Traços dispersos de Curaçá e a professora Dionária Ana Bim

Maurízio e Dionária em foto de 2022 – Lançamento da 2ª edição do livro Barro Vermelho – Memória e Espaço, de autoria do filho jornalista/Crédito Maurízio Bim

Não sou memorialista, nem historiador. Faltam-me qualidades, esmero, dedicação, habilidade para discernir e observar a pureza dos fatos.

Entretanto, costumo rememorar acontecidos, pessoas, lembranças, episódios. Mais impulsionado pela saudade  e em gratidão às amizades com as quais mantive convívio nalguma quadra do tempo do que, propriamente, com o intuito de perenizar minhas opiniões que nada ou pouco importam.

O escritor e jornalista  baiano Raimundo Reis dizia, um tanto irônico: “Quem fala muito do passado é sinal que está ficando velho”.

É uma verdade que não se pode contestar.

Jovens, por óbvio, não têm muito o que contar, as reminiscências ainda não se firmaram, a memória está arejada pelo vigor da mocidade e sede de absoluto própria da juventude.

Os velhos têm o que contar, também por uma obviedade inarredável: a experiência, em razão da passagem do tempo, os idos, os vividos, a sequência de quedas e tropeços.

A poeira da estrada costuma ofuscar a caminhada, mas é eficiente ao marcar as intempéries, as lembranças, as saudades.

Nessa toada do caminhar, parece razoável entender que devo ter alguma coisa pra contar. Já alcancei os 72 anos, tempo suficiente para aproveitar o que os buracos da memória retêm e ainda me permitem lembrar.

Já me sinto em queda livre em direção ao despenhadeiro da finitude inevitável. As décadas de vida parecem assim atestar, o que não significa a abdicação dos sonhos, ainda relutantes, teimosos, insistentes.

Fraquejar jamais.

Hoje lembro Dionária Ana Bim, minha professora no Colégio Municipal Professor Ivo Braga, em Curaçá. À época muito jovem, embora preparada intelectual e profissionalmente.

Dionária foi educada sob a notável batuta da mãe Maria de Lourdes Lopes (Maria de Fortunato) e do pai Expedito, decentes e honrados em Curaçá.

Maria de Fortunato tinha clareza ao entender a educação como esteio que sustentava a grandeza e o caráter. Olhar atento de águia e sabedoria gigante, Maria alternava momentos de rigidez e ternura.

Em Salvador, Dionária estudou no tradicional Instituto Central de Educação Isaías Alves-ICEIA e já formada por lá foi ensinar Matemática em Curaçá.

Dionária constituiu família nobre. Tem filhos. Arrisco-me a citá-los: Mauro, João e Maurízio. Se omito algum nome, penitencio-me em razão da falha, da imprudência e da gafe.

Sobre Maurízio Bim, tenho a honra de dizer que sou seu amigo, embora apoucado. Considero-o muito e sempre lhe desejei êxito em suas façanhas e empreitadas, o que, aliás, ele sempre alcançou em tudo que decidiu fazer.

Guardo boas recordações da professora Dionária. O gosto pelas coisas sérias, a arte de direcionar o espírito para a investigação do conhecimento e, sobretudo, a humildade e o sorriso encantador.

A honra maior é ter sido seu aluno.

araujo-costa@uol.com.br

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