O museu do Lula, que não é do Lula

A novela do museu do Lula, em São Bernardo do Campo, parece se encaminhar para o fim.

A Justiça Federal autorizou a troca da finalidade do equipamento público por uma fábrica de cultura que, honestamente, não sei bem o que diabo é isto.

Acontece que, desde o início em 2012, a obra enfrentou problemas. Idealizada por Luiz Marinho, ex-ministro e amigo pessoal de Lula da Silva e à época prefeito de São Bernardo do Campo, a construção se transformou em dor de cabeça.

O Ministério Público Federal enxergou o desvio de, pelo menos, R$ 7,9 milhões de recursos públicos, além de superfaturamento.

A obra havia sido orçada em R$ 18,3 milhões. O dinheiro acabou com a construção ainda no esqueleto e o prefeito pediu mais R$ 4,5 milhões ao Ministério da Cultura, que negou.

Surgiu outra situação grave: o Ministério Público descobriu que um dos sócios da construtora licitada para cuidar da obra era um desempregado que, no contrato social, participava do capital da empresa com R$ 10,4 milhões.

Procurado, o coitado do desempregado, presumivelmente laranja, declarou que nunca teve construtora na vida e não sabe do que se trata tanta riqueza atribuída a ele, que nunca viu.

O PT conseguiu que o homem ficasse rico sem saber, embora continuasse pobre e desempregado. É uma simbiose que só o PT consegue fazer. Coisa de gênio.

Resultado: a Justiça Federal mandou prender quatro secretários de Luiz Marinho, que também foi indiciado e ainda não conseguiu explicar a maracutaia. Ele diz que é inocente. Eu acredito  que seja.

Luiz Marinho disputou a eleição para governador de São Paulo em 2018, mas amargou o quarto lugar. Perdeu inclusive em São Bernardo do Campo, onde mora e foi prefeito por oito anos.

São Bernardo do Campo é o berço do deslumbrado Partido dos Trabalhadores (PT). Agora, com a senadora Gleisi Hoffmann na presidência nacional, o partido está em queda livre. Se tirarem ela de lá, o PT melhora, volta a crescer. Qualquer um que colocarem lá é melhor do que ela.

Segundo o ex-prefeito e idealizador do equipamento, o prédio destinar-se-ia ao Museu do Trabalho e do Trabalhador. Como se vê, uma genialidade. Certamente lá seriam colocadas algumas réplicas de máquinas industriais antigas e fotografias do início da fase industrial paulista.

Entretanto, dizem os entendidos em desconfianças, que o então prefeito Luiz Marinho queria mesmo era prestar uma homenagem ao seu padrinho político e amigo Lula da Silva de quem foi ministro duas vezes.

Convenhamos, Lula merece um museu para expor suas megalomanias, mas pago com seu dinheiro e não com dinheiro público. Ele poderá fazê-lo a qualquer tempo.

Todavia, neste mesmo São Bernardo do Campo, quem precisa de atendimento médico fica nos corredores do Ponto Socorro Central da cidade e nas UPAs e UBSs da vida, em macas improvisadas, por falta de leitos hospitalares.

Pior: não faltam somente leitos. Falta tudo, inclusive remédios e decência.

Pujante, São Bernardo do Campo não disponibiliza atendimento médico decente aos seus habitantes. Nem o fará tão cedo, pelo andar da carruagem.

Os R$ 18,3 milhões que Luiz Marinho empregou no museu eram suficientes para construir no mesmo lugar um hospital, uma escola ou mesmo uma creche para pessoas carentes.

O melhor Museu do Trabalhador é uma aposentadoria digna para cuidar de sua velhice e não ostentação dessa envergadura, cara e inútil.

De qualquer forma, o museu do Lula, que Luiz Marinho dizia que  não era do Lula, não será mais museu e muito menos do Lula. Por enquanto.

araujo-costa@uol.com.br

A Bahia que o PT esconde

A Bahia é o estado onde a miséria mais cresceu nos últimos quatro anos, dentre as vinte e sete unidades da federação, segundo levantamento da Consultoria Tendências (Valor Econômico, 09/10/2018). Curiosamente, o estado é governado pelo PT há doze anos. Simples assim. O PT conseguiu aumentar a miséria na Bahia.

A extrema pobreza na Bahia é estratosférica. E estratosférico é o embuste idealizado pelo PT para alardear por aí, aos incautos, que desviou o Brasil do caminho da miséria e, por consequência, certamente também desviou a Bahia, que o partido governa ininterruptamente desde 2007.

Um pouco mais de 1,8 milhão de famílias baianas com renda domiciliar per capta de R$ 85,00, tornaram-se presas fáceis de políticos em discursos recheados de lorotas.

Cadastrar famílias nos programas sociais do governo federal não é privilégio do PT. Outros fizeram. Inclusão social decorre da lei, basta cumprir.

Em 2016, o Ministério Público Federal da Bahia mandou apurar a suspeita de que até servidores públicos e empresários recebiam o benefício do programa bolsa-família, entre outras irregularidades, alguns até doadores de campanhas eleitorais.

Sem dúvida, esses devem constar nas robustas estatísticas do PT na condição de excluídos da extrema pobreza e como uma glória alcançada pelo partido.

Os discursos dos petistas sobre distribuição de renda são hilários, extravagantes, exagerados.

Nos governos do PT, segundo Lula da Silva e os radicais do partido bem remunerados para contarem lorotas, o Brasil virou um paraíso. Só faltou o Jardim do Éden.

O fato é que a miséria dobrou na Bahia, em quatro anos. De 4,8% em 2014, atingiu 9,8% em 2017. Deve ser por conta da eficiência administrativa dos governos petistas, que se intitulam os únicos capazes de impulsionarem o desenvolvimento do Brasil.

Eles têm razão. Impulsionaram muito bem o Brasil de ladeira abaixo. No despenhadeiro jogaram 11,4 milhões de desempregados, que dona Dilma Rousseff empurrou para Michel Temer e só com a rapina na Petrobras, a Polícia Federal estimou R$ 42,8 bilhões de prejuízo, em números modestos, para ficar nestes dois exemplos.

Entretanto, o governador Rui Costa foi reeleito em outubro, no primeiro turno, com 75,5% dos votos válidos dos baianos, o que faz pressupor que o homem é bom de argumento e consegue tapar o sol com peneira.

Num quadro desses, convencer mais de cinco milhões de eleitores que a Bahia vai bem é o mesmo que colocar suspensório em cobra. Ele conseguiu, com a ajuda providencial de seu padrinho político Jaques Wagner.

Danem-se os índices econômicos, dane-se a cruel realidade, que insiste em surrupiar a comida da mesa do povo.

O PT diz que a Bahia vai bem. E há muita gente que acredita. A voz das urnas sinalizou isto, sem dúvida.

Temos, portanto, a Bahia da propaganda, que o PT mostra e a Bahia real, que o PT esconde.

Um registro: dois estados apresentaram queda da pobreza nos últimos quatro anos, Paraíba e Tocantins.

Interessante, os governadores de lá não são do PT.

Seria bom o governador Rui Costa conversar com eles para aprender a receita e melhorar os índices da Bahia.

araujo-costa@uol.com.br

Assaltos na BR 116: falta governo, sobra descaso.

Bahia e Pernambuco jogaram a toalha. Não conseguem negar a vergonhosa ausência de atuação governamental no que concerne à segurança pública em algumas áreas nevrálgicas de seus territórios.

Bandidos tomaram conta de diversos trechos da BR 116, mormente na chamada Faixa de Gaza, que compreende o trevo de Ibó, município de Abaré, no território baiano e o outro famigerado trevo, que abrange o município pernambucano de Cabrobó e se estende por Salgueiro e circunvizinhanças.

Não é de hoje que caminhoneiros e usuários daquela estrada, de modo geral, sofrem e reclamam dos constantes e violentos assaltos e os governos de ambos os estados dão de ombro, como se não fosse atribuição deles cuidarem da segurança pública na região.

A população daqueles municípios e todos que trafegam por lá estão atônitos, assustados, desamparados, abandonados, ao deus-dará.

Meliantes colocam pedras, pedaços de madeira, miguelitos e toda sorte de obstáculos sobre a pista, com o intuito de atrapalhar o tráfego e oportunizar a prática de assaltos até, com frequência,  na modalidade arrastão.

Em decorrência dessa prática criminosa, esses assaltantes já causaram inúmeros acidentes, alguns com mortes. Fortemente armados, assaltam à vontade, impunemente, porque contam com o descaso dos governos estaduais.

É sabido e inegável que os agentes da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar são insuficientes, embora façam o possível para evitar a ocorrência da criminalidade na região, mas falta-lhes apoio dos governos estaduais.

Por se tratar de uma rodovia federal, a Polícia Rodoviária Federal também se faz presente na região, mas com as naturais dificuldades, inclusive de efetivo.

Com tanto descaso dos governantes, a ação preventiva da polícia torna-se fragilizada e ineficiente, inobstante a abnegação e conhecida dedicação desses policiais.

A divisa dos estados da Bahia e Pernambuco, região também conhecida como “Polígono da Maconha”, está infestada de meliantes que lá encontram guarida, exatamente em razão da ausência de ações enérgicas desses relapsos governantes.

Os assaltos acontecem também e frequentemente na rodovia estadual BA 210, que liga os municípios de Juazeiro a Paulo Afonso e passa pelos territórios de Curaçá, Abaré, Rodelas e Glória.

Há anos, as ações criminosas vêm acontecendo a qualquer hora do dia ou da noite, porque onde falta autoridade sobram malfeitores.

Não obstante assaltos acontecerem em grande quantidade nos municípios baianos de Chorrochó, Abaré e Macururé, que abrangem a chamada Faixa de Gaza do sertão, tem-se notícia de que há caso em que o Boletim de Ocorrência foi elaborado em Euclides da Cunha, porque esses municípios não dispõem de estrutura próxima aos locais dos fatos.  Pelo que se vê, os municípios retro aludidos não estão preparados para enfrentar tais situações, sequer para viabilizarem a elaboração de boletins de ocorrência.

Se isto não for descaso do governo da Bahia, presume-se que tem outro nome: falta de responsabilidade ou, no mínimo, negligência em seu dever de cuidar da população.

Em quadro assim, é razoável entender que até os agentes de segurança que cuidam daquele trecho da BR 116 estão correndo perigo, máxime por duas razões: efetivo insuficiente e armamento em desvantagem com o usado pelos meliantes, geralmente abastecidos pelo tráfico de entorpecentes.

É seguramente certo que muitos desses delinquentes perigosos, que atuam na região, estão homiziados na zona rural daqueles municípios, mas o policiamento disponível não consegue alcançá-los, excetuados alguns casos eventuais.

Como se vê, as populações dessa região estão desamparadas, incluídos os usuários da BR 116, da BA 210 e estradas vicinais da Bahia e de Pernambuco.

Falta vigilância, falta policiamento ostensivo, falta governo, sobra descaso.

Todavia, Bahia e Pernambuco avaliaram muito bem seus governadores nas últimas eleições, reconduzindo-os a seus cargos, o que autoriza a entender que eles vão bem. A população é que vai mal.

araujo-costa@uol.com.br

Luta de palavras

“De literatura não se vive. Ao contrário, morre-se” (Everaldo Moreira Veras, da Academia de Letras e Artes do Nordeste)

Antigamente os amigos mandavam cartas. Hoje, se ainda nos restam amigos, mandam e-mails, quando muito.

As cartas eram emocionantes, extensas, saudosas. As mensagens eletrônicas de hoje são curtas, sucintas, frias, porque não redigidas à semelhança das cartas, calmamente, no remoer das emoções, no dizer da saudade.

Recebi e-mail de um leitor, que parece dar-se ao trabalho de ler meus textos. Pergunta, com a curiosidade de jovem: “Escrever é bom?”.

Não é. Escrever é uma luta de palavras. Contudo, vale a pena, quando essa luta é feita em benefício dos outros, principalmente de quem não tem voz para defender seus direitos. E neste caso, a luta sempre valerá a pena.

Eu comecei a fazer isto, ainda na vigência da ditadura militar, sujeitando-me a inúmeros riscos. Nos meus tempos de estudante em São Paulo fui vigiado, monitorado, questionado. Era perigoso contestar, discordar, sugerir, protestar.

Mas cito, para ilustrar, em resposta à curiosidade daquele leitor, algumas frases de escritores famosos, sobre o ofício de escrever. São conhecidíssimas, inclusive fartamente citadas pelo também escritor Fernando Sabino, em seu livro “Deixa o Alfredo falar!”.

Carlos Drummond de Andrade: “Só escreva quando de todo não puder deixar de fazê-lo. E sempre se pode deixar”;

Ernest Hemingway: “Procure lembrar-se dos ruídos e do que eles lhe dizem. Então, escreva sobre eles da maneira mais clara possível para que o leitor tenha o mesmo sentimento que você”;

William Faulkner: “Se a gente perde muito tempo se preocupando com o estilo, acaba não sobrando nada, além do estilo”;

Rachel de Queiroz: “Não gosto de escrever. Escrever é um sacrifício”;

Dionísio Jacob: “Eu acredito que o que leva alguém a escrever é uma necessidade profunda de dar expressão a uma voz interna. Seu foco é sempre o teatro da alma. Tudo aquilo que fala à alma pode inspirar ou motivar um texto”.

E por último, uma frase que li muitas vezes em minha mocidade, mas não me recordo o nome do autor. Fernando Sabino também nunca o citou, ou porque não sabia ou porque, de tanto conversar consigo e com os outros, acabou esquecendo: “O escritor é um homem que passa a vida conversando consigo mesmo. Só há uma verdadeira vantagem em envelhecer: é que, com o correr do tempo, a conversa vai ficando cada vez mais interessante”.

Por isto, escrever é difícil. Quem escreve fica esgueirando-se entre cristais para não dizer besteiras, cometer ofensas, produzir polêmicas desnecessárias e aguçar incompreensões.

Hoje, tempo de tanta idiotice, inclusive do “politicamente correto”, qualquer deslize pode ultrapassar o âmbito da gafe e enveredar-se para a esfera da ofensa. É muito tênue o fio entre o que é certo e o que os outros acham que é o certo.

Assim, vale citar outra frase de Carlos Drummond de Andrade: “Lutar com palavras é a luta mais vã, entanto lutamos mal rompe a manhã”.

Todavia, o que mais gratifica no espinhoso ofício de escrever é o interesse demonstrado por algumas pessoas sobre o que escrevemos. Mesmo que o escritor não seja famoso – e este é o meu caso – mas seja um sonhador incorrigível, um utópico que rema contra a maré do impossível, uma palavra sua pode servir de despertar.

E neste caminhar, é imperioso contribuir para que os jovens não descambem para o abismo da alienação e da mediocridade. É preciso mantê-los acordado para o mundo, mostrar-lhes a beleza da vida sem drogas, sem violência, sem agressão à sociedade.

É preciso ter coragem. Todos nós precisamos ter coragem, escrevendo ou não, para lutar por uma Pátria mais humana, onde todos sejam respeitados e tenham dignidade, independentemente da condição social que ostentam.

É estarrecedor ver pessoas humildes sendo tratadas com menosprezo, até mesmo nos tribunais, ao passo que, para os ricos, entendem-se tapetes vermelhos. Tapetes impregnados pelo odor da hipocrisia e da arrogância.

A luta de palavras far-se-á necessária, sempre. E lutar é bom. Talvez entre as palavras esteja alguma centelha de esperança para enfrentar o amanhã.

 araujo-costa@uol.com.br

A arte de amparar paredes.

O assunto é recorrente e até faz parte da cultura nacional: a preguiça de baianos e cariocas.

O jornalista mineiro Ivan Ângelo diz, em brilhante crônica: “No caso dos baianos, é mais estilo do que preguiça, é ritmo. Enquanto outros praianos descansam a metade da semana e trabalham a outra metade, os baianos vão trabalhando e descansando ao mesmo tempo”. 

Como se vê, um mérito. Os baianos também sabem inventar.

Cronista e romancista, Ivan Ângelo foi buscar lá, no começo do século XX, um amparo para sustentar essa suposta preguiça. Conta que o poeta Olavo Bilac escreveu que, em 1903, diante da grande quantidade de pessoas desocupadas no Rio de Janeiro, ouviu a seguinte pergunta de um jornalista argentino: “Que faz toda essa gente, que ampara as paredes das casas com as costas?”

Parece que o argentino confundiu não ter o que fazer com preguiça.

Na condição de baiano, saio em defesa de todos nós de minha encantadora província. Não somos preguiçosos. Damos um duro danado. Talvez tenhamos uma malemolência elegante, filosófica, uma sábia forma de viver.

Grande entendedor de hábitos e costumes baianos, o cantor Dorival Caymmi vivia em constante malemolência. Honra e glória da Bahia, Caymmi ria-se desse seu estado de graça e enfeitava essa sua maneira de viver e de muitos baianos.

Até Toquinho e Vinicius de Moraes entenderam esse espírito baiano e cantaram “Tarde em Itapoã:

“Depois, na Praça Caymmi

Sentir preguiça no corpo

E numa esteira de vime

Beber uma água de côco”.

Baiano não é preguiçoso. Sente preguiça no corpo, o que é diferente. E não cuida dessa arte de amparar paredes.

araujo-costa@uol.com.br

No meio do caminho

“Saí da autoestrada que me trazia de Florença, vinha distraído, pensando na vida, tomei um atalho que me parecia cortar caminho em direção ao centro de Roma e, de repente, me senti perdido.

Não conhecia aquelas árvores que minguavam com a chegada do inverno, nem aquelas casas esparsas e descascadas que volta e meia apareciam de um lado e de outro.

Sem referencial, sem bússola e sem cartas topográficas, o jeito foi me aproximar do homem que vinha andando pela estrada, meio curvado e, como eu, pensando na vida.

Perguntei onde estava. A resposta foi rápida e breve: “aqui”.

Não ousei contraditar a evidência de que estava ali, mas indaguei onde ficava aquele “aqui”, que ele mencionava com tanta e tamanha autoridade.

– “E eu sei?” – disse o homem, que a apesar da resposta rude, não parecia chateado.

Então, estávamos empatados, eu geograficamente, ele filosoficamente.

O diálogo seria impossível se o homem não fosse um italiano que, interrompido de pensar na própria vida, logo tratou de pensar na vida dos outros.

– “E aonde o senhor que ir? A Roma? Fazer o que lá? Sempre me perguntam onde fica Roma, e eu não sei o que tanta gente vai fazer lá”.

Pelo modo como ele falava, desconfiei de que todos os caminhos levavam a Roma, menos aquele em que me metera.

Um antepassado daquele homem, Dante Alighieri, também se perdera no meio do caminho e fora parar no inferno.

Preferi negociar:

– Olha, preciso chegar a Roma, se o senhor me der uma informação, eu posso lhe dar uns trocados.

– “Uns trocados? Pensava que Roma valia mais. Em todo caso, o senhor pegue a primeira à direita e depois vire sempre à esquerda”.

– Chegarei a Roma? Perguntei.

– “Não sei. Mas chegará a alguma parte”.

Texto extraído de “Eu, aos pedaços”, de Carlos Heitor Cony.

Observação do blogueiro:

Saudade doida de você, Cony! Você se foi antes do combinado.

araujo-costa@uol.com.br

O inoportuno Guilherme Boulos

“Nada acentua mais a autoridade do que o silêncio. Nenhum grande feito foi realizado pela loquacidade” (Charles de Gaulle, 1890-1970)

O invasor de propriedades Guilherme Boulos sofre de verborragia em estado avançado.

Disputou a eleição presidencial de 2018 e amargou 0,58% dos votos válidos do primeiro turno, o que significa que os brasileiros não lhe dão crédito. Ocupou o ridículo 10º lugar entre os concorrentes.

Entretanto, nem ao menos se fecharam as urnas, o senhor Boulos está indo às redes sociais insuflar os brasileiros a cometerem desatinos contra o presidente eleito Jair Bolsonaro.

Certamente não será ouvido, tamanha sua insignificância, a julgar pelos votos que obteve nas urnas de 07 de outubro.

A insensatez do senhor Boulos é tanta, que não lhe permite enxergar que oposição se faz a quem está no poder. É prematuro chamar o povo às ruas neste momento, sem razão plausível, porquanto a posse do eleito dar-se-á somente em janeiro.

Contesta-se o que está errado ou não se aceita por questões razoáveis. Por enquanto, existe uma expectativa de poder, que somente se completará com a posse do eleito.

Ir para as ruas agora, como quer o senhor Boulos, significa ir contra a maioria que escolheu o presidente e não contra o escolhido.

É um desrespeito a quem votou diferente do senhor Boulos. Não há outra explicação que se aproxime da razoabilidade.

Despreparado e inoportuno, Boulos ainda se diz democrata. Ele precisa ler mais os compêndios de ciência política, para aprender que democracia não se compatibiliza com radicalismo.

Ser democrata é, basicamente, conviver com os contrários, saber respeitar a decisão da maioria.

Oposição se faz com debates de ideias na ocasião própria e não se valendo de baderna.

O senhor Boulos fala em democracia a todo instante e diz acintosamente que a pratica. Sofre de verborragia. Falta-lhe conteúdo responsável, útil, aproveitável.

Como ser democrata uma pessoa que não respeita a vontade das urnas?

Como ser democrata um sujeito que invade bens particulares, lixando-se para o direito de propriedade assegurado a todos os brasileiros pela Constituição da República?

Como ser democrata um suposto líder que, embora rico, usa a boa-fé de pessoas humildes, prometendo-lhes moradias, com o intuito de se destacar politicamente?

Pelo que se vê, o senhor Boulos aposta na confusão e não na democracia, talvez por ser incapaz de ostentar voz de liderança respeitável.

O senhor Boulos se arvorou líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), desafortunados que não têm onde morar.

Não se tem notícia de que o senhor Guilherme Boulos já mostrou a esses desafortunados a casa e o bairro onde mora em São Paulo. Certamente está longe de ser um sem teto.

Encerradas as eleições presidenciais de 2018, somente duas lideranças se destacam no cenário nacional como capazes de fazer oposição ao presidente Bolsonaro: Ciro Gomes e Fernando Haddad.

Ciro Gomes, porque é líder por excelência e Haddad, porque saiu fortalecido da disputa presidencial, não obstante o descaso que lhe fizeram lideranças do seu próprio partido.

Guilherme Boulos não se situa nessa expectativa de opositor respeitável. É um zero à esquerda, em se tratando de oposição séria. Não sabe negociar, ponderar, discordar, qualidades essenciais a quem faz oposição séria.

Os estrategistas políticos americanos têm uma máxima: “as pessoas às vezes se cansam de ouvir um político falar e é sensato que ele se retire de tempos em tempos da arena pública para, quando voltar, suas palavras adquirirem impacto muito maior”.

Seria bom para os ouvidos de muitos brasileiros que o senhor Guilherme Boulos se retirasse por algum tempo do cenário político. Quem sabe voltaria mais maduro e mais sábio, qualidades que hoje lhe faltam.

araujo-costa@uol.com.br

Brasil: o PT cavou a própria derrota

O Brasil escolheu Jair Bolsonaro para seu trigésimo oitavo presidente da República no período 2019-2022.

Capitão da reserva do Exército, o novo presidente é graduado pela respeitada Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), de Resende (RJ), cérebro do ensino militar. Seu concorrente Fernando Haddad é graduado pela também respeitada Universidade de São Paulo (USP), instituição de peso no ensino do Brasil.

Não houve surpresa no resultado da eleição. A vitória de Bolsonaro era esperada nos bastidores e ambientes politizados e bem informados de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro.

Em São Bernardo do Campo, berço político de Lula da Silva, padrinho político de Haddad, até as moscas sabiam que a derrota do candidato petista era favas contadas, não em razão do candidato em si, que é um bom rapaz, mas pela pouco caso que o PT fez dos brasileiros quando ocupou o poder, dilapidando os cofres públicos vergonhosa e acintosamente.

O PT desdenhou dos brasileiros ao fazer cara de paisagem na campanha, como se os graves erros que cometeu tivessem de ser engolidos pela sociedade, subservientemente.

Sequer pediu desculpas à sociedade. Sequer pediu outra chance aos brasileiros para voltar ao governo da República. Sequer teve a humildade de dizer que errou.

O PT engasgou-se com a própria arrogância.

Cientistas políticos, comentaristas de televisão, jornalistas, blogueiros e influentes líderes nacionais não podiam admitir a derrota de Haddad antecipadamente, por uma questão ética e para não ferir os princípios do bom jornalismo. Primeiro fazia-se necessário ouvir a voz última das urnas, o veredicto da vontade popular.

Até eleitores tradicionais do PT decepcionados com o lulopetismo passaram a exigir mudança. Compreensível. O surrado discurso do PT (“o Brasil feliz de novo”) não colou, porque petistas conscientes e aliados de sempre sabiam que se tratava de embuste com o intuito de ganhar a eleição. Abandonaram o barco.

Não se sabe por que o slogan “o Brasil feliz de novo”. Não se sabe sequer, se o País foi feliz algum dia. Com o PT no poder certamente não foi. Está provado.

Petistas mais arraigados não notaram que o barco estava à deriva. Uns por convicção, outros por fanatismo e outros tantos por ainda estarem pendurados em benesses, posições, cargos, salários e vantagens que o partido e aliados lhes viabilizaram.

Esses continuaram na contra mão da história e defendendo ferozmente o partido, ao contrário dos petistas pragmáticos, aqueles que laboram no terreno da seriedade partidária e preferem andar ao lado da verdade. São muitos, felizmente.

Diga-se a verdade: há muitas pessoas decentes no PT. Nem tudo está perdido.

O PT aliou-se ao PCdoB, que ainda acredita em Papai Noel. O comunismo acabou aqui e no mundo ou está se extenuando, mas pretensos idealistas insistem que ele ainda existe e governará os povos.

As matrizes do comunismo se dissolveram. Hoje o comunismo é tão somente uma teoria ultrapassada. Não há como passar da teoria à prática.

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) se desfez para não perder o bonde mundial; Cuba massacrou sua população de fome, restrição de direitos e atraso e hoje está saindo aos poucos do sufocante casulo em direção ao mundo; a China abraçou o capitalismo e disputa o mercado internacional com outros países, para não se isolar do mundo consumidor, que é a mola do desenvolvimento. São apenas alguns exemplos.

As atentas jornalistas Marina Dias e Catia Seabra,  da Folha de S.Paulo, captaram o estado de ânimo de Haddad, em forma de desabafo, num momento da campanha eleitoral.

Visivelmente nervoso, antes de uma entrevista à televisão, Haddad disse a um assessor preocupado, que queria saber o que estava acontecendo: “Minha vida está fácil: só me pediram para entrar no lugar do Lula, ganhar a eleição, tirá-lo da cadeia, arrumar a economia e depois voltar a ser Fernando Haddad”.

De outra feita, em confidência a um amigo, Haddad desabafou: “Se eu ganhar, o mérito será do Lula. Se eu perder, a culpa será minha”.

Haddad estava certo. Mas fraquejou ao aceitar ser marionete de Lula da Silva, ajoelhar-se seguidamente aos seus pés no presídio, obedecer a suas ordens e rebaixar-se diante dos brasileiros. Virou ventríloquo.

Um dos pontos baixos da campanha de Haddad foi quando ele declarou que, se eleito, subiria a rampa do Palácio do Planalto em companhia de Lula, que seria seu conselheiro.

Parece razoável entender que essa declaração lhe tirou milhões de votos. Espezinhou a sociedade e isto não lhe caiu bem. Como os brasileiros poderiam aceitar que um presidiário, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, preso e cumprindo pena, pudesse ditar as normas do governo da República?

Haddad demonstrou fragilidade, ausência de vontade própria, servilismo, caráter duvidoso. Sua liderança se ofuscou em meio à fumaça da malandragem petista. O eleitor notou isto e Haddad passou a ser conhecido como “pau mandado” de Lula. A imagem grudou.

Mais: parte de graúdos dirigentes do PT não queria Haddad. Ele sempre foi um estranho no ninho petista e até chegou a sinalizar que sairia da agremiação, após a derrota na eleição de 2016, quando não conseguiu se reeleger prefeito da capital de São Paulo e o PT lhe abandonou. Sustentou-se no partido porque Lula o queria lá para lhe servir quando e onde precisasse, o que acabou acontecendo. Haddad caiu na esparrela.

O primeiro sinal de derrocada do PT foi nas eleições municipais de 2016. As urnas foram cruéis com o partido naquele ano em todos os estados. O PT deu de ombro, fez de conta que não era com ele. Está pagando o preço da arrogância.

O PT escolheu sua derrota em 2018 bem lá atrás, quando, no governo, abandonou seus princípios estatutários e igualou-se aos demais partidos políticos tradicionais e corruptos, comprou deputados (mensalão), chafurdou na lama da corrupção (petrolão), somou-se ao fisiologismo e trilhou o caminho da mesmice vivida pelos políticos durante séculos.

O povo viu, compreendeu, deu o troco.

Mas o PT cavou a própria derrota.

Post scriptum:

Confesso que não consigo vislumbrar a importância do apoio de Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, à candidatura de Haddad. A imprensa deu grande destaque. Joaquim Barbosa é advogado, ex-presidente do STF. Nada mais. É incapaz de mudar os rumos de uma eleição presidencial no penúltimo dia da campanha. Tem apenas o seu voto, que é secreto e por isto não se sabe se votou mesmo em Haddad.

araujo-costa@uol.com.br

Os erros da campanha de Jair Bolsonaro

A campanha eleitoral do candidato do Partido Social Liberal (PSL) não é uma campanha, propriamente. Mas é seguramente certo, que é um amontoado de erros, mormente em razão da falta de experiência do partido e aliados mais próximos do capitão Jair Bolsonaro.

Bolsonaro e sua equipe não têm know how, não têm conhecimento e saber prático na condução de campanhas eleitorais. O PT tem. Experiência e malandragem política, com um diferencial: não joga limpo, nunca jogou limpo. Ou porque o jogo eleitoral é mesmo sujo ou porque o PT não prima pela dignidade.

A esteira de apoio a Bolsonaro nasceu e cresceu espontaneamente, com destaque nas redes sociais, pulverizou-se em todas as regiões do Brasil e, mais do que isto, o PSL não conta com altas somas de dinheiro para sustentar a campanha, a exemplo do PT, que só de Fundo Partidário abocanhou mais de R$ 212 milhões.

Bolsonaro, ao contrário, sustenta-se na vontade de parte da sociedade, que leva adiante a campanha e sonha em sair vitoriosa nas urnas de domingo próximo.

Contudo, no decorrer da campanha do PSL surgiram erros monumentais. Tais erros começam por asneiras ditas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do candidato presidencial e, mais do que isto, com opiniões de alguns militares da reserva do Exército, inegavelmente despreparados para lidarem com estratégias e questões eleitorais.

Uma coisa é a linguagem dura, a conduta castrense, a disciplina dos quartéis. Outra é, completamente diferente, a selvageria das disputas eleitoras.

Campanhas eleitorais devem ser dirigidas e tocadas por quem entende, como é o caso do PT, que contrata marqueteiros profissionais mediante pagamento de somas milionárias. É tradição do partido.

Quem não entende dos meandros da política e estratégias eleitorais, o mínimo que deve fazer é fechar a boca para não atrapalhar e, se puder e de preferência, ficar em casa quietinho.

Por outro lado, falas e opiniões do próprio Bolsonaro desenterradas de sua vida  e atuação parlamentar estão sendo usadas pelo PT para desconstruir a imagem do adversário. São opiniões na linha diversa do politicamente correto, sabiamente exploradas pela esquerda, em desfavor do candidato do PSL. Vem dando certo.

Outra falha da campanha de Bolsonaro é a incapacidade de derrubar as acusações feitas pelo PT e, ato contínuo, apontar os erros do partido, que são muitos e comprovados. Bastava ter apresentado a folha corrida dos dirigentes petistas e provar que eles estão muito longe de parecer freiras contemplativas.

Por outro lado, há um silêncio patético da parte do candidato do PSL sobre as acusações do adversário, postura que beneficia sobremaneira o candidato do PT, que Lula da Silva jogou nessa fogueira de vaidades.

Há exageros na propaganda eleitoral do PT, mas se a legislação não coíbe tais exageros, o partido faz.  “Vai que cola?”. E tem colado, eficientemente.

Por exemplo, atribuir ao candidato do PSL a predileção pelo sofrimento humano através de tortura e, mais do que isto, levar para a televisão imagens ilustrativas dessas práticas abomináveis, que não mais existem, não é ético, além de incompatível com o momento por que passa a sociedade brasileira.

A tortura é página virada de nossa história. É desonesto o PT insistir nisto.

O que menos Haddad e Bolsonaro discutiram foi proposta de governo.

O PT partiu para chutes certeiros abaixo da cintura do adversário. Isto o partido sabe fazer e, convenhamos, com desenvoltura e eficiência. Prioriza as acusações, o vale tudo, os ataques. Danem-se a ética e a decência.

De qualquer forma, a inexperiência do PSL e a desfaçatez do PT tiraram o brilho da campanha eleitoral.

A campanha podia ter-se baseado em propostas de mudança, que os brasileiros precisam. Faltou razoabilidade no nível da campanha.

O Brasil comporta campanhas eleitorais sérias, limpas, respeitosas, embora pareça estar longe disto.

Os erros primários da campanha de Jair Bolsonaro e a acidez da propaganda do PT contribuíram enormemente para dificultar o eleitor no momento de escolher o próximo presidente da República.

araujo-costa@uol.com.br

Conversa de “envelhescente”

Já se vão, por aí, alguns lustros, décadas, tempestades.

Na década de 1970 havia uma pensão na Rua Brás Cubas, centro de Santo André, coração do ABC paulista. A pensão não existe mais. O progresso imobiliário extirpou-a do local, mas não conseguiu extirpar as lembranças e a saudade dos amigos da época. 

A pensão abrigava rapazes, geralmente estudantes e alguns senhores circunspectos, que ainda cavavam a vida. Morei lá, vivi lá, aprendi muitas coisas lá. Dessas, pratiquei umas, abandonei outras e tenho dúvidas se acertei ou errei ao não ter seguido outras tantas.

O ambiente era central e acolhedor, vizinho à bela e histórica catedral diocesana de Nossa Senhora do Carmo, onde está enterrado Dom Jorge Marcos de Oliveira, o primeiro bispo de lá, perto de tudo e inserido nos acontecimentos da fervilhante região do ABC.

A história de Dom Jorge Marcos é encantadora, mas já me referi noutras crônicas.

Como é praxe nesses ambientes de juventude e de luta inicial da vida, naquela pensão nasceram amizades, sedimentaram-se experiências, dissolveram-se arrogâncias e, mais do que isso, aprendiam-se modos de viver.

Aliás, toda pensão e seus quartos têm modus vivendi, regras sociais sadias criadas por seus ocupantes. Toda pensão é um simulacro de nossa sociedade, às vezes conturbada, outros vezes tranquila, quase sempre incompreensível.

Lembro um amigo, Elias Pedro dos Santos. Convivemos lá na pensão, inquietos, barulhentos, combativos. Ele já professor de uma respeitável instituição paulista; eu ainda estudante, sem nenhuma âncora profissional, impaciente com as incertezas da vida.

Elias é um sujeito que cultiva as amizades, preocupa-se com elas e, sobretudo, não as abandona. É intransigente na defesa de seus amigos. Quase quatro décadas depois me localizou e honrou-me com a sua visita.

Senti-me vaidoso, rejuvenescido com sua visita. Como nos tempos de pensão, continua inquieto, buliçoso, bem humorado. Mas a passagem do tempo lhe trouxe uma marca: os cabelos homogeneamente brancos, tingidos pelo tempo. Marca que, além da experiência, significa fidelidade aos seus princípios de berço tradicional nordestino. É intransigente defensor da família e, sobretudo, reverencia Deus e a plenitude de seus desígnios.  

O escritor Mario Prata adotou uma teoria um tanto lógica e curiosa: o período da “envelhescência”. Diz ele que essa fase da vida se situa entre a maturidade e a velhice, vai dos 45 aos 65 anos. É a preparação para a velhice, aduz o escritor, assim como depois da infância segue-se a adolescência, que é a porta de entrada da maturidade. Sendo assim, já estou mais adiante no caminho da vida.

Então, creio, a “envelhescência” traz reflexão e inquietude. Inevitável olhar para trás e perceber o diluir de muitas esperanças, até mesmo as idealizadas em quartos de pensão; inevitável antever o futuro e observar o pouco tempo que resta para a realização dos sonhos que ainda pretendemos alcançar. A construção desses sonhos claudica diante da exiguidade do tempo. O horizonte se distancia, mas a coragem persiste. 

Mas o certo é que na “envelhescência” adquirimos envergadura para não aceitar mais algumas coisas. Por exemplo, que pessoas empoleiradas no poder nos empurrem goela abaixo coisas que elas se acham no direito de fazer e determinar. Os governantes gostam muito disto. Adoram empurrar imbecilidades em nossos orifícios.

Também temos dificuldade de aceitar, que mentecaptos outros, que querem chegar ao poder, achem que somos todos idiotas, mormente em épocas de eleições, a ponto de aceitarmos as esdrúxulas ideias deles, ideias vazias, frágeis, inaceitáveis, imbecis, desprezíveis.

Naquele tempo da pensão de Santo André, lutávamos por um Brasil melhor. Hoje os momentos de reflexão insistem em dizer que fracassamos.

O Brasil piorou. Minha geração não.

Como “envelhescente”, a única certeza é que valeu a pena a sequência dos tropeços e a poeira que sacudimos ao caminhar em direção aos nossos sonhos.

                                                   São Bernardo do Campo, outubro, 2018