Natal e solidão do dia seguinte

O carteiro que serve minha rua, que é jovem, não viveu a época em que as pessoas mandavam cartões desejando votos de “feliz Natal e próspero Ano Novo” para parentes, amigos, conhecidos e sujeitos de suas relações, ainda que comerciais.

Não só o carteiro desconhece tais costumes dessa época, mas as gerações mais recentes, que vivem embevecidas nessas confusões eletrônicas e necessárias a essa quadra do tempo, que vão de redes sociais, e-mails e outras geringonças digitais mais.

Aliás, com os avanços tecnológicos, carteiros já se aproximam da extinção.

Os envelopes continham traços de sinos, manjedouras e adereços alusivos à ocasião e dizeres bonitos, floridos, admiráveis, sinceros.

Mandar cartões de Natal para amigos resumia-se em prova de consideração.

As mensagens abarrotavam as agências e postos dos correios em finais de ano.

Ao receber as correspondências, perguntei ao diligente estafeta se havia cartões de Natal.

Surpreso, diante da novidade, respondeu seco, quase assustado com minha pergunta ultrapassada, coisa de velho já descambando em direção ao precipício da finitude.

– Acho que não.

Esse costume não existe mais. As comunicações online extinguiram essa forma tão eficiente de relacionamento: as felicitações pela passagem das festas de fim de ano.

Hoje quase ninguém mais manda cartões, chega a ser uma cafonice, um atestado de desinformação e até, em certos casos, um comportamento irrefletido diante de tanta parafernália eletrônica em tempo real.  

Interessante é que a mudança se deu mui rapidamente.

Eu tinha o hábito de mandar cartões de Natal, até por educação e etiqueta. Vi-me ultrapassado de repente. Neste 2024 não mandei sequer um.

Fui desencorajado pela onda de frieza que assola as metrópoles e para não correr o risco de ser chamado de jurássico.

A indiferença passou a ditar o comportamento, ainda mais neste tempo de distanciamento físico e emocional.

A evolução da sociedade vai dizimando, em seu bojo, as formas simples de convivência, destruindo friamente os relacionamentos e corroendo os vínculos sociais que já eram escassos.

Estamos todos menos calorosos, desinteressados pelos outros, excessivamente críticos e egoístas, de sorte que muitas coisas perderam importância, embora muitos de nossos valores estejam ínsitos nas pequenas coisas.

Em breve os cartões de Natal serão lembranças e relíquias para colecionadores, assim como as cartas que não escrevemos mais e os recados verbais que não mais mandamos para amigos e familiares.

As cartas foram substituídas por mensagens eletrônicas frias, sucintas, às vezes automáticas, insignificantes diante da grandeza humana.

Mais: quem menos é lembrado no Natal é o aniversariante do dia, Jesus Cristo.

O certo é que todos os dias, recebemos dolorosos e cruéis chutes de contumazes indiferenças.

E vivemos à espera da solidão do dia seguinte.  

Bom e feliz Natal para meus leitores, amigos, parentes e aderentes.

Desejo a todos próspero 2025 com muita saúde, compreensão e disposição para o prosseguimento da difícil caminhada em direção ao desconhecido.  

Deus sempre.

araujo-costa@uol.com.br

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