O vice-prefeito de Curaçá e outros assuntos

Quaisquer que sejam eles, os vices parecem estar em qualquer lugar, mas não estão em lugar nenhum. São uma espécie de limbo ofuscado pela atuação do titular.

Os vices vivem em permanente e estranha expectativa.      

O jornalista Sebastião Nery, baiano de Jaguaquara, tem uma lapidar definição para os vices: “São como os ciprestes, crescem à beira dos túmulos”. 

Inobstante razoável a observação, acho que Sebastião Nery foi cruel demais. É exceção o vice crescer em razão da morte do titular. Quase sempre desabrocham sustentados em circunstâncias outras e até por liderança própria que chegam a cavar com sucesso, mesmo à sombra do titular.

Quando não há rusgas ou desconfianças, titulares os escolhem para exercerem funções no Executivo. Assim acontece nos âmbitos municipal, estadual e federal.

Não deixa de ser uma forma de apadrinhá-los com salários e mordomias do cargo. Como dizia o político paraibano José Cavalcanti, de São José de Piranhas,”dinheiro por onde passa amolece”.

Em nossa combalida República, o esperto presidente Lula da Silva – que entende tudo de malandragem política – escolheu o vice-presidente Geraldo Alckmin para ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Assim, Lula o segura como subordinado – enquanto ministro – e o mantém nas rédeas ao seu redor, evitando que lhe cresçam as asas de vice e passe a voar por aí, traindo a torto e a direito na penumbra da esperteza.  

O lulopetismo até hoje não engoliu a conduta de Michel Temer, vice de Dona Dilma Rousseff a quem acusa de traidor. Coisas da política.

Há os vices que traem e engendram estratégias para dificultarem o cargo do titular, o que nem sempre dá certo, mas há vices leais, absolutamente leais.

Em Curaçá, município baiano do Submédio São Francisco, o prefeito Pedro Oliveira nomeou o jovem bonfinense e seu vice-prefeito Adriano Araújo para secretário da Saúde.

Salvo engano, continua secretário. 

Dizem entendidos em assuntos do município, que o prefeito está preparando o vice Adriano Araújo, de 32 anos, para sucedê-lo, embora outros nomes próximos ao alcaide e de sua predileção também estejam no páreo. Há pretendentes por todos os lados. A rapadura é doce.

Tentei contato  com o vice-prefeito Adriano Araújo para fazer uma matéria neste blog sobre sua atuação na Secretaria e pretensões políticas, mas ele não deu retorno.

Silêncio ou recusa dá na mesma.

Pressuponho que a fama de Sua Excelência não lhe permite conversa com este insignificante curaçaense de Patamuté. Ou anda muito ocupado com a saúde do município, o que é louvável e não deve ter tempo para desperdiçar em conversas.

Entretanto, minha diminuta inteligência me permitiu pressupor que o silêncio resultou da subida posição que Sua Excelência ocupa no contexto político de Curaçá.

A sabedoria mineira diz que ninguém sabe o que calado quer. Assim, parece haver uma incompatibilidade entre prepotência e política, de modo que o político sábio é o que expõe suas ideias, lançando-as ao crivo da população e submetendo-as às críticas.

Mesmo que suas ideias se dissipem como cinzas ao vento, o político precisa ostentá-las, torná-las conhecidas. Ou terá voo curto.   

Sondei alguns amigos de Curaçá para colher impressões e inteirar-me sobre Sua Excelência o vice-prefeito e um desses amigos ponderou: “Não perca tempo com isto. Você não tem o que fazer aí”?

Tenho.

De qualquer modo, acho que o vice-prefeito de Curaçá tem mais o que fazer do que perder tempo em conversa com jornalista.

araujo-costa@uol.com.br

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