“Todos os códigos de ética têm uma coisa em comum. Eles não funcionam.”(Michael Gartner, jornalista e advogado americano).
Tem sido difícil assistir aos programas jornalísticos dos grandes órgãos de imprensa do Brasil.
Os noticiários encaixam ativistas políticos disfarçados de comentaristas e, como tais, tendenciosos e imbecilizados, de modo que esses mentecaptos fazem contorcionismos verbais para agradar os poderosos de plantão.
Entretanto, isto não é nenhuma novidade.
Antes que leitores da esquerda diurética interpretem que, ao falar dos poderosos de plantão, estou me referindo ao governo de Lula da Silva, afasto essa hipótese. Não é isto. Refiro-me a todos os governos, à luz da História, sejam de direita ou de esquerda.
O jornalismo vendável sempre está ao lado deles, independentemente da ideologia que tais governos defendam. É assim nos municípios, assim nos Estados, assim na República como um todo.
Jornalistas lêem nos teleprompters da vida aquilo que seus editores mandam ler. Estes, por sua vez, obedecem às determinações de seus patrões que são abastecidos pelo governo com vultosas verbas a título de publicidade institucional.
Para quem não está acostumado com a linguagem jornalística, teleprompter, TP ou teleponto é um equipamento usado para projetar textos em um monitor e auxiliar apresentadores, comentaristas e outros profissionais da imprensa que trabalham diante das câmeras.
Num desses programas matinais e piegas da TV, a apresentadora chamou um comentarista “especialista” para falar do aumento dos preços dos alimentos no Brasil.
O comentarista gastou todo o tempo que lhe foi disponibilizado comentando o preço dos alimentos na Europa, EUA e noutros países. Terminou minimizando nossa realidade. Disse que em todo o mundo é assim ou, pelo menos, está assim.
Perguntas óbvias e ululantes:
Que interessa ao brasileiro pobre, que está passando fome, sem poder comprar comida para si e seus filhos, que o preço dos alimentos esteja caro na Europa ou na Oceania, por exemplo?
Que diferença faz comentar preços de alimentos na China ou Japão, se o brasileiro comum está com dificuldade de comer ovos?
Qual a importância e utilidade desse comentário esdrúxulo?
Em nenhum momento o comentarista “especialista” explicou as causas do aumento dos preços dos alimentos no Brasil. Sequer se dignou a sinalizar que as autoridades devem se preocupar com o aumento dos preços.
O governo, ao contrário, está preocupado com o problema, aliás gigantesco.
Aí entra a ética jornalística – ou a falta dela – que a todo momento é espezinhada pela grande imprensa e, sobretudo, por jornalistas vendáveis e incompatíveis com o dever de informar.
araujo-costa@uol.com.br