Livros, reflexões e esquisitices

“Livro é como banana na feira. Se o feirante não anuncia, o freguês não compra”. (Sebastião Nery)

Em 1987, quando lancei Fragmentos do Cotidiano que, modéstia à parte, foi bem recebido, escusei-me a publicar qualquer notícia sobre o lançamento, de modo que até amigos próximos somente tiveram conhecimento meses depois, o que, convenhamos, faz parte de minhas esquisitices.

Já se vão, por aí, 36 anos.

Há muito no forno da memória, uma espécie de prelo mutável, pretendo publicar em ano ainda não definido, se vivo for, Diálogo dos Sinos – artigos, crônicas, observações.

Demorei fazê-lo. Hoje, mais maduro (ou seria mais velho?), um tanto capaz de discernir as coisas, acho que será o momento de deixar algum registro mais completo, um cenário de minhas andanças, de meus tropeços e de minhas maluquices.

O jornalista Sebastião Nery, que entende tudo do que é possível entender de livros, cunhou a frase segunda a qual “livro é como banana na feira. Se o feirante não anuncia, o freguês não compra”.

Então, na ocasião própria, deverei anunciar o lançamento, não com o intuito de vender alguns e poucos exemplares, propriamente, mas para que amigos leitores e leitores amigos tenham conhecimento e, se quiserem, leiam.

Pode ser que alguns raros abdiquem de um pouco de tempo, lendo-o e criticando.

Não recomendo meus escritos. Nunca o fiz. Acho-os às vezes confusos, outras vezes ácidos e outras tantas ingênuos.

Ainda assim, alegro-me em saber que muitos gostam de ler o que escrevo. Alguns já disseram que me falta estilo. Sei disto.

Sou um caso perdido. Talvez o único escrevinhador que não recomenda a leitura do que escreve.

Escrevo para dialogar com a minha alma e não por diletantismo ou vaidade.

E isto me tem feito bem.

No ofício de escrever, lembro sempre de algumas frases conhecidíssimas de escritores famosos.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): “Só escreva quando de todo não puder deixar de fazê-lo. E sempre se pode deixar”;

Ernest Hemingway (1899-1961): “Procure lembrar-se dos ruídos e do que eles lhe dizem. Então, escreva sobre eles da maneira mais clara possível para que o leitor tenha o mesmo sentimento que você”;

William Faulkner (1897-1962): “Se a gente perde muito tempo se preocupando com o estilo, acaba não sobrando nada, além do estilo”;

Rachel de Queiroz (1910-2003): “Não gosto de escrever. Escrever é um sacrifício”;

Dionísio Jacob: “Eu acredito que o que leva alguém a escrever é uma necessidade profunda de dar expressão a uma voz interna. Seu foco é sempre o teatro da alma. Tudo aquilo que fala à alma pode inspirar ou motivar um texto”.

E por último, a frase que li muitas vezes em minha mocidade, mas não me recordo o nome do autor. Fernando Sabino também nunca o citou, ou porque não sabia ou porque, de tanto conversar consigo e com os outros, acabou esquecendo:

“O escritor é um homem que passa a vida conversando consigo mesmo. Só há uma verdadeira vantagem em envelhecer: é que, com o correr do tempo, a conversa vai ficando cada vez mais interessante”.

Quem escreve fica esgueirando-se entre cristais para não dizer besteiras, cometer ofensas, produzir polêmicas desnecessárias e aguçar incompreensões.

Hoje, tempo de tanta idiotice, inclusive do “politicamente correto”, qualquer deslize pode ultrapassar o âmbito da gafe e enveredar-se para a esfera da ofensa. É muito tênue o fio entre o que é certo e o que os outros acham que é o certo.

Todavia, o que mais gratifica no espinhoso ofício de escrever é o interesse demonstrado por algumas pessoas sobre o que escrevemos.

Mesmo que o escritor não seja famoso – e este é o meu caso – mas seja um sonhador incorrigível, um utópico que rema contra a maré do impossível, uma palavra sua pode servir de despertar.

E neste caminhar, é imperioso contribuir para que os jovens não descambem para o abismo da alienação e da mediocridade. É preciso mantê-los acordado para o mundo, mostrar-lhes a beleza da vida sem drogas, sem violência, sem agressão à sociedade.

Há muito venho torcendo que algum dia apareça um prefeito em meu município baiano de Curaçá, que goste de valorizar a cultura e se dê à grandeza de construir uma biblioteca pública em Patamuté e também nos outros distritos, se ainda não tiverem.

Em Patamuté e em particular, tenho interesse nisto.

Até sugiro o nome: Biblioteca Professora Beatriz Gonçalves dos Reis Gomes.

araujo-costa@uol.com.br

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