Em 1979, tempo de feroz ditadura, o poeta e diplomata Vinicius de Moraes e Toquinho encontraram uma forma de xingar os militares, sem que eles percebessem. Compuseram a canção A tonga da mironga do kabuletê.
Segundo os entendidos em linguagem africana e do candomblé inclusive, tonga é terra distante destinada à lavoura, mironga é feitiço e kabuletê é indivíduo desprezível, reles, sem importância.
Confusa, mas esta era a explicação de Vinicius de Moraes. Os militares nunca perceberam o xingamento. Toquinho ainda está por aí, vivíssimo da silva e pode confirmar ou desmentir este insignificante cronista.
A expressão assemelha-se ao “vá plantar batatas” ou coisa pior, que para bom entendedor basta. Segundo as estatísticas, este blog também é lido por menores e estudantes e não fica bem traduzir ao pé da letra, o significado da expressão “Vá para…
Deixa para lá.
Em 10/05/2024, Lula da Silva esteve em Teixeira de Freitas (BA) para inauguração do Hospital Estadual Costa das Baleias e um prédio da Universidade Federal do Sul (UFSB).
O presidente estava acompanhado do governador do Estado e dos ministros da Educação (Camilo Santana), da Saúde (Nísia Trindade) e da Casa Civil (Rui Costa).
O prefeito de Teixeira de Freitas (União Brasil) não estava presente e Lula da Silva se irritou. Achou uma “falta de respeito” do prefeito que “tinha que ter vergonha”, devia estar lá ao seu lado, agradecendo e coisa e tal.
Convenhamos. Se o prefeito não compareceu em razão de justificável impossibilidade, é “engolível”, tudo bem. Mas se não o fez por questões políticas e ideológicas, errou redondamente, até porque o União Brasil tem ministros no governo, faz parte do governo.
Se não justificada, a ausência do prefeito é, no mínimo, uma indelicadeza. Primeiro, porque seu partido, o União Brasil, faz parte do governo; e, segundo, porque as obras são públicas e não de Lula ou do governador Jerônimo.
Como a Bahia é um escancarado feudo petista desde 2007 – Jaques Wagner (2007-2015), Rui Costa (2015-2023) e o atual Jerônimo Rodrigues – Lula da Silva queria unanimidade política na inauguração. É próprio de Lula.
O deputado federal Paulo Azi, presidente estadual do União Brasil, classificou as falas como “agressões e lamentou que o petista tenha utilizado um ato institucional como palanque político” (O Antagonista, 10/05/2024).
Lula “usou o evento como palanque”, disse Paulo Azi. O deputado não devia estranhar, “está por fora”. É o que Lula sabe fazer com inegável eficiência. Lula sempre foi assim.
Lula adora microfones e paparicos. Diante deles, dispara dislates e despautérios a torto e a direito e ainda há os “súditos” que aplaudem.
Em tempo de tantas incompreensões neste insensato matagal político, não se sabe se Lula mandou o prefeito para a tonga da mironga do kabuletê ou foi o prefeito Marcelo Belitardo (União Brasil) que mandou o presidente.
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