Política de Chorrochó e Curaçá, tempo de ouvir conselhos

“Agora estou ouvindo tudo, até conselhos.” (Heitor Dias, 1912-2000, prefeito de Salvador no período de 1959-1963).

Os prefeitos de Curaçá e Chorrochó eleitos em 2024, se quiserem ser bem- sucedidos (e é possível que queiram) precisam ouvir conselhos, muitos conselhos.

Não conselhos de amigos chegados, apoiadores próximos e assessores bem remunerados, mas conselhos de quem mais entende de abandono: o povo.

“Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam e bajulam, porque me corrompem”, provérbio atribuído a Santo Agostinho.

Mas os políticos costumam ouvir os bajuladores e não os críticos.

É o povo que sofre e deve ser ouvido. Não tem estradas, não tem transporte escolar decente, não tem serviço de saúde digno, não tem ambulâncias suficientes e seguras, para ficar nestes poucos exemplos.

Desvalido e incompreendido, o povo desses municípios carece de prefeitos com tirocínio aguçado para vislumbrarem e resolver as prioridades exigidas pela população.

É razoável presumir que, se houve prefeitos com tirocínio apurado, eles devem ter mandado as prioridades às favas e, por extensão, também a população.

As últimas administrações municipais de Chorrochó e Curaçá foram capengas, ineficientes, opacas, cochilantes.

Os prefeitos estão ancorados no passado, atuam como se vivessem no tempo do mandonismo político e apresentam os feitos à população como se fossem favores das Prefeituras e não direito dos munícipes e dever dos prefeitos.

Por exemplo, prefeitos que têm visão de gestão pública devem instituir zeladorias eficientes para cuidarem, diuturnamente, da limpeza das ruas, recolher o lixo, primar pela higidez do serviço público.

Isto é tão elementar quanto mínimo e óbvio. E faz parte do dever do alcaide.

A propósito, são comuns nas atuais administrações, imagens deprimentes de lixo acumulado ou espalhado nas ruas, mormente nas sedes e até, em algumas ocasiões, esgoto a céu aberto.

No mundo de hoje, com tantos recursos à disposição das Prefeituras, isto chega a ser uma agressão à população e um risco à saúde de todos.  

A população destes dois municípios – Chorrochó e Curaçá – se vê às voltas com prefeitos  politicamente ultrapassados, que ainda fazem política na base de promessas mirabolantes, tapinha nas costas, abraços, festas, muita hipocrisia e nenhuma empenho de dedicação à causa pública.

Esses prefeitos instituíram uma espécie de ópio – festas e adjuntos inúteis – para suavizarem as omissões e deficiências de suas gestões.

Por aí se vê, claramente, que não há planejamento direcionado ao caminhar destes municípios, de modo que imperam a mesmice, o comodismo e o indiferentismo relativamente às necessidades da população.

Dá a impressão que os prefeitos governam para si próprios e para seus apaniguados.

De todo modo, os novos  prefeitos precisam olhar no retrovisor do tempo para saber o que precisa mudar e o que não se deve repetir.

O prefeito eleito Dilã Oliveira (Chorrochó) se elegeu na esteira da liderança do atual Humberto Gomes Ramos, condutor das condições sociais e políticas do município durante longo período.

A vitória de Murilo Bonfim (Curaçá), ao contrário, decorreu da esgarçadura do modo de governar do atual prefeito Pedro Oliveira e de seu grupo político por ele capitaneado.   

Daí surgiu a esperança de um novo olhar manifestado nas urnas.

A capacidade de absorver as críticas e disposição de ouvir conselhos pode ser o caminho para aperfeiçoamento das administrações nestes municípios.

Em Curaçá, quem acredita em Papai Noel diz que haverá mudança com o novo prefeito, expectativa compreensível, em razão do alcaide ser aliado e do mesmo partido do governador do Estado.

Em Chorrochó, mesmo quem acredita em Papai Noel diz que não haverá mudança. O prefeito eleito é do mesmo grupo político do prefeito que sai em 31 de dezembro e, neste caso, é razoável presumir que, se não concordou, pelo menos ficou silente diante dos vícios da gestão que se expira.         

Entretanto, se estes prefeitos que tomarão posse em 2025 não tiverem vigilância diuturna das respectivas Câmaras Municipais – o que é difícil ter – provável que tudo deva continuar como antes.

Nesta quadra do tempo, em Curaçá, Chorrochó ou em qualquer outro município, não há mais espaço para vereadores acomodados e  subservientes à vontade dos prefeitos.

Hoje – parece – parte da sociedade está mais vigilante, inclusive sobre a atuação dos vereadores.

araujo-costa@uol.com.br

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