Quando a saudade diz mais do que o tempo

A morte do cantor Lindomar Castilho aos 85 anos me trouxe à lembrança uma amiga de meu tempo de Patamuté, também falecida.

Em 1966 Lindomar Castilho lançou a canção Ébrio de Amor que fez estrondoso sucesso e o acompanhou durante toda a vida.

Heloina Assis gostava da música e até idealizava uma imagem da frase “e assim eu vou seguindo o meu destino”, mudando-se de um lugar ao outro do ambiente. Ríamos muito.

Heloina e eu trabalhávamos no Armazém de Antonio Paixão, em Patamuté. Heloina somente aos sábados. Chegava cedo da Fazenda Candeias e retornava no final da tarde, geralmente com o marido Beato.

Heloina Assis, em foto de 2018/arquivo de Auxiliadora Pires

Minha função era espichar peles de caprinos e ovinos nos fundos do armazém de Antonio Paixão.

Muitos jovens de hoje não sabem o que é espichar peles, nem têm obrigação de saber, porque o tempo é outro, as coisas mudaram, mas isto faz parte dos costumes e da cultura nordestina.

Espichar peles foi meu primeiro trabalho fora de casa. O serviço era coordenado por Israel Henrique de Souza, um dos grandes amigos que tive em Patamuté.

Naquele tempo – década de 1960 – não havia televisão e nem telefone em Patamuté.

Ouvíamos a Emissora Rural – A Voz do São Francisco, de Petrolina. Era através do rádio que ficávamos sabendo das coisas que aconteciam no mundo, inclusive sobre cantores e músicas que faziam sucesso na época. Lindomar Castilho era um deles.

A família de Heloina é numerosa, bem estruturada, de boa índole.

Heloina viveu algum tempo em São Paulo, mas não tive oportunidade de encontrá-la.

Guardo de Heloina o sorriso, a atenção, a generosidade, a amizade.

A saudade e as lembranças cutucam.

Coisas do tempo, da passagem do tempo, do caminhar do tempo.

araujo-costa@uol.com.br  

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