Geraldo Menezes e a paixão pela música

Nascido Geraldo José de Menezes, hoje é mais conhecido pelo sugestivo nome de Geraldo Paixão, de Chorrochó.

Geraldo Paixão/Arquivo da família

Creio que adotou Paixão para firmar-se no meio artístico e, sobretudo, no que mais gosta de fazer: compor e cantar.

A mãe Maria Menezes (Pina) e o pai Francisco Arnóbio de Menezes, ambos de família tradicional de Chorrochó, deixaram prole numerosa e decente sustentada nas tradições locais.

A família de Pina e Arnóbio cresceu e hoje está ornamentada com descendência bem estruturada, alguns já famosos e, sobretudo, carrega sabedoria, honra e resepeito ao nome familiar.   

Jovem ainda, Geraldo Menezes optou pela arte. Canta e compõe canções desde a juventude.

Não consigo esquecê-lo na juventude em Chorrochó, década de 1970, jovem bonito e elegante de cabelos longos, sonhador e inteligente, cantando sucessos no então famoso Bar Potiguar, que iam de Quem mandou você errar, de Claudia Barroso a Detalhes, de Roberto Carlos.  

Geraldo andou por São Paulo, viveu no meio artístico e por lá vislumbrou a carreira de cantor, sem contudo abdicar de suas raízes interioranas chorrochoenses e, mais do que isto, nunca se tenha esmorecido quando enfrentou os tropeços naturais tão comuns na vida de artista. 

Tempos difíceis, que acompanhei na condição de amigo e admirador de Geraldo Menezes.

As noites insones, a procura de gravadora que lhe desse oportunidade, a possibilidade consequente de um contrato, a concorrência com cantores famosos, o mundo desconhecido e cruel dos shows, empresários, programas de televisão e a janela em direção ao sucesso tão sonhado e sempre distante e difícil.

Perseverante e persistente, Geraldo Paixão sempre trouxe consigo a força em defesa do que luta e acredita: compor, cantar, viver e sonhar.

Não parece inoportuno lembrar que o pai Francisco Arnóbio de Menezes e o tio Vivaldo Cardoso de Menezes eram músicos, embora não se dedicassem a este mister, por força da profissão que exerciam.

Profissionais de sucesso, em suas respectivas áreas de atuação, Arnóbio e Vivaldo herdaram dos antepassados esse pendor pela arte, mormente pela música instrumental.  

Recordo-me, com saudade, Arnóbio declamando e cantando músicas de Vicente Celestino com tal perfeição que O ébrio parecia mais uma invenção sua do que do verdadeiro intérprete.     

A título de exemplo, lembro que a história registra que Francisco Arnóbio Cardoso Varjão, que fazia parte da raiz familiar de Francisco Arnóbio de Menezes, era maestro e poeta. 

Há alguns anos – vai longe no tempo – estive em Chorrochó por ocasião da festa do padroeiro Senhor do Bonfim. Encontrei Geraldo Paixão numa daquelas barracas expostas na praça em frente à igreja.

Geraldo me presenteou com um CD e, mais do que isto, o autografou.  Guardo-o até hoje, com carinho e consideração. Lá está “A raposa e as uvas”, de Reginaldo Rossi, um de seus cantores preferidos.

Relapso, não costumo fazer contato regular com amigos, o que não exclui minha consideração.

Com o intuito de publicar esta matéria, à época fiz contato com Geraldo Paixão. Queria uma fotografia do nosso tempo de jovens, em Chorrochó, ele de cabelos longos, próprio da juventude rebelde da época.

Modesto e educado, Geraldo disse que não tinha fotos daquela época. Sei que ele tem, mas se preservou, evitou a lembrança de um tempo que não se pode mais explicar ao frio e conturbado mundo de hoje.

Estas são lembranças que a memória traz em meio aos tropeços do dia a dia. Chegamos à idade septuagenária. Eu, um pouco à frente de Geraldo, trôpego em direção à continuidade do tempo. Ele nascido em fevereiro de 1955. 

Com a idade chegam as lembranças e a certeza da finitude do caminho. Mas, como diz o dominicano Frei Betto: “É preciso guardar o pessimismo para dias melhores”.

Hoje faço este registro em nome da amizade e da incerteza da vida.

Em tempo:

Publicada pela primeira vez em 18/12/2021, esta crônica foi editada.

araujo-costa@uol.com.br

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