
Em Santo Antônio da Glória, antiga Vila de Santo Antonio da Glória do Curral dos Bois e, mais tarde, simplesmente Glória, as águas da barragem engoliram a pacata cidade, suas tradições e sua história centenária.
Lá, seu filho ilustre, Raimundo Reis de Oliveira (1930-2002), neto do lendário Petronilo de Alcântara Reis, conhecido como coronel Petro, resolveu sair do lugar para estudar em Sergipe.
Na hora da despedida, o pai lhe disse, com ar professoral de legítimo sertanejo defensor de sua honra:
– Vá. Cuidado com a vida. Seja homem!
Raimundo Reis foi e evoluiu. Estudou o primário em Aracaju e o secundário no Colégio Santanópolis, em Feira de Santana. Cursou Direito, foi advogado, jornalista, deputado estadual pelo antigo PSD da Bahia (1959-1963), radialista da Rádio Sociedade da Bahia, cronista, escritor e boêmio incorrigível.
O antigo PSD da Bahia foi a maior escola política, filosófica e partidária do período 1946-1964.
Inteligente e espirituoso, apaixonado pelo sertão e por Macururé, que ajudou a tornar município, escreveu muita coisa ao longo de sua existência de intelectual.
Raimundo Reis e João Carlos Tourinho Dantas, colegas na legislatura de 1959-1963, foram os responsáveis pela aprovação da lei que, em 1962, elevou Macururé à categoria de município, emancipando-o de Glória.
Um dia, já experimentado pelos tropeços do dia a dia e lembrando as palavras do pai, Raimundo Reis sentenciou, irônico:
– Cuidar da vida até que tem sido fácil. O difícil é ser homem.
A expressão “seja homem”, para o sertanejo do século passado, significava ter bom caráter, ser cumpridor de seus deveres e da palavra empenhada, tornar-se respeitado na sociedade.
Post scriptum:
Vista pela turma do politicamente correto, essa idiotice criada nos dias de hoje, a expressão “seja homem” pode soar como reprovável, inconveniente. Aqui o contexto é histórico, outra quadra do tempo, outra sociedade.
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