“Já vi que passou o planeta. Só escapa quem voa!” (Luizinho Lopes, Curaçá-BA, 1919-2023, apud Esmeraldo Lopes).

Luizinho Lopes beirou os 105 anos. Quase chega lá.
A História de Curaçá conta as peripécias de um vaqueiro nascido na Fazenda Riacho do Gato chamado Luiz Lopes Filho (Luizinho) que aos 103 anos teve a façanha de lançar sua rica autobiografia. Estávamos em julho de 2022.
Experiente e sábio, Luizinho deixou, dentre muitas, uma lição lapidar, mormente para as gerações do agora, que vivem embaraçadas com a sede de absoluto e com o emaranhado de geringonças eletrônicas:
“É agradável quando eu chego em um lugar e as pessoas percebem minha presença. Do mesmo modo, é bom quando eu saio e percebem que eu saí.”
É a essencialidade do viver em sociedade. A percepção da presença e da ausência do outro, razão primeira do existir saudável e da convivência de todos nós.
Conhecedor da caatinga e de seus mistérios, Luizinho Lopes foi vaqueiro até a finitude de seu caminhar.
Retirei d’algum lugar, fragmento do texto de Esmeraldo Lopes, nosso sabido, conspícuo e sempre admirado sociólogo de Curaçá:
“Luizinho é um desses sujeitos que gosta de palestrar, mas às vezes se põe na posição de escutador. E quando está assim, fica ali no silêncio, enrosca as mãos no corpo, cochila, acorda, cochila… Entre todos os assuntos, o que mais lhe atrai são as mudanças do mundo. Ele sempre afirma que o mundo não tem mais jeito, que nada mais lhe surpreende, que está tudo desmantelado.
Mas outro dia ele estava como escutador e chegou um seu camarada e veio contando: “Rapaz, não sei se vocês já ouviram dizer, mas a mulher do finado… tá de homem”. Luizinho, que estava cochilando, levantou a cabeça na rapidez de um piscar e bradou: “Já vi que passou o planeta. Só escapa quem voa!”
Esmeraldo Lopes é abalizado e insuspeito para falar sobre Luizinho Lopes. Ademais, é catedrático na arte de decifrar o entender dos curaçaenses.
Esteio de sabedoria e decência, Luizinho Lopes é um sustentáculo da história de Curaçá.
O jornalista e professor Luciano Lugori cunhou uma expressão certeira na vida e na história de Luizinho: “Um grande homem que arreliou o tempo.” (Curaçá Oficial, 28/11/2023).
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Uma consideração sobre “Curaçá e Luizinho Lopes”