O ministro, o discurso inoportuno e a imprensa

“O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.” (Lord Acton, historiador britânico, 1834-1902)

Em 02/09, na abertura dos trabalhos de julgamento do suposto golpe de Estado, o ministro-relator  abriu a sessão com um inoportuno discurso, contrariando ritos, estilos e regras processuais comumente seguidos pelo Poder Judiciário.

Não é comum – e nunca foi – magistrado fazer discurso político em abertura de sessão de julgamento. No máximo e dependendo do contexto, o juiz esclarece às partes sobre procedimentos estritos ao processo e, eventualmente, faz saber sobre algumas diretrizes da audiência de julgamento, o que não foi o caso.

O Supremo Tribunal Federal é um tribunal constitucional de acordo com a Carta Magna da República e não um comitê político. É pressuposto que as partes no processo não estão interessadas em discurso político, mas no deslinde da causa.

Mas o que vale a Constituição no Brasil de hoje que, sabidamente, não a observa e não a respeita?

“A lei, ora, a lei”, já dizia o presidente Vargas em 1947. Ou, como dizia a humorista do gênio Chico Anysio, a lei “é apenas um detalhe”.   

A imprensa aliada ao lulopetismo deu o maior destaque à anomalia encenada pelo ministro, elogiando-o despudoradamente.

Repórteres e comentaristas só faltaram desconsiderar os mesopotâmicos e atribuírem ao ministro-relator a invenção da roda.

O ministro pretende ser presidente da República, segundo um de seus  ex-assessores no Tribunal Superior Eleitoral (Gazeta do Povo, 09/08/2025).

Fácil, muito fácil: Basta Sua Excelência renunciar ao cargo de ministro do STF, filiar-se a uma dessas excrescências partidárias da esquerda e disputar a eleição através do voto popular.

Democracia é isto. E Sua Excelência se arvora defensor inquestionável da democracia no Brasil. Então, presume-se que deva observar as regras democráticas.

Como é improvável que a maioria da sociedade vote em cidadão com abominável perfil de ditador, certamente o Brasil não passará por esse vexame. 

O Brasil está precisando de mais seriedade e menos hipocrisia.

E os brasileiros precisam que sejam respeitados, principalmente pelo nobre, reverenciado e lídimo Poder Judiciário.

araujo-costa@uol.com.br

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