Jornalismo, amizade e infortúnio

Dezembro de 1968, dia 13.

O marechal Arthur da Costa e Silva, segundo presidente do movimento de 1964, editou o Ato Institucional número 5, o AI-5, que suprimiu, barbaramente, a liberdade no Brasil.

O jurista, professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e ministro da Justiça Luís Antonio da Gama e Silva redigiu o macabro texto do Ato 5.

Naquele 13 de dezembro de 1968, no Palácio Laranjeiras, Rio de Janeiro, o regime militar passava a ter o poder de fechar o Congresso, cassar mandatos eletivos, suspender o habeas corpus para crimes políticos e confiscar bens. Começava aí o período mais duro da ditadura.

Uma escuridão baixou sobre as instituições nacionais e a ditadura tornou-se mais forte e cruel.

O governo dito revolucionário começou a determinar uma série de prisões de opositores, dentre intelectuais, jornalistas, estudantes, militantes de partidos políticos et cetera.

Um dia, a polícia do Exército prendeu Joel Silveira, sergipano de Lagarto, uma das maiores expressões do jornalismo da época, que escrevia nos Diários Associados, de Assis Chateaubriand.

Joel Silveira/Companhia das Letras

Joel era amigo de Carlos Heitor Cony, também jornalista e opositor do regime militar, mais tarde biógrafo de Juscelino Kubitscheck, membro da Academia Brasileira de Letras e articulista da Folha de S.Paulo.

Joel foi colocado numa cela do Batalhão de Guardas, no Rio.

– Sozinho eu não fico nesta joça. Vão buscar o Cony.

Os soldados saíram à procura de Carlos Heitor Cony e o encontraram a caminho da praia de Ipanema.

– O senhor está preso.

Levaram Cony para o Batalhão de Guardas e o colocaram na cela com Joel. 

– Poxa, Joel. Você me dedurou. Estava indo com uma morena para a praia.

– Não estrila, Cony. A vida aí fora está muito difícil. Vamos descansar aqui uns dias.

Ficaram presos e fizeram amizade com a polícia.

Carlos Heitor Cony/Ermira

Joel falou com Magalhães Pinto, dono do Banco Nacional e líder civil do movimento de 1964, para conceder empréstimos aos soldados que viviam numa pindaíba danada.

Dizia Carlos Heitor Cony que foram “as prisões mais avacalhadas” da ditadura, a dele e a de Joel. 

Joel e Cony eram amigos até no infortúnio.

araujo-costa@uol.com.br

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