Todas as ditaduras são parecidas – II

A luta contra a tirania é sempre doída e deixa marcas indeléveis.

Em 1968, a então União Soviética e alguns parceiros do Pacto de Varsóvia protagonizaram a sangrenta intervenção política e militar em Praga, à época capital da antiga Tchecoslováquia, matando a esperança da chamada Primavera de Praga, liderada pelo lendário Alexander Dubcek.

A Primavera de Praga propugnava pelo fim do centralismo burocrático do Estado e pela implantação da participação das massas populares na orientação e direção do País, um processo de liberalização econômica e política.

Em momentos de atrocidades, algumas lembranças se erigem como símbolos que perduram inapagáveis durante o tempo, durante a vida, durante o correr da história.

É o caso de “um cego que avançou sobre um carro de assalto soviético, na entrada de uma das pontes sobre o rio Vltava e dava golpes desesperados com sua bengala branca sobre a blindagem do veículo”.

Era a maneira como ele, dentro de suas limitações, podia defender a honra, a pátria invadida e a dignidade de seu povo.   

Não se trata de ficção.

O jornalista gaúcho Mauro Santayana que era correspondente do Jornal do Brasil em Praga viu a cena e a registrou para as páginas da história.

Mauro Santayana ainda conta que viu o primeiro morto naquela invasão soviética de 21 de agosto de 1968: “um menino de treze anos que tombou aos pés da estátua de São Venceslau, no centro de Praga. O menino tinha uma bandeira nacional e o rubro do pavilhão se tornou mais rubro com seu sangue”.

Depois da ocupação da Tchecoslováquia, a União Soviética manteve o modelo comunista ortodoxo imposto por Moscou.

Todas as ditaduras são parecidas, quaisquer que sejam elas. As atrocidades que fazem acontecem com a complacência de todos, ou quase todos, que permitem o avançar dos abusos, sem contestá-los. E até dos que as apoiam e que, quase sempre, mais tarde são engolidos por elas.

É sempre oportuno lembrar o lema da União Democrática Nacional (UDN), partido político brasileiro (1945-1965): “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.

Fonte: Liberdade Vigiada, Praga, 1968, do escritor francês Roger Garaudy (1913-2012), Bloch Editores S.A, 1969.

araujo-costa@uol.com.br

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