Patamuté se despede de Mundinho

Mundinho e Rosângela Brandão/Álbum da família

Raimundo Brandão Filho (Mundinho) sempre esteve rodeado de familiares, amigos e admiradores. Exemplo de dignidade, pisou com altivez o chão poeirento e garranchento da realidade do sertão.

Mundinho morava na Fazenda Almeida, nas redondezas de Patamuté, salvo engano. Em tempo de memória esburacada, às vezes chego a confundir datas, lugares, pessoas.

Por lá se acostumou com o gibão, guarda-peito e chapéu de couro, parte de sua indumentária de vaqueiro. Manuseou estribo e sela e definiu seu viver com fundamento na simplicidade, decência e honradez.

Mundinho enfrentou a quentura da caatinga, os percalços da vida sertaneja. Cuidou de seus animais, de sua labuta diária, do seu cotidiano de proprietário rural.  

Constituiu e criou família decente e respeitada.

Lutou, tenazmente, na condição de homem do campo, da fazenda. Sustentou sua moral irrepreensível, transmitiu educação e conhecimento à família, incluídos aí netos e demais da descendência.

Mundinho observou o nascer do sol e o crepúsculo, viu a lua que amenizava a noite, clareava a escuridão e suavizava o viver sertanejo. Levantou com a alvorada e cantar dos pássaros.

A esperança do sertanejo se fortalece no alvorecer e nas dificuldades do caminhar.

Mundinho viu as árvores ressequidas em tempo de seca e terra esturricada, alegrou-se com o verde em tempo de chuva, admirou a água que saciava a vida e a sede de seu criatório.

Já se vão, por aí, algumas décadas. Minha geração aprendeu a admirar as pessoas boas, honestas, de bom caráter. Lembro Mundinho, José Brandão, João Brandão, Bonfim, Pedro, Manu e outros tantos que já se foram e faziam parte dessa admiração que todos nós tomávamos como exemplos de vida.

Admirávamos também as mulheres que faziam parte da família desses homens, enfeitavam os lares e amparavam a educação de seus filhos. Elas eram os esteios que os sustentavam na labuta diária.

Mas tudo chega ao fim. É o mistério inarredável da vida e da morte.

“É morrendo que se vive para a vida eterna”, segundo o ensinamento de São Francisco. A fé nos dá esse bálsamo nos momentos de crueldade da despedida.

Beirando um século de vida (1929-2023), Mundinho partiu para a distância inalcançável rumo à eternidade. Seu adeus deixou saudade.

Que Jesus Cristo, redentor do mundo, lhe indique o caminho e Deus o ampare.  

Deixo pêsames à família.

araujo-costa@uol.com.br

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