Lembranças da Semana Santa em Chorrochó

É na Quinta-Feira Santa ou de Endoenças que, segundo a tradição católica, comemora-se a última ceia de Jesus e lembra-se a traição por Judas Iscariotes e a mais famosa prisão da história do cristianismo. É também o dia do lava-pés.

É o início do chamado Tríduo Pascal.

Naquele tempo já existia corrupto. Apóstolo de Cristo, Judas o traiu por trinta moedas de prata e o entregou aos inimigos.

Nas localidades do interior do Brasil esta data ainda é muito significativa para os católicos, embora nos dias de hoje a fé ande um pouco claudicante e espancada pelas agruras do mundo moderno.

Em Chorrochó, no interior da Bahia, era costume pessoas passarem até altas horas da noite no belo templo construído em 1885 pelo beato Antonio Conselheiro, “o homem que calçava sandálias de pastor e a túnica de azulão que lhe caía sobre o corpo e lembrava o hábito desses missionários que, de quando em quando visitavam os povoados do sertão batizando multidões de crianças e casando amancebados”, conforme disse Mário Vargas Llosa, in A guerra do fim do mundo.

Frequentei nalgum tempo essa tradição em Chorrochó, levado à Igreja, por D. Nilinha (Professora Josepha Alventina de Menezes) que oferecia café, biscoitos e, às vezes, os refrigerantes Fratelli Vita e Grapette, que hoje não mais existem.  

Lembro um episódio interessante. A crônica se sustenta no cotidiano e, em muitos casos, nas alegrias e bons momentos da vida.

Quinta-Feira Santa. O padre Ulisses Conceição, vigário da Paróquia, presidia uma solenidade na Igreja de Senhor do Bonfim.

Estava presente o professor Francisco Lamartine de Menezes, muito querido e admirado por todos em Chorrochó. Jeito impecável, passos firmes, parecia membro de uma aristocracia qualquer.

Igreja cheia, ato religioso demorado (as solenidades presididas pelo padre Ulisses Conceição eram assim, demoradas).

O padre Conceição contrito, voz potente, palavras escandidas, fazia uma oração e pedia:

“Ajoelhemo-nos! Levantemo-nos!”

Os fiéis seguiam o gesto, ajoelhando e levantando, inúmeras vezes.

Em meio à multidão em silêncio, ouve-se a voz de Lamartine:

“E sentemo-nos, que já estamos muito cansados”.

José Eudes de Menezes (Iê), Fabrício Félix dos Santos (Bilicinho) e eu, que estávamos próximos a Lamartine, rimos muito.

Padre Conceição continuou impassível a cerimônia.

Lamartine era assim, espontâneo e espirituoso.

Grande Lamartine! Muita saudade dele.

araujo-costa@uol.com.br

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