O jornalista Sebastião Nery, baiano de Jaguaquara, trabalhava no jornal A Tarde, de Salvador.
O jornal o mandou entrevistar Parsifal Barroso, governador do Ceará, antes ministro do Trabalho de Juscelino Kubitscheck.
No Ceará, todos diziam, a começar pelo taxista que levou Sebastião Nery do aeroporto ao palácio do governo, que quem mandava de fato por lá era a mulher de Parsifal e não ele.
Informado de que o jornalista faria uma entrevista com o governador, o taxista foi logo dizendo: “se o senhor me permite um palpite, acho que deve falar também com a esposa dele. Quem manda no Ceará é D. Olga”.
Sebastião Nery foi lá, ouviu Deus e todo mundo e confirmou: quem mandava no Ceará era D. Olga, mulher do governador.
De volta a Salvador, A Tarde deu a manchete: Quem manda no Ceará é a mulher de Parsifal. E seguiu-se a longa reportagem.
Os cearenses apoiadores e amigos do governador ficaram furiosos. A oposição mandou reproduzir a reportagem no jornal O Povo, vinculado à União Democrática Nacional (UDN), antagonista de Parsifal Barroso.
No dia seguinte à publicação da reportagem, Sebastião Nery recebeu um telegrama de Themístocles de Castro, assessor de imprensa do governo do Ceará:
– Jornalista Sebastião Nery: Venha morrer no Ceará.
Sebastião Nery foi ao telégrafo, respondeu.
– Assessor Themístocles de Castro: Não vou.
Um dia procurei Waldir Pires, ministro da Previdência Social do presidente José Sarney, que estava na TV Cultura de São Paulo, onde concederia uma entrevista.
Depois governador da Bahia, Waldir Pires saiu para compor a chapa na condição de vice de Ulysses Guimarães à presidência da República e passou o governo para Nilo Coelho, de Guanambi, mas esta é outra história.
Waldir Pires não respondeu minhas perguntas, que eram duas, alegando falta de tempo, assoberbado com compromissos, mas passou para sua assessoria, que nunca respondeu.
Assessores incompetentes e formigas existem em todo lugar.
Eu havia conhecido Waldir Pires na antiga Sorveteria Primavera, em Juazeiro, recém-chegado do exílio em Paris. Fui apresentado por Francisco Arnóbio de Menezes, de Chorrochó, amigo de Waldir.
Muito sociável, bate-papo convidativo e interessante, Arnóbio fez um salamaleque, elogiou Waldir e coisa e tal e ficamos por alí bebendo e conversando.
A simplicidade de Waldir era impressionante. Memória prodigiosa, democrata convicto, sorriso meigo e sincero, muito atencioso, puxava conversa, queria saber das coisas, engrandecia o ambiente.
Darcy Ribeiro dizia que Waldir Pires tinha cara e pinta de estadista. Ambos eram amigos.
Confesso minha frustração porque não consegui obter as respostas de Waldir. Inexperiente, eu ainda não sabia lidar com os meandros do poder, suas dificuldades e contornos. Se experiente fosse, teria dado um jeito de colher as respostas.
Eu não tinha – e não tenho – a experiência do gigante Sebastião Nery, que fazia de qualquer momento uma monumental reportagem.
Em tempo:
A entrevista com Parsifal Barroso é contada por Sebastião Nery, in A Nuvem – o que ficou do que passou, Geração Editorial, São Paulo, 2009.
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