Waldir Pires e a decência em fazer política

Waldir Pires/Foto: André Dusek

O governador Jerônimo Rodrigues (PT), adepto da antidemocracia da retroescavadeira, não perderia tempo algum se procurasse ler sobre Waldir Pires, um de seus predecessores no governo da Bahia.

A leitura sobre grandes homens públicos sempre nos conduz aos bons exemplos.

Sensato, culto, educado, nobre, digno, inteligente e, sobretudo democrata, não se conhece na história da vida política de Waldir Pires uma só palavra ofensiva aos baianos e, por extensão, aos brasileiros.     

Duas qualidades inquestionáveis de Waldir, dentre muitas: a combatividade e a retidão de caráter. Homem de convicções admiráveis defendia arraigadamente o ideário que sempre sonhou para o Brasil.

Era viciado em democracia e extremamente ético.

Waldir Pires disputou a eleição de 1986 para o governo da Bahia, tendo como adversário principal o jurista e professor de direito constitucional Josaphat Marinho, este apoiado pelo poderoso Antonio Carlos Magalhães (ACM), líder político inconteste na época.

Waldir ganhou a eleição, beneficiado pelo alvoroço democrático. O que veio depois é outra longa história.

Na década de 1950, aos 24 anos de idade, Waldir Pires foi secretário do governo Régis Pacheco e, mais tarde, deputado estadual, deputado federal e Consultor Geral da República na presidência de João Goulart.

Essa primeira fase de sua atuação política anterior ao movimento de 1964 foi auspiciosa, rica, valiosa.

Antes, Waldir havia disputado e perdido as eleições de 1962 ao governo da Bahia para o dentista e ex-prefeito de Jequié, Antonio Lomanto Júnior (1924-2015).

Com a queda do presidente João Goulart, Waldir e seu amigo Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil do governo Jango, fugiram num avião monomotor para o Uruguai. Lá ele viveu alguns anos e depois se exilou na França.

Com a anistia, terminou a amargura e voltou ao Brasil. Na França, foi professor na Universidade de Dijon e depois na Universidade de Paris.

No pós-exílio, além de governador da Bahia e parlamentar, Waldir foi ministro da Previdência, ministro do Controle e da Transparência e ministro da Defesa.

Nascido em Acajutiba, passou a infância em Amargosa e mudou-se para Salvador. Daí, Waldir saiu para o mundo da grandeza democrática.

O despontar para o amanhecer político – dizia ele – se deu em Nazaré das Farinhas. 

Sua história de luta e coragem é um exemplo para aqueles que desejam um Brasil melhor para todos.

Considerado de centro-direita, mas sempre aliado à esquerda democrática, Waldir era estratégico e ostentava brilhante capacidade de costurar alianças. Era avesso a rompimentos.  

Calar adversários certamente nunca esteve no horizonte de Waldir, tampouco arranhar os princípios da democracia. Respeitava dignamente os adversários políticos.

Mas a memória de Waldir já dava sinais de cansaço, embora lúcido, ativo, atento às coisas do Brasil. Sua combatividade, entretanto, vinha perdendo o vigor desde 2016, término do mandato de vereador de Salvador.

A esposa D. Yolanda Avena Pires, com quem viveu 55 anos e foi sua companheira de vitórias e infortúnios, faleceu em 2005. Mas Waldir continuou lutando em defesa de suas convicções democráticas.

Em 1986, seu amigo de exílio e da vida, Darcy Ribeiro escreveu: “Waldir tem panca e ideologia de estadista. Seu propósito é, nada menos, do que passar o Brasil a limpo”.

Waldir Pires recolheu-se à sua última trincheira, o mundo da velhice. A derradeira e altiva batalha que travou.

Waldir faleceu na madrugada de 22/06/2018. Deixou um legado de esperança e combatividade em favor do Brasil. Exemplo para todas as gerações.

araujo-costa@uol.com.br

Deixe um comentário