“Toda saudade é uma espécie de velhice. É por isso que os olhos dos velhos vão se enchendo de ausências” (Rubem Alves, psicanalista e educador, 1933-2014).

Início da noite, quando o burburinho do ambiente profissional já se havia dissipado, um amigo pondera, entre confuso e reflexivo: Deve haver explicação para os tropeços, saudades e sofrimentos que enfrentamos na vida.
Para não deixá-lo desapontado, concordei, embora sem nenhum condição de concordar ou discordar. Deve haver, sim. Mas são explicações que não conseguimos explicar.
Às vezes no decorrer da caminhada falta coragem e sobra medo de enfrentar os tropeços, encarar os sofrimentos e as saudades.
É por isto que vamos deixando vácuos pelo caminho, lacunas não preenchidas, dúvidas, reticências, arrependimentos, saudades, arrogâncias.
Cora Coralina (1889-1985) foi além: “Devia ter tido a coragem que me faltou e não devia ter tido o medo que me sobrou”.
Chega o outono inevitável, o período da maturidade, o tempo de grisalhar, de refletir e a expectativa da finitude.
Até os sonhos às vezes fracassam e caem, à semelhança das folhas e se esvoaçam em direção à distância.
Lembro Maria do Socorro Menezes Ribeiro (1937-2024). Devo-lhe gratidão pela amizade e acolhimento numa quadra do tempo. Madrinha de minha primeira filha. Lembro o dia do batismo numa igreja de Rodelas, diocese de Paulo Afonso.
Saudade. “Olhos se enchendo de ausência”.
Tempo de descer ao pé da escada para refletir, sem perder a coragem de elevar a humildade ao último degrau, pedir desculpas, chorar.
E sorrir, se puder, ao cutucar das lembranças.
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