As estradas de Patamuté

“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes” (Graciliano Ramos, 1892-1953, Vidas Secas)

Amiúdam-se relatos dando conta de que as estradas que permitem o acesso ao distrito de Patamuté estão intransitáveis. Todas elas. Qualquer uma que o usuário escolher vai se arrepender de não ter escolhido a outra.

Situação que não significa nenhuma novidade. Sempre foi assim. Em Curaçá, há precedentes de administradores relapsos, negligentes, preguiçosos, desatentos.

O fato é que se torna difícil chegar a Patamuté, transitar por lá. As estradas estão esburacadas, ruins, difíceis.

O prefeito de Curaçá certamente se espelhou nos antecessores e, pelo que se vê, presume-se que ele entende que está tudo bem em Patamuté.

A título de exemplo, morador de Patamuté informa que o Mercado Municipal está “caindo aos pedaços”, portas danificadas, sem qualquer manutenção, inclusive da pintura.

Como se vê, falta empenho dos líderes políticos locais no sentido de reivindicar, cobrar, cutucar, exigir atenção da Prefeitura.

Quanto à conservação das estradas, trata-se de coisa difícil de acontecer.

E por que não acontece? Porque os homens públicos de Curaçá são politicamente fracos, subservientes, incompetentes. Faltam-lhes altruísmo, vontade de lutar pelo lugar e capacidade de saber exigir. Mais do que isto: consciência de cumprir o dever.

A situação chega a ser constrangedora, dizem relatos mais recentes. Donos de automóveis chegam a carregar enxadas, pás e picaretas, para fazer pequenos reparos nalguns pontos das estradas. Coisa que o poder público tem o dever de fazer, mas não faz.

Os líderes locais se apequenam e contentam-se em tirar fotos ao lado de políticos estaduais e federais com o intuito de espalharem nas redes sociais e mostrar aos eleitores que têm prestígio, de olho nas próximas eleições.

Fotos e imagens de líderes distritais em pré-campanha, ao lado de políticos demagogos, dão um baita resultado: atestado de bajuladores.

A Bahia sempre teve simulacros de governantes, figuras opacas, mesquinhas, preguiçosas, narcisistas, arrogantes, politiqueiras, despreparadas enquanto homens públicos.

O peso dos votos de Patamuté e dos eleitores de todo o distrito é insuficiente para pressionar quem tem o dever de cuidar das estradas do distrito – e não somente das estradas. Se sequer terraplenagem é feita regularmente, imaginemos o que se pode esperar.

A Igreja Católica elevou a gruta de Patamuté à condição de Santuário. Não se sabe de nenhum movimento de autoridades do município para fomentar o turismo e movimentar a economia do lugar, pelo menos em ocasiões de romarias.

Veem-se medidas imediatistas, ínfimas, estanques.

Entre 30 de outubro e 1º de novembro deste 2023 realizaram-se os festejos da Gruta de Patamuté.

E o estado das estradas?

Tapa-buracos e paliativos outros, em ocasiões sazonais, não resolvem, mesmo que sejam feitos anualmente, quando feitos.

Sem nenhuma infraestrutura, em tempo de chuva, os romeiros, turistas e outros que tais enfrentam lamaçal, atoleiro; em tempo de seca, poeira, solavancos.

Todavia, o charme de Patamuté reside em suas dificuldades, porque o povo precisa viver e outra maneira não há, senão viver em meio às dificuldades.

Mas nos resta a esperança nos jovens de Patamuté, futuros líderes. E esperança nos professores de hoje, que iluminam os caminhos desses jovens.

As gerações passadas fracassaram. Os sonhos não fracassaram.

Um dia Patamuté chegará ao seu destino.

Basta refletir na hora de votar.

E o que tem a ver a frase acima de Graciliano Ramos com as estradas de Patamuté?

Nada. Apenas saudade da caatinga.

araujo-costa@uol.com.br

Deixe um comentário