O compadrio em política e administração pública se faz presente em nossa história há séculos.
A ineficiência do serviço público deve-se, quase sempre, ao inchaço da máquina administrativa, geralmente ocupada por pessoas despreparadas, a maioria delas içada aos cargos por seus padrinhos políticos.
É comum o chefe do Poder Executivo (prefeito, governador, presidente da República), no início de seu mandato, abarrotar as páginas da imprensa oficial com atos nomeando pessoas suas ou indicadas por correligionários seus.
E nessa leva, vão os cargos de confiança, geralmente ocupados por pessoas absolutamente despreparadas para exercer qualquer função pública. Todavia, são apadrinhadas porque prestaram favor aos políticos em suas bases e campanhas eleitorais.
Há casos em que até tais procedimentos passam a frequentar as páginas do folclore político nacional.
Durante a ditadura de Getúlio Vargas, o Estado Novo (1937-1945), o presidente nomeou Vitorino Freire, político pernambucano, para interventor no Maranhão, cargo equivalente ao de governador.
Vitorino tinha um compadre a quem lhe devia favores eleitorais. Chamou-o ao Palácio dos Leões, sede do governo estadual.
– Compadre, já lhe nomeei professor de grego no Ginásio Estadual, aqui em São Luís.
– Que é isso compadre? Mal sei ler português, nunca vi uma palavra grega.
– Não tem importância. Como a disciplina é optativa, não há nenhum aluno matriculado.
Todo mês o compadre do interventor comparecia ao Ginásio Estadual para assinar o ponto e habilitar-se para receber os vencimentos. Sem conhecer sequer o vocabulário grego.
Um dia foi comunicado pela direção do Ginásio que um aluno havia se matriculado para estudar grego. Ficou em pânico. Foi ao Palácio, falar com o amigo governador.
– Compadre tem um aluno matriculado. O que faço?
– Tinha. Não tem mais. Já mandei prendê-lo. Um sujeito que quer estudar grego aqui em São Luís é doido ou comunista.
E o compadre continuou professor de grego.
Juscelino Filho, ministro das Comunicações de Lula, foi indiciado pela Polícia Federal por desvios de verbas públicas, em benefício próprio, enquanto deputado federal pela União Brasil do Maranhão.
A imprensa já havia noticiado a maracutaia, exaustivamente, envolvendo verbas provenientes de emendas parlamentares e atreladas à CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).
“Juscelino foi indiciado sob suspeita dos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, falsidade ideológica e fraude em licitação”.
O presidente Lula da Silva encontrou uma brecha para manter o ministro no governo, não obstante o indiciamento: sinalizou que só o demite se a Procuradoria Geral da República apresentar denúncia ou o próprio ministro pedir para sair.
Como no tempo de Vitorino Freire, a política de compadrio não mudou.
É assim nos governos de direita. É assim nos governos de esquerda.
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