Curaçá e os acasos que o tempo registrou

O contexto político era outro, mais civilizado.

Não havia polarização, não havia exacerbação ideológica, não havia fanatismo imbecilizado a exemplo de agora.

A juventude queria mudança de mentalidades e não bajulação de líderes políticos.

Saíamos de uma exaustiva campanha pela Assembleia Nacional Constituinte que aprovou a vigente Constituição de 1988, que alguns ministros do Supremo Tribunal Federal de hoje apequenam-se diante da História e vão rasgando, paulatinamente, suas páginas a cada dia.

Hoje a Constituição Cidadã que nossa geração sonhou e que o paulista Ulysses Guimarães lutou para torná-la realidade está mutilada, espezinhada, humilhada.   

Lutamos para que a mancha da cruel ditatura militar de 1964-1985 não permanecesse intacta. Conseguimos, em parte.

Em Salvador, Gilberto Gil se posicionou na condição de candidato a prefeito do município. Foi defenestrado de sua intenção, em razão de conchavos outros engendrados na alcova dos mandantes políticos da ocasião.

Em Curaçá, também eu havia acreditado, ingenuamente, mas fui alijado de minha indicação, embora me tenha sido prometida. Foi nessa quadra do tempo que aprendi a não levar a sério palavras de políticos e, nesse particular, continuo cético.  Continuarei cético.

Entrementes, é próprio dos jovens acreditar, mesmo não sendo muito jovens. Faz parte da utopia e dos sonhos.

Em solidariedade a Gilberto Gil, fiz-lhe saber que não era somente o caso dele, em Salvador, mas de muitos outros, inclusive em Curaçá, naquele efervescer de ideias e da redemocratização do Brasil.

Em 31/08/1988, em carta, ele concordou e se disse disposto a continuar a luta.

Carta de Gilberto Gil/Arquivo do autor do Blog

A história política subsequente de Gilberto Gil todos conhecem, inclusive culminou como ministro da Cultura (2003-2008) de Lula da Silva e hoje é membro da Academia Brasileira de Letras.

Guardo a carta histórica que recebi de Gilberto Gil para integrá-la ao Acervo Curaçaense, que considero embrião da futura Academia de Letras de Curaçá, quando Maurízio Bim e Luciano Lugori e outros intelectuais de lá a viabilizarem.

Acredito muito nos intelectuais de Curaçá, que têm demonstrado persistência ao cuidar das estruturas da História do município, inobstante as naturais dificuldades de percurso.    

araujo-costa@uol.com.br

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