
“Sonhador é aquele que percebe a aurora antes dos outros” (Oscar Wilde, escritor e dramaturgo irlandês, 1854-1900)
O cronista se perde e se acha, quase sempre tropeça na memória e o faz em razão das saudáveis armadilhas tramadas por seu principal instrumento de observação: o cotidiano.
É sobre o cotidiano que o escrevinhador se debruça em momentos de reflexão para rememorar fatos, pessoas, circunstâncias, quadras históricas e até, em certas ocasiões, rir-se de si mesmo.
Já vai longe no tempo em que os amigos mandavam cartas dizendo sentir saudades, rememorando fatos, dando e pedindo notícias, reclamando ausências.
Hoje, quando muito – e se ainda são amigos – mandam e-mails ou, brevíssimas mensagens para não arranhar fragmentos do tempo dedicado ao seu mister diário.
Adequamo-nos todos à exiguidade e às exigências do tempo.
Certa vez um senhor me disse que meus textos são longos demais. Só faltou me chamar de jurássico, ultrapassado, descontextualizado da linguagem da internet e das redes sociais.
O tempo, hoje, chega a ser mais importante do que as amizades. É o perseguir constante dos objetivos que todos pretendem alcançar.
Em 12/03/2018 recebi um simpático e-mail de Omar Dias Torres (Babá), já carregando nos ombros alguns anos bem vividos.
Prezo muito esse ilustre curaçaense Babá. Sujeito de boa estirpe, linhagem exemplar, caráter irrepreensível.
Guardo, com zelo e cuidado o e-mail de Babá e aprendi muito com aquelas bem traçadas linhas.
Num certo trecho, ele dizia que discorda de algumas posições deste escrevinhador, o que se afigura muito saudável.
“O fogo da rebeldia juvenil que ainda arde em mim, me leva, por vezes, a discordar de algumas posições por você defendidas. Mas também é imperioso ressaltar que o faço com respeito e merecida reflexão, prevalecendo sempre a convicção de que na minha contabilidade ainda tens imenso saldo positivo”.
Honra-me o saldo positivo que ainda tenho a haver na contabilidade do amigo Babá.
Espero que este saldo tenha aumentado nesses seis anos que nos separam de março de 2018, operadas as somas e subtrações imperiosas.
Memorialista imaginoso, mais adiante Babá se referia ao tempo do Jornal Asa Branca, de Curaçá e ao programa Nossa Presença que ele apresentou durante algum tempo na Emissora Rural, de Petrolina:
“O sonho e a luta pela construção de um mundo mais justo, que poderia começar por Curaçá, ainda sobrevive em mim. Só gostaria de parar no dia que existir uma sociedade onde todos tenham direito ao mesmo ponto de partida, deixando que a capacidade e o esforço de cada um determinem o seu ponto de chegada. Uma sociedade onde não mais existam poucos com muito e muitos com pouco ou mesmo sem nada”.
Também concordo.
Ao final, Babá saiu-se com esta: “Chego aos 70, insistindo na juventude”.
Como se vê, um jovem sonhador.
Antever a alvorada fez parte dos sonhos de minha geração. O problema é que outros a enxergaram primeiro e conseguiram ofuscar o caminho.
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