“No jornalismo, o que importa é o resultado, não as dificuldades para obtê-lo.” (Jornalista Zuenir Ventura)

Em outubro de 1980, o hoje desaparecido jornal Asa Branca, de Curaçá, município baiano debruçado à margem do São Francisco, publicou um artigo do sociólogo Esmeraldo Lopes intitulado Seca e Miséria.
Nascido na trilha da redemocratização do País, que saía da ditadura militar, o jornal Asa Branca resultou de louvável iniciativa de alguns abnegados curaçaenses, antes à margem das decisões políticas, dentre estes Omar Dias Torres (Babá) e Salvador Lopes Gonsalves que contaram com colaboradores do porte de Antonieta Galdieri e tantos outros. Coelhão, sobejamente conhecido em sua arte, cuidava da capa e diagramação do periódico.
Quaisquer assuntos relativamente ao Nordeste são recorrentes e atualíssimos.
Esmeraldo Lopes discorreu desde a seca de 1870, quando morrreram “só no Ceará mais ou menos cem mil pessoas de fome”, até o êxodo de nordestinos para São Paulo e Amazônia à procura de meios de sobrevivência.
O trecho do artigo a seguir é atualíssimo, não obstante a demagogia dos governos que, também, continua igual, sem precisar de nenhuma atualização.
Dizia o mestre Esmeraldo Lopes, à época ainda morando em São Paulo :
“A partir de 1960, os trabalhadores vindos do nordeste, a maioria expulsos de suas posses de terra pelo coronéis e grileiros, passaram a encontrar mais dificuldades para arranjar meios de vida, muitos acabando por se entregar ao crime, à prostituição, sujeitando-se a morrer em favelas, quando ficavam perambulando pelas ruas arrudiados pelos filhos e esposas, dormindo pelas calçadas, vivendo de esmolas e perseguidos pela polícia.” (Jornal Asa Branca, Curaçá-BA, 31/10/1980).
O artigo é extenso. O sociólogo cita o escritor Alcindo Teixeira Mendes: “Sem grande exagero, poder-se-ia dizer que em cada quilômetro de estrada de seringueira na Amazônia, há uma cruz de nordestino”.
Como se vê, não se deve menosprezar a incapacidade de nossos governantes. Neste particular, são irrepreensíveis.
De 1980 – ano do artigo citado – até os dias de hoje, mais de quatro décadas, seguiram-se governos inócuos, inoperantes, negligentes, demagogos.
Os exemplos são abundantes, inegáveis, tristes.
Quiçá o êxodo dos nordestinos em direção a outros estados, mormente em direção à Região Sudeste tenha diminuído, mas é razoável presumir que a situação de muitos deles, já fora de sua terra natal, continua de mal a pior.
Em São Bernardo do Campo, berço político do presidente Lula da Silva, multiplicam-se nas ruas e nas praças públicas, pedintes, desempregados, subempregados cavando a sobrevivência e, sobretudo, moradores de rua, que os governos de esquerda encontraram um termo bonito para defini-los: “pessoas em situação de rua”.
Nas visitas que faz a São Bernardo do Campo, nunca vi o morubixaba Lula da Silva observando, in loco, a situação dessas pessoas em situação de miséria.
Contudo, é seguramente certo que Sua Excelência se deleita em suas ricas e diversas residências inalcançáveis para nós, mortais comuns.
A mudança do conceito ou da definição dos moradores de rua não exclui a condição de miserabilidade dessas pessoas.
Inclusos neste índice de miseráveis, certamente estão aqueles que o PT e Lula da Silva dizem, acintosamnte, que tiraram da pobreza.
Admiradores, fanáticos e súditos de Lula acreditam nesta monumental demagogia. Pior: inundam as redes sociais de asneiras e o defendem com unhas e dentes.
De qualquer forma, em se falando do Nordeste, os assuntos são sempre atuais, assustadoramente atuais, mesmo que nordestinos tenham passado a morar noutros estados.
O cerne da questão é sempre o mesmo: a incapacidade e ausência de vontade política dos governos de cuidarem de seus governados, seja comandado por Lula da Silva ou outro qualquer.
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