Reflexões de outono

“Toda saudade é uma espécie de velhice. É por isso que os olhos dos velhos vão se enchendo de ausências” (Rubem Alves, 1933-2014).

Início da noite, quando o burburinho do ambiente profissional já se havia dissipado, um amigo pondera, entre confuso e reflexivo: Deve haver explicação para tantos tropeços que enfrentamos na vida.

Para não deixá-lo desapontado, concordei, embora sem nenhum condição de concordar ou discordar. Deve haver, sim. Mas são explicações que não conseguimos explicar.

Às vezes no decorrer da caminhada falta coragem e sobra medo de enfrentar os tropeços. Quase sempre. É por isto que vamos deixando vácuos pelo caminho, lacunas não preenchidas, dúvidas, reticências, arrependimentos, saudades, arrogâncias.

Cora Coralina (1889-1985) foi além: “Devia ter tido a coragem que me faltou e não devia ter tido o medo que me sobrou”.

Chega o outono inevitável, o período da maturidade, o tempo de grisalhar. Até os sonhos às vezes fracassam e caem, à semelhança das folhas e se esvoaçam em direção à distância.

Recebo notícia crudelíssima dando conta de que uma amiga de Chorrochó está muito doente, enfrentando dificuldades nesta sua quadra outonal da vida.

Estou com saudade. “Olhos se enchendo de ausência”.

Tempo de descer ao pé da escada para refletir, sem perder a coragem de elevar a humildade ao último degrau, pedir desculpas, chorar.

araujo-costa@uol.com.br

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