Chorrochó, tempo de Josiel

Josiel e Maria Mattos/Álbum de Alvemira Maria

“Não se morre de saudade. Vive-se de saudades” (Joel Silveira, jornalista sergipano, 1918-2007).

Exemplo de homem público, de dignidade e de caráter irrepreensível, Josiel faleceu em 16/02/2022.

José Calazans Bezerra (Josiel) nasceu em Quijingue, ainda município de Tucano e se mudou jovem para Chorrochó. Elegante, cabelos negros, boa pinta, sorriso fácil, educado e atencioso, logo ganhou a simpatia de todos, ou de quase todos de Chorrochó.

Casou-se com Maria Menezes Mattos Bezerra, de tradicional família de Chorrochó, filha de Anna Mattos de Menezes (Quininha) e João Matos Cardoso e com ela constituiu família decente e honrada, incluídos aí os filhos José Calazans Bezerra Filho, Ana Maria Mattos Bezerra Brandão e Josiel Calazans Menezes Bezerra.

Todavia, isto é assunto longo para quem entende de história e este não é o meu caso. Preocupo-me tão somente com o registro do caminhar das boas pessoas, dos feitos que praticaram e das amizades que construíram.  

A memória esburacada pode produzir o vexame de grafar nomes errados, confundir datas e misturar alhos com bugalhos. Corro o risco de arranhar os fatos e mutilar a história. É melhor deixar a tarefa para os entendidos.

Mas – e sempre há um mas – Josiel entrou na política, impulsionado pelos ventos soprados sobre o ainda jovem município e se elegeu prefeito de Chorrochó com 1.888 votos apoiado pelos deputados estaduais José Bezerra Neto e José Eloy de Carvalho e de duas lideranças nacionais, ícones da política da Bahia, os deputados federais Manoel Cavalcanti Novaes, pernambucano de Floresta e sua esposa, a paulista Necy Novaes.

Município novo à época (1963/1967), Chorrochó vivia um clima saudável com um prefeito jovem, socialmente admirável e impressionantemente dinâmico.

Josiel era mesmo admirável.

Josiel cercou-se de nomes respeitáveis da sociedade chorrochoense, a exemplo de José Pacheco de Menezes (Deca), João Mattos Cardoso e Joviniano Cordeiro.

A Câmara Municipal deu-lhe folgada maioria com os vereadores Sebastião Pereira da Silva (Baião), depois prefeito do município, Aurélio Alves de Barros, Lucas Alventino e Pascoal de Almeida Lima, que também viria ser prefeito. Seu cunhado Vivaldo Cardoso de Menezes também fazia parte da Edilidade.

Vivaldo entendia desde burocracia da fiscalização estadual até política de bastidores de Chorrochó, além de música. Vereador atuante, presidiu a Câmara Municipal  e sustentou, com sabedoria, os altos e baixos da política local.

A administração de Josiel registrou alguns feitos compatíveis com as condições que o município permitia na ocasião: construiu uma barragem para abastecer a sede do município, iniciou a construção do Grupo Escolar Luís Viana Filho e do Posto Médico Francisco Pacheco (terminado na segunda administração de Dorotheu Pacheco de Menezes) e impulsionou o esporte local, além da conservação de estradas, prédios públicos e do campo de aviação.

Já fora da atividade política, Josiel manteve grande carisma junto aos munícipes, incompatível com o ostracismo a que se impôs voluntariamente depois de deixar a vida política.

Juazeiro foi seu refúgio voluntário.

Simpático, atencioso, sensato, entusiasta, indispensável em qualquer reunião de amigos. Afastou-se de disputas eleitorais, embora nunca tenha se afastado de Chorrochó e do apego aos amigos e às tradições locais.

Era assíduo frequentador e participante ativo da principal festa da cidade, a do padroeiro Senhor do Bonfim em janeiro.

Pessoa admirável, Josiel também construiu a história de Chorrochó.

Meu último contato com Josiel deu-se em 2001, quando este escrevinhador estava às voltas com as pesquisas para o livro Dorotheu: caminhos, lutas e esperanças lançado naquele ano.

Josiel me atendeu com impressionante presteza e passou as informações de que eu precisava. Entretanto, são minhas as lacunas, falhas e omissões sobre seu período à frente da administração de Chorrochó.

É salutar que os órgãos públicos municipais responsáveis pela história de Chorrochó não se esqueçam de evidenciar o nome de Josiel, dando-lhe o destaque merecido que teve na construção da sociedade local.

Post scriptum:

Este artigo foi publicado em duas ocasiões: 22/08/2019 e 16/02/2022. Hoje edito-o mais uma vez.

araujo-costa@uol.com.br

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