
Quando eu era mais abestado do que hoje – continuo sendo – candidatei-me a vereador em São Bernardo do Campo.
O Partido da Reconstrução Nacional (PRN), através do qual disputei uma vaga na Câmara Municipal, vivia em estado de euforia coletiva, em razão da filiação do então “caçador de marajás” alagoano e candidato à presidência da República, Fernando Collor de Mello, que saiu vitorioso e a história é sobejamente conhecida.
As forças políticas que abrigavam minha candidatura respondiam pelo pomposo nome de União Democrática Cristã (UDC), embora de forças nada tivessem, até por uma questão lógica. Se forças fossem, eu teria sido eleito.
Minha plataforma de campanha cingia-se, basicamente, às seguintes áreas: educação, saúde, habitação e transporte.
Como se vê, faltava-me criatividade, porque esta é a plataforma de todos os candidatos em todos os tempos.
Utópico, eu pensava que seria possível consertar o mundo. Melhor, consertar os problemas do mundo de São Bernardo do Campo.
Ingenuidade não me faltava, mas sobrava idealismo. Entretanto, com os tropeços da vida, aprendi que político não tem idealismo. O idealismo de político hoje resume-se nos fundos: Fundo Partidário e Fundo Eleitoral.
Estamos em 2024. Em São Bernardo do Campo, tudo continua como dantes, com uma diferença abismal: piorou.
O município tem população estimada em 840.499 habitantes, com redundância e tudo, segundo últimos dados disponíveis. Imagine o tamanho dos problemas.
Interessante é que moro em São Bernardo do Campo há mais de quatro décadas e nunca fui entrevistado por um pesquisador do IBGE, mas o IBGE diz que eu faço parte desse número de habitantes.
Abandonei a política e os pilantras da política, logo depois da abertura das urnas, porque o dinheiro destinado à minha candidatura nunca chegou ao meu comitê e eu fiquei, com cara de galo, fazendo das tripas coração para sustentar minha campanha até chegar às urnas.
Aprendi com o escritor Carlos Heitor Cony (1926-2008) que a regra fundamental da arte de falar mal é esta: “Só fale mal dos ausentes, nunca dos presentes”. Então, estou amparado pela regra.
Amigos me ajudaram e destes nunca esqueço. Alguns conheci na campanha e ficaram ao meu lado e até insistiram para continuar na política.
Pressuponho que o dinheiro tenha ancorado no bolso dos espertos, como ainda hoje deve acontecer. E pressuposto é pressuposto, nada mais do que isto.
Embora estreante, tive boa votação, mas insuficiente para conquistar uma vaga na Câmara Municipal.
Quando lembro de minha derrota nas urnas, sempre recordo que, em 2016, o Partido dos Trabalhadores (PT) não conseguiu reeleger vereador o filho de Lula da Silva, que ocupava uma cadeira no Legislativo de São Bernardo do Campo.
O caso dele foi pior. O pai tinha sido presidente da República. Embora berço político de Lula da Silva, hoje o PT se derreteu em São Bernardo do Campo.
O escritor Ernest Hemingway (1899-1961), autor do clássico Por quem os sinos dobram, dizia que “a luta pela sobrevivência confronta com os limites humanos”.
A luta pela sobrevivência política tem outro nome, independentemente dos limites humanos: esperteza.
Os políticos no Brasil lutam pela sobrevivência de sua fama e de seus próprios bolsos e dane-se o povo, danem-se as necessidades do povo, dane-se a miséria do povo, danem-se as ideias e os ideais de quem se atreve a querer o bem do povo.
Como não sou disto e nem concordo com isto, peguei meu boné de baiano e me escafedi em direção à luta difícil e honesta da vida.
Esta, sim, tem bons resultados, mesmo que nunca alcancemos os horizontes que sonhamos.
araujo-costa@uol.com.br