
O político cearense Armando Falcão foi ministro da Justiça e dos Negócios Interiores de Juscelino Kubitscheck, o presidente mais democrata que o Brasil conheceu até os dias de hoje.
Entretanto, contraditoriamente, Armando Falcão foi, durante cinco anos, ministro da Justiça do general Ernesto Geisel, quarto presidente da ditadura militar de 1964.
Em tempo de ditadura, Armando Falcão ficou conhecido como ministro do “Nada a Declarar”, porque assim se expressava toda vez que a imprensa lhe perguntava sobre assuntos do governo, escabrosos ou não.
Outubro de 1954. Armando Falcão se candidatou a governador do Ceará pela coligação PSD/PSP. Em campanha, chegou a uma cidade para comício previamente combinado.
Tudo pronto. Palanque, som, microfones testados. A praça vazia, completamente vazia.
Armando Falcão chama o organizador do comício e pergunta: “Cadê o povo?”.
Resposta imediata: “Ora, seu Armando! Se eu tivesse poder para trazer o povo, o candidato seria eu e não o senhor”.
Maio de 2024. O presidente Lula da Silva chega a São Paulo para o evento do Dia do Trabalhador, ambiente em que ele se sente à vontade, ou, pelo menos, se sentia à vontade.
Tudo pronto. Palanque gigantesco montado na zona leste da capital, microfones, alguns puxa-sacos circulando, o vice Alckmin com boné da CUT e cara de freira contemplativa, a praça vazia, algumas poucas pessoas presentes.
A “multidão” lulopetista não chegava a 2 mil pessoas num espaço escolhido e destinado a receber dezenas de milhares, segundo parte da imprensa mostrou e a GloboNews escondeu, porque Lula está despejando milhões em publicidade no Grupo Globo para falar bem do governo.
Somente de janeiro a outubro de 2023, Lula despejou no Grupo Globo R$ 66,18 milhões a título de verba publicitária (Veja, 17/11/2023).
Com uma generosidade assim, está explicado porque a jornalista Eliane Cantanhede qualifica Lula da Silva de gênio e Miriam Leitão diz que a inflação está alta, mas “é bom”.
Talvez Mirim Leitão seja a única jornalista do mundo que diz que inflação alta é boa para a sociedade.
Diante do fiasco de público, Lula da Silva, que costuma falar para milhares, se irritou e quis saber: Cadê o povo?
Ninguém conseguiu explicar. Lula cobrou em público explicação do ministro Márcio Macedo que, dentre outras atribuições, cuida dos movimentos sociais.
Márcio Macedo é o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, o mesmo que usou de dinheiro público para que três assessores o acompanhassem no Carvanal fora de época em Aracaju (SE) e se justificou pela farra à custa dos impostos que os brasileiros pagam: “Foi um erro formal”, disse o ministro folião.
Então, tá.
Experiente, Lula disse que o evento de 1º de maio foi mal convocado. As centrais sindicais silenciaram e o fato é que o povo não compareceu.
Lula tinha razão. O povo escafedeu.
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