inteligente e sagaz”.
Lula da Silva foi receber o título de “Cidadão de São Bernardo” na Câmara Municipal. No momento que foi anunciado o nome de Tito Costa, as galerias repletas de lambe-botas lulopetistas explodiram em vaias.
Entretanto, Lula demonstrou grandeza, gratidão e jogo de cintura. Agradeceu a presença de Tito Costa. O ambiente ficou mais ameno.
Mas Tito Costa tinha uma opinião muito clara sobre o Partido dos Trabalhadores (PT) e os dirigentes petistas: “Ninguém tira da minha cabeça que o PT tinha plano de poder e não projeto de Brasil. Isso foi o Frei Beto quem falou e eu acredito nisso” (Entrevista ao Dário do Grande ABC, 16/07/2018).
A história de idealismo e seriedade da luta sindical de Lula da Silva se foi ficando pelo caminho, despedaçando-se.
A política partidária lhe roeu o idealismo e o colocou na vala comum, igualando-se aos demais do mundo político.
A morte de Tito Costa enterra um pouco dessa história séria de Lula.
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