Os respiradores de Rui Costa e a Polícia Federal de Lula

Ministro Rui Costa/Ricardo Stuckert, Presidência da República

“Eu quero garantir ao senhor, presidente Lula, esta Polícia Federal, hoje, toda ela, está a serviço de uma única causa, que é a sua causa” (Flávio Dino, então ministro da Justiça e Segurança Pública, Metrópoles, 05.09.2023).

Mais claro do que isto, só isto.

A imprensa publicou exaustivamente esta fala de Flávio Dino, então ministro da Justiça e da Segurança Pública do ainda novel terceiro governo de Lula da Silva.

Estarrecedor. As ditaduras começam assim: aparelhando as instituições.

Contudo, para não ficar muito escancarado e feio, Flavio Dino deu-se conta da revelação e acrescentou que a PF também está a serviço do Brasil e da sociedade, o que, aliás, é atribuição dela e nem precisava ele dizer.  

Estrambólico é a Polícia Federal defender a causa do presidente da República, qualquer que seja ele.

A Polícia Federal é instituição de Estado e não de Governo.

Matéria do jornalista Cláudio Humberto (Diário do Poder, de 02.08.2024) nos remete à fala de Flavio Dino.

Ei-la, entre aspas:

“O ministro da Casa Civil e ex-governador da Bahia Rui Costa não foi incluído entre os 34 mandados de busca e apreensão cumpridos nesta quinta (1º) pela Polícia Federal, na investigação da compra de respiradores durante a pandemia de covid-19.

O governo de Costa, na Bahia, pagou R$ 48 milhões a Hempcare, empresa de derivados de maconha, por 300 respiradores que nunca foram entregues. A negociação se deu com o Consórcio Nordeste, grupo de governadores presidido por Rui Costa.

Bruno Dauster, ex-secretário de governo da Bahia, citou Rui Costa em depoimento à PF, em 2022. Disse que a compra tinha aval do chefe.

A dona da Hempcare, Cristina Costa Taddeo, fez acordo de delação autorizado pelo ministro Og Fernandes (STJ) e também citou Costa.

Cristina até devolveu R$ 10 milhões da gatunagem. No depoimento da delação, ela contou que o intermediário se dizia amigo de Costa”.

Isto não é nenhuma novidade. Este blog, inclusive, já publicou sobejamente sobre o assunto.

Como se vê, Rui Costa, todo poderoso ministro chefe da Casa Civil de Lula da Silva, foi poupado.

Entretanto, a Polícia Federal realizou busca e apreensão contra um advogado que trabalhou – ou trabalha – para um cliente envolvido no escabroso caso dos respiradores de Rui Costa.

Diz, com razão, a Ordem dos Advogados do Brasil, secção da Bahia:

“A interpretação dada aos fatos é extremamente perigosa para a advocacia e para a sociedade, uma vez que confunde o advogado com o cliente e interpreta como um ato de lavagem de dinheiro o simples recebimento de honorários, criminalizando de maneira injustificável o exercício da advocacia” (Correio, 02.08.2024).

Se a moda pega – e a Polícia Federal de Lula da Silva continuar agindo assim – pune-se o advogado, que constitucionalmente defende o cliente e libera-se o delinquente, o que não significa dizer que, neste caso, Rui Costa é culpado e o advogado é inocente.

O critério da investigação não condiz com a lógica, nem com o tratado da consequência. Tampouco com o Estado de Direito.

Coisas de autocracia.

araujo-costa@uol.com.br    

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