Padres estrelas e tradições da Igreja

Em Dom Casmurro, de Machado de Assis, há uma história interessante. A estranheza da sociedade da época, em razão de um certo padre Cabral que, por decreto pontifício, havia sido nomeado protonotário apostólico.

Todos sabiam da existência de cônegos, monsenhores, bispos, núncios e internúncios. Mas protonotário apostólico, não. O que seria?

O padre Cabral, que recebeu o título, acabou explicando aos surpresos curiosos que “não era propriamente cargo da cúria, mas as honras dele”.

Naquele tempo – e naquele século – as pessoas estranhavam os meandros e a linguagem da Santa Sé a ponto de desconhecer o que viria a ser um protonotário apostólico.

Ainda hoje. Confesso minha dificuldade de entender.

Sou católico. E me basto. Gosto de ser. Já trôpego pelo peso da vida, na idade septuagenária em que me encontro, tenho mesmo é que ficar bem com Deus e com todos os Santos para evitar problemas futuros com eles, mesmo sabendo que não tenho mais tanto futuro assim.

Mas há uns modernismos de hoje que não me adéquo a eles. Por exemplo: padres estrelas, aqueles que andam por aí dançando forró, calças coladas ao corpo, fazendo shows, misturando profano com religioso e, até em certas ocasiões, demonstrando postura incompatível com as tradições da Igreja.

E daí? – poderiam me perguntar os admiradores dos padres estrelas. Os bispos aceitam, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aceita, as regionais da CNBB aceita, o Vaticano aceita, o Papa aceita.

Daí, não concordo. E só. Nem é minha intenção polemizar.

Sou do tempo que padre usava batina, não circulava com copos na mão em festas barulhentas e estranhas à Igreja e, sobretudo, era figura respeitabilíssima na sociedade.  

As honras do cargo do padre Cabral ainda existem. O título ainda faz parte da estrutura da Igreja Católica Apostólica Romana. Pouco conhecido, por óbvio. E pouco usado ou não mais usado.    

A propósito, conto um caso.

Há alguns anos, eu estava de passagem por um município, dia de festa, alguns amigos me convidaram para um evento que se estava realizando no clube mais famoso da cidade.

Lá para tantas, todos já um tanto “chapados”, mas etilicamente equilibrados, junta-se ao grupo um rapaz bonito, muito educado, sorridente, copo na mão, dançando em volta de uma mesa.

Um amigo me apresentou e fiz meus salamaleques de praxe nessas ocasiões. Era o padre da Paróquia.

Não consigo me imaginar ajoelhado num genuflexório, confessando-me diante de um sacerdote que, horas antes, estava bebendo e dançando como se padre não fosse.

Minha opinião humilde, sempre humilde, é esta: esses padres devem ser mais contidos, discretos, compatíveis com as tradições da Igreja, o que não significa abdicar da condição humana de viver consoante o andar da sociedade.

Inobstante a dança ser uma arte – e não sei se beber também é – não acredito que padres frequentaram os seminários Menor e Maior, estudaram Filosofia e Teologia para aprenderem a dançar.

Menos, ainda, para aprenderem a fazer shows – calças coladas ao corpo – e coreografar danças sensuais.

Presumo que aprenderam a proferir a palavra de Deus, mostrar o caminho certo às criaturas, cuidar de almas.

Há uma diferença, acho. Ou então, abandonem o celibato.

araujo-costa@uol.com.br

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