Todas as ditaduras são parecidas – V

O Congresso Nacional está de cócoras.

Deputados e senadores transformados em inúteis Excelências.

O Supremo Tribunal Federal encontrou um jeito de silenciar ilegalmente o Congresso Nacional, sem estardalhaço.

Na prática – e fisicamente –  o prédio do Congresso Nacional está aberto, mas inerte. Os parlamentares não têm o que fazer. O Poder Legislativo está manietado, arranhado, espezinhado, imobilizado.

Não se trata de invasão de prerrogativas pelo STF, mas de negar o direito de legislar que a vontade soberana das urnas habilitou os parlamentares.

O STF levantou as prerrogativas que a Constituição da República atribuiu ao Poder Legislativo, ou seja, legislar. O STF assumiu o papel de legislador e o fez relativamente à mudança de uma lei de 1950, em pleno vigor há 75 anos e nunca questionada.

O STF alterou a Lei 1079/1950 (Lei do Impeachment) que, nas democracias de verdade, somente o Legislativo pode alterar. O STF determinou: agora o processo mudou, o rito será diferente, o quorum será outro.

E a lei?

Ora, dane-se a lei.

E o Congresso Nacional?

Ora, dane-se o Congresso Nacional.

Inobstante fazer leis seja prerrogativa do Legislativo, desta vez foi o STF que legislou. Ilegalmente. Absurdamente.

Às escâncaras, estamos em regime e tempos de exceção.

Principal instrumento de repressão da ditadura militar que fechou o Congresso Nacional, o AI-5 está de volta. Desta vez travestido de decisão judicial. É o AI-5 do STF.

O STF arrancou de senadores e deputados federais as prerrogativas de fazerem leis e atribuiu aos parlamentares o mero papel de inúteis Excelências.

Hoje o STF alterou a lei do impeachment. Amanhã será outra, serão outras, serão muitas.

O prédio do Congresso Nacional está aberto.

Por enquanto.  

Há quem acredite que vivemos numa democracia.

araujo-costa@uol.com.br

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