
O cronista costuma enveredar por caminhos aparentemente desnecessários.
Isto pode significar prolixidade na construção dos meandros de sua escrita ou, quase sempre, desvio estratégico do caminho.
Esse desvio dá-lhe segurança para seguir em frente rumo ao que pretende dizer. E o dizer nem sempre é fácil dizer.
Por conseguinte, o cronista acaba se transformando involuntariamente em memorialista, outras vezes em historiador arrevesado, noutras tantas em narrador ocasional. É o caso deste escrevinhador incapaz e titubeante, mas persistente e até, em certos casos, petulante com as coisas da escrita.
Mesmo assim, vamos lá. Antigamente, embora não muito antigamente, havia o curso primário, sequenciado pelo ginasial e, em seguida, vinha o colegial. Mais tarde, o ginásio e o primário se uniram dando lugar ao formato tal como existe hoje, salvo engano.
Entre primário e ginásio espremia-se o curso de admissão ao ginásio, que correspondia ao quinto ano primário, uma espécie de preparatório para ingresso no curso ginasial.
Faço esta digressão, aparentemente desnecessária – e quiçá errada – para dizer que no Colégio Normal São José, em Chorrochó, dentre as outras disciplinas, havia ensino da Língua Francesa, que mais tarde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação aboliu, extirpando-a da grade curricular.
Estudávamos também educação moral e cívica e organização social e política, além das conhecidas disciplinas de praxe.
Um parêntese: a turma da esquerda radical do Brasil faltou a todas as aulas de educação moral e cívica. Se as tivesse frequentado, hoje o Brasil não estaria olhando pelo retrovisor da História, repetindo os mesmos erros barulhentos do passado. Mas esta é outra história. Deixa pra lá.
Município novo, nesse tempo Chorrochó ainda vivia às voltas com a construção de suas estruturas, fincando os esteios das instituições locais. E o São José nascia auspicioso e altaneiro, orgulho da sociedade local, de professores e estudantes.
Construía-se também o caminho de uma juventude esperançosa, alegre e sonhadora.
O Colégio São José teve como embrião o Ginásio Municipal Oliveira Brito, fundado pelo líder Dorotheu Pacheco de Menezes em 08 de fevereiro de 1963.
Já se vão, por aí, mais de seis décadas, suficientes para que as autoridades que cuidam da cultura e da história de Chorrochó tenham esquecido o nome de Dorotheu.
Naquele mês de fevereiro aconteceu o primeiro exame de admissão ao ginásio, que acolheu os alunos oriundos do curso primário, formou-se o pioneirismo e deram-se passos seguros em direção à solidez da educação de Chorrochó.
A primeira turma do São José compunha-se de 13 alunos: Antonio Ribeiro da Silva, Cleonice Félix dos Santos, Creuza Félix dos Santos, Etevaldo Barbosa Ribeiro, Elza Maria de Menezes, Helena Barbosa Ribeiro, Isabel Barbosa de Carvalho, João Bosco de Menezes, João Pacheco de Menezes, José Evaldo de Menezes, Maria Edite Soares, Maria Eloiza Ribeiro e Oneide Carvalho Santos.
Ainda estão por aí, vivos, graças a Deus, alunos daquela primeira turma, para não deixarem este cronista se perder na memória e escrever besteiras. Por exemplo, Elza Maria de Menezes.
A professora titular da cadeira de francês numa ocasião era Maria Joselita de Menezes, que mais tarde ingressou no Ministério Público da Bahia – aposentou-se em 1991 – e vinha de uma rica história de contribuição à causa de Chorrochó, inclusive na Câmara Municipal.
Maria Joselita de Menezes ensinava francês, equilibrando-se entre seu dever de ensinar e a compreensão de que nós, seus alunos, muitos oriundos da zona rural, não tínhamos pendor para aprender a língua de Voltaire, o perspicaz defensor das liberdades civis de seu tempo.
De minha parte, caatingueiro de Patamuté, ainda hoje não aprendi a pronunciar qu’est-ce que c’est, mas não atribuo nenhuma culpa à diligente e rigorosa professora Maria Joselita de Menezes, que todos os ginasianos admiravam.
O certo é que a professora Maria Joselita de Menezes exerceu dignamente seu mister de mestra de francês e de outras disciplinas e ajudou a escrever a história do Colégio São José, que veio se estadualizar somente em fevereiro de 2002.
O progresso e a falta de criatividade derrubaram os históricos alicerces físicos do Colégio, mas permanecem intactos os esteios de suas bases culturais.
A referência à insigne mestra Maria Joselita de Menezes será sempre oportuna para atapetar a história daquele tempo.
Foi lá que o Colégio São José direcionou os sonhos de grande parte da juventude daquela época rumo ao futuro.
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