Haddad tenta dialogar com a indiferença

“Não se faz política sem vítimas” (Tancredo Neves).

Fernando Haddad foi obrigado a assumir sua candidatura presidencial, em decisão tardia, mas necessária.

A equipe de confiança de Haddad o convenceu de que é por demais constrangedor ele ir quase todos os dias ao cárcere, ajoelhar-se aos pés de Lula e ouvir as ordens do morubixaba petista, o que tem sido para ele uma rotina embaraçosa.

Pessoas próximas a Haddad orientaram-no no sentido de assumir sua identidade, ser ele próprio o candidato presidencial e não fantoche do ex-presidente Lula, o que lhe desmoraliza como político e dá munição aos adversários. Haddad aceitou a sugestão aliviado.

Haddad não é títere, mas vítima da malandragem política de Lula, que o usou até mais não poder.

Já está dando certo a decisão da campanha de Haddad. O nome de Lula vai ser omitido, paulatinamente, nas falas e propagandas do segundo turno e, mais do que isto, a coordenação da campanha petista está adquirindo ares de seriedade, o que não se via antes.

O senador eleito e ex-governador da Bahia Jaques Wagner parece que vai integrar a coordenação da campanha presidencial petista e já ponderou: “o povo precisa conhecer o Haddad. Ele tem de assumir personalidade própria”.

Jaques Wagner era a primeira opção de Lula para a cabeça de chapa, em sua substituição. Experiente, declinou do abacaxi e abraçou a candidatura ao Senado da República. Está rindo à toa, sentado na prerrogativa de foro adquirida nas urnas da Bahia. Se a Lava Jato não lhe importunar até 31 de janeiro de 2019, somente poderá fazê-lo depois de oito anos.

Entretanto, Lula sinalizou para que Jaques Wagner passe a coordenar a campanha de Haddad, diante do clima de desânimo que tomou conta do candidato, após o primeiro turno das eleições, tendo em vista que ainda persiste a divisão do PT no que tange à candidatura Haddad.

Também faz parte da equipe que tenta mudar os rumos da campanha presidencial petista o ex-guerrilheiro Franklin Martins, homem de estrita confiança de Lula e profundo conhecedor de suas intenções na área da imprensa e Gilberto Carvalho, “o seminarista” de Santo André, pés e mãos de Lula.

A preocupação petista é que Jair Bolsonaro cresceu em todas as regiões, exceto no Nordeste, o que já era esperado. Isto tem dificultado as negociações do núcleo da campanha de Haddad para angariar apoios no segundo turno.

Os eleitores de Bolsonaro não se vinculam a líderes partidários e por isto a ausência de canais na campanha de Haddad tendentes a atrair tais eleitores para seu lado e mais alguns incautos.

Certo mesmo, por enquanto, só o apoio do lulista convicto Ciro Gomes, o que já se esperava e também o pífio apoio do invasor de propriedades Guilherme Boulos.

Haddad forçosamente terá de tentar dialogar com a indiferença, com o antipetismo e com os eleitores decepcionados com os desacertos da era Lula/Dilma.

É um tanto difícil.

araujo-costa@uol.com.br

Haddad e a sabedoria de Jaques Wagner

Diz o conhecido ditado popular que “água de morro abaixo, fogo de morro acima e eleitor querendo trair, ninguém segura”.

O encerramento da campanha de primeiro turno de Fernando Haddad dar-se-ia no ABC paulista, mais precisamente em São Bernardo do Campo, berço do Partido dos Trabalhadores e local da residência de Lula da Silva. Este é um simbolismo muito caro ao lulopetismo.

Todavia, o vertiginoso crescimento do capitão da reserva do Exército Jair Bolsonaro nas pesquisas de opinião, mormente no Nordeste, reduto de Lula até aqui inquestionável, fez com que a direção da campanha do candidato petista o deslocasse para o município baiano de Feira de Santana, salvo alguma mudança de última hora.

Lá, mais à vontade, ao lado de Jaques Wagner e do governador Rui Costa, Haddad vai repetir o discurso lulista de defensor dos pobres e oprimidos.

A estratégia parece errada, como outras que o PT adotou nesta campanha. Na Bahia, Jaques Wagner e Rui Costa, salvo improvável tsunami nas urnas, estão com a eleição garantida para o Senado e governo da Bahia, respectivamente, ao passo que há outros lugares mais desfavoráveis a Haddad, que precisam da presença dele.

Todavia, o PT quer encerrar a campanha com apoteose e a Bahia é o lugar ideal, porque a maioria do eleitorado vota no PT, segundo os institutos de pesquisas, diferentemente do ABC paulista. Na Bahia, todo mundo o agrada, eleva-o à glória, exalta-o.

Quanto ao sensato Jaques Wagner é homem de partido. Desde a indefinição do nome de Lula, em razão de entraves jurídico-processuais, ele entendia que, no caso de impedimento do ex-presidente, o PT não deveria lançar candidato próprio, mas apoiar um nome viável de outro partido.

Wagner tinha simpatia por Ciro Gomes que, segundo ele, ainda tem chances de corresponder às “expectativas dos eleitores”.

O PT não aceitou a sugestão do ex-governador baiano. E Jaques Wagner passou a falar a mesma língua do partido e até embarcou na patacoada do ineficaz movimento “Lula livre”, embora soubesse que Lula estava juridicamente impedido de disputar a eleição presidencial. Mas é homem de equipe, estava fazendo o seu papel.

Jaques Wagner era o nome ideal para substituir Lula na chapa presidencial de 2018. Esperto, declinou da condição e preferiu a eleição para o Senado da República, que lhe garante oito anos de mandato, além de foro privilegiado.

Sobrou para Fernando Haddad, a outra opção de Lula.

Haddad segurou o rojão, embora uma parte dos petistas graúdos não o quisesse. Houve muita conversa,  Lula bateu o martelo e mandou que todos obedecessem.

No PT ainda é muito clara a máxima “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. E quem manda no partido é Lula e os demais obedecem, baixam a cabeça, subservientemente.

Contudo, Haddad não é homem de palanque. É uma cria da universidade. Intelectual, professor, mestre em economia e doutor em filosofia. Tem dificuldade de conviver com as cobras e lagartos petistas. Haddad tem pinta de sério e de defensor de suas convicções, o que é muito difícil estando no PT.

Em recente visita a Juazeiro da Bahia, Haddad ficou visivelmente desconfortável, quando um militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra colocou um boné vermelho na cabeça do candidato presidencial. Haddad o tirou de imediato. Percebeu a gafe e o recolocou, mas, em seguida, livrou-se do incômodo boné. Um pouco de timidez, quiçá falta de costume com a demagogia das campanhas eleitorais.

Quando o PT o abandonou em 2016, depois de derrotado na disputa pela reeleição de prefeito de São Paulo, Haddad esteve em vias de deixar o partido, mas o esperto e estratégico Lula o impediu. Lula sabia o que estava fazendo.

Agora, às vésperas do primeiro turno, Haddad encarna o sonho de vitória dos petistas e aliados e ostenta a dificuldade de carregar o pesado fardo com os erros do partido. Até o momento, não tem conseguido justificar o conteúdo da maracutaia que o PT lhe passou às mãos.

Difícil mesmo de Haddad carregar é a tendência do eleitor no sentido de aderir à candidatura de Bolsonaro nesta reta final da campanha.

Não deixa de ser uma preocupação para o polido Fernando Haddad. Se ele for eleito, sairá das urnas com cacife suficiente para mudar o rumo das práticas estrambóticas do PT e firmar-se como líder à semelhança de Jaques Wagner.

araujo-costa@uol.com.br

Entrevista: Lula da Silva também pode

Há inúmeros precedentes de presidiários que concederam entrevistas à imprensa, mormente à televisão, em programas de apresentadores e repórteres sensacionalistas, com claro intuito de angariar audiência e não, propriamente, de prestar informação à sociedade.

Para ficar em alguns exemplos, cito os questionáveis Roberto Cabrini e Gugu Liberato, mestres do sensacionalismo televisivo.

Se outros presos podem, Lula da Silva também pode. A lei é igual para todos ou, pelo menos, deveria ser. Cabe à administração do presídio, em primeiro lugar, permitir ou não a entrevista, desde que não arranhe os ditames da Lei de Execuções Penais e regulamentos internos.

Agora, o Supremo Tribunal Federal envolveu-se num considerável quiproquó, porque a Folha de S. Paulo pediu autorização para entrevistar Lula da Silva na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.

Em princípio autorizada, a possível entrevista foi contestada e deslizou-se até chegar à mesa do amigo e habitué da cozinha de Lula da Silva, ministro Enrique Ricardo Lewandowisk, que autorizou a entrevista. Creio que com razão. O homem entende de direito, sim. É uma sumidade. Foi meu professor.

Entretanto, o vice-presidente do STF, ministro Luiz Fux revogou a decisão de Lewandowisk, que não gostou, obviamente. Ambos não podem se encontrar nos corredores do Supremo Tribunal Federal.

O caso caiu no colo do neófito presidente do STF, ministro Dias Toffolli, que o remeteu para o plenário do Tribunal, a instância certa para dirimir casos assim, envolvendo conflitos de interpretação entre ministros da Corte Suprema.

O plenário do Supremo Tribunal Federal certamente vai autorizar a entrevista de Lula, não somente à Folha de S. Paulo, mas a quaisquer órgãos de imprensa que eventualmente tenham interesse.

A liberdade de expressão do pensamento é direito de Lula da Silva e de todos os brasileiros abrigados sob o manto constitucional.

Entretanto, a questão chegou a esse ponto pelo seguinte: a entrevista foi pedida por uma jornalista sabidamente petista de carteirinha e, mais do que isto, solicitada às vésperas das eleições de sete de outubro próximo.

A conceituada jornalista teve tempo de sobra para pedir a entrevista com Lula. Ele está encarcerado desde abril. Propositadamente, deixou o pedido para as vésperas das eleições, para dar “Ibope”, melhor “Datafolha” .

Não precisa ser inteligente para pressupor que a entrevista de Lula não obedecerá a nenhum estilo jornalístico. Será um palanque para seu manjado discurso político, com o intuito de pedir votos para o PT, aliados e seus candidatos, mormente para Haddad.

Mas, se outros presos podem dar entrevista, Lula da Silva também pode. É inquestionável. Ou então, não se permita entrevista com nenhum preso.

A jornalista combinou a entrevista com a eficiente e estratégica assessoria de Lula da Silva, mas esqueceu de “combinar com os russos”, ou seja, com o Poder Judiciário que, ainda, apesar de tudo, é o poder mais sensato da República.

A entrevista foi pedida corretamente. O momento é que está errado. Podia ter sido antes. Pode ser depois das eleições.

Lula faria  e fará campanha do mesmo jeito. É seu direito, é seu estilo.

Aliás, por mais que a Polícia Federal e a Justiça silenciem, a cela-suíte de Lula da Silva em Curitiba é um sofisticado comitê eleitoral. Se permitem, ele pode usar.

araujo-costa@uol.com.br

Lula da Silva e o uso do cachimbo

“Quem não gosta do Brasil não me interessa” (Gilberto Amado, 1887-1969, diplomata e jurisconsulto)

Diz o conhecido ditado que “o uso do cachimbo deixa a boca torta”.

Todos sabem que Lula da Silva fuma charutos somente de finíssima qualidade, sendo certo que muitos deles foram presenteados pelo amigo e ditador cubano Fidel Castro.

Fidel Castro morreu, mas Lula continuou fumando charutos cubanos. Tinha muitos, inclusive armazenados no famigerado sítio de Atibaia, que Lula diz que não é dele e nunca foi dele, mas havia muitas caixas de charutos cubanos guardados lá.

Lula não sabe como os charutos cubanos que ele fumava foram parar no sítio de Atibaia, que não é dele.

Entretanto, fumar charuto ou cachimbo, não tem importância. O que se ventila é a repetição de atos pelo ex-presidente, atos esses já exaustivamente criticados pela sociedade.

Parece razoável entender que Lula não aprendeu amargas lições do passado, mormente as advindas do mensalão. Está incorrendo em contumácia, aquela figura jurídica prevista nas leis penais que depõe contra a conduta do delinquente, o que não significa necessariamente que ele seja um.

Revista de circulação nacional, a ISTOÉ publicou que Lula mandou um condenado do mensalão petista, que até hoje ele diz que nunca existiu, fornecer dinheiro para o deputado Weverton Rocha, candidato ao Senado da República pelo PDT do Maranhão.

Lula autorizou o amigo presidiário em bilhete: “Faça chegar dinheiro à campanha de Weverton Rocha”.

O também presidiário e amigo de Lula, segundo a revista, é o político paulista Valdemar Costa Neto, que comanda o Partido da República (PR) e tem tentáculos no Ministério dos Transportes. Dizem que ele mandou lá durante o governo Lula, no governo de dona Dilma Rousseff e continua mandando no governo Michel Temer.

Fala-se que o preço do deputado maranhense foi avaliado em R$ 6 milhões. O dinheiro foi transportado de jatinho, como acontecia antes nos tempos do mensalão e do petrolão – que Lula não sabia – e serviu para comprar o deputado federal e candidato ao Senado.

Até aí, nenhum surpresa, porquanto prática conhecida do PT, que Lula não sabia. O que surpreende é a contumácia de Lula e, sobretudo, o objetivo da compra do vendável deputado e candidato ao Senado: abandonar o apoio a Ciro Gomes – que nada mais é do que um lulista enrustido e traído pelo próprio Lula – e passar a apoiar Haddad, ventríloquo de Lula, o que o deputado comprado fez imediatamente, que não é de ferro,  tendo em vista tanto dinheiro.

Ironia: o dinheiro que Lula pagou, por intermédio do amigo presidiário, para o candidato maranhense trair Ciro foi transportado num avião marca Cirrus. Uma coincidência que mais parece código.

“Dinheiro por onde passa amolece”, dizia o sábio nordestino e paraibano José Cavalcanti, que costumo citá-lo neste espaço. Este escrevinhador costuma citar os sábios, os inteligentes, os experientes.

Assim, no Maranhão, o dinheiro amoleceu o vendável deputado Weverton Rocha, que mudou de lado e hoje – parece – é Haddad roxo, apesar de ser do PDT, partido do presidenciável ex-governador cearense Ciro Gomes.

A imprensa lulista e os blogs que o apoiam ficaram silentes, talvez estupefatos e nada comentaram sobre o fato de o ex-presidente, mesmo preso, continuar cometendo as mesmas práticas reprováveis da época do mensalão e do petrolão, que ele nunca ouviu falar.

Não importa se o deputado comprado é do Maranhão ou de outro estado, mas vale aqui o registro: Lula da Silva corre o risco de ficar com a boca torta de tanto usar o cachimbo da malandragem.

Lula precisa gostar mais do Brasil e menos dos políticos. Quem gosta do Brasil não precisa se vender. Quem gosta do Brasil não precisa comprar votos.

araujo-costa@uol.com.br

Para o PT, a lógica não tem lógica.

 

O PT tem dito e repetido, inclusive nas propagandas eleitorais, que “Lula é Haddad” e “Haddad é Lula”.

Esse subterfúgio interessa unicamente ao partido porque, além de confundir os eleitores dos chamados grotões, que não acompanham noticiários, os votos de Lula são carreados para Haddad, a chamada transferência de votos, por uma questão razoavelmente simples: Lula tem votos, Haddad não tem.

Em diversas partes do Brasil, o PT até distribuiu impressos com a conhecida cola, orientando o eleitor a votar. Nesses impressos, o nome de Haddad é substituído pelo nome de Lula. Ou seja, o PT admite que o eleitor vota em Lula, porque Haddad não existe. É uma ficção eleitoral.

Na Bahia e em Santa Catarina, a Justiça Eleitoral mandou apreender a propaganda enganosa, constando Lula como candidato a presidente, o que também deve acontecer noutros estados.

O PT tenta justificar a malandragem, dizendo que os impressos já estavam prontos antes da impugnação da candidatura de Lula. Conversa mole. Desde a confirmação da sentença condenatória de primeiro grau pelo Tribunal Regional Federal competente, Lula já sabia que não podia ser candidato.

Lula pode ser chamado de tudo, menos de ingênuo. Mais: é bem informado e rodeado de assessores experientes.

Lula determinou que a batalha jurídica em sua defesa adquirisse viés político, para ficar em evidência, até o momento da substituição de seu nome na disputa eleitoral.

Ontem, em São Bernardo do Campo, berço do PT, adversários do partido em campanha, inflaram o conhecido boneco pixuleco representando Lula da Silva com roupa de presidiário, mas colocaram uma fotografia de Haddad cobrindo a cara de Lula. Até ficou bonitinha a cara do Haddad.

Foi o suficiente. Defensores do PT e admiradores de Lula fizeram o maior escarcéu e, por pouco, não houve violência física. A Polícia e a “turma do deixa disso” evitaram as agressões.

A lógica do PT só funciona quanto favorável ao partido. Se não for, não tem lógica.

Se “Lula é Haddad” e “Haddad é Lula”, como diz o PT, que diferença faz substituir no pixuleco o rosto de Lula pelo rosto do Haddad?

Neste caso, parece que o folclore político substituiu, com vantagem, qualquer interpretação de possível ofensa.

araujo-costa@uol.com.br

A milionária mudança da juíza da Bahia

“Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos” (Stanislaw Ponte Preta).

Uma juíza do Trabalho de Irecê, centro-norte da Bahia, foi transferida para Eunápolis, que fica no sul do Estado. Sorte dela.

Sua Excelência ganhou, a título de ajuda de custo, para fazer a mudança, a mísera quantia de R$ 28,9 mil, o que aumentou seus vencimentos e demais penduricalhos, num único mês, para R$ 62,7 mil. Ela já tem direito ao auxílio moradia de R$ 4,3 mil por mês.

Em agosto, a juíza baiana recebeu vencimentos de R$ 62,7 mil, bem acima do teto constitucional de R$ 33,7 mil que a Constituição da República diz que é o máximo que um servidor público pode ganhar.

Sabemos que o teto é uma ficção, uma previsão constitucional hipócrita. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, um juiz de 47 anos de idade ganhou R$ 500 mil num único mês. O Tribunal de Justiça de lá disse que está certo. E o Conselho Nacional de Justiça, que ampara o corporativismo, confirmou.

O Tribunal Regional do Trabalho da Bahia disse que, neste caso, está certo, como dirá que está certo em todos os outros casos. Baseia-se numa regra de 2012 do próprio Tribunal, validada pelo Conselho Nacional de Justiça.

Está certo, mas sustenta a imoralidade.

A regra do Tribunal “prevê pagamento de despesas de transporte pessoal do magistrado, servidor e de seus dependentes, além do transporte de mobiliário, bagagem e automóvel” (Bahia Notícias, 12/09/2018).

A distância entre Irecê e Eunápolis parece ser de 789 quilômetros ou próximo disto.

Presume-se que uma transportadora idônea – e há muitas – cobraria bem mais barato do que os R$ 28,9 mil que o Tribunal pagou à magistrada para arcar com suas despesas de mudança.

Não só alguns privilegiados juízes precisam mudar de residência. O Brasil também precisa mudar de mentalidade e restaurar a moralidade, a começar pelo Poder Judiciário.

araujo-costa@uol.com.br

 

Chorrochó e a professora Maria Therezinha de Menezes.

“É não saindo de casa que a gente acaba sabendo das coisas” (Joel Silveira, 1918-2007).

Hoje completa-se mais um ano na vida de minha professora Maria Therezinha de Menezes.

A professora Maria Therezinha de Menezes, ícone da educação de Chorrochó, não saiu de casa, nunca abandonou sua aldeia, mas acabou sabendo muito das coisas. Entende de conhecimento, de vida, de experiência.

É conhecida a frase de Leon Tolstoi (1828-1910): “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.

A professora Therezinha sempre pintou com tintas próprias a aldeia em que vive. E pinta muito bem até hoje, com dedicação e maestria.

Eficiente e refinada professora, lídima e notável integrante da família Menezes é mestra conspícua de estilo próprio e sábia intérprete da sociedade chorrochoense.

Católica tradicional e respeitável educadora, a professora Therezinha ocupa ilustre destaque em Chorrochó, inclusive enriquecendo as atividades da Paróquia Senhor do Bonfim. É fervorosa defensora do centenário Apostolado da Oração e de tantas outras tradições que lá se fazem presentes.

Lembro uma frase de D. Guido Zendron, bispo de Paulo Afonso, ao se referir ao Apostolado da Oração de Chorrochó: “Na história da salvação, o que importa não são os anos, os meses ou os dias, mas as pessoas. Dentro dessa história, nós vamos encontrar pessoas que de um jeito ou de outro corresponderam ao amor de Deus com toda fragilidade humana” (Rádio Vale do Vaza Barris, 17/08/2015).

A professora Therezinha deve pensar assim, creio que pensa assim. Sempre demonstrou preocupação com a fragilidade humana. Parece entender o âmago, o sentimento das pessoas. Tanto que se esmera com absoluta dedicação e seriedade no sentido de evitar o esmorecimento da história da Igreja de Chorrochó. E a história da Igreja não pode se dissociar da fraqueza humana. Assim atestam os séculos.

Conheci a professora Maria Therezinha de Menezes em 1971. Como se vê, algumas décadas já se passaram. À época, eu era ginasiano do Colégio Normal São José, cujo prédio histórico o progresso transformou em escombros, em poeira, em nada. Ela era professora da instituição.

Fui seu aluno de Português. Confesso, apoucado e envergonhado, que não me fiz capaz de guardar seus sábios ensinamentos. Guardei poucos, negligenciei com outros tantos e fui deixando muitos pelo caminho.

Saí de Chorrochó tropeçando em minha ignorância relativamente ao norte do saber e até hoje sonho em aprender alguma coisa deixada nalgum lugar do passado. Difícil, para quem vive às voltas com os buracos da memória, porque a juventude se distanciou nos esconderijos do tempo. Ah! Como se distanciou!

Em seu mister, a professora Maria Therezinha de Menezes era didática ao extremo, criteriosa e essencialmente prática. Formal, atenciosa, admirável.

Já se disse, por aí, que não fica bem a pessoa escrever sobre suas próprias memórias e continuar vivendo. Deve ser. Mas não sofro desse mal, não corro esse risco. Conto a história dos outros, porque não construí, em meu caminhar, nenhuma história pra contar.

Assim, o faço relativamente à professora Maria Therezinha de Menezes, honra e glória de Chorrochó. Espero poder contar com sua compreensão no que concerne à pobreza do texto. De fato, não fui um bom aluno de Português.

Parabéns pelo aniversário, insigne mestra.

 araujo-costa@uol.com.br

O PT virou PL

O Partido dos Trabalhadores (PT) virou Partido do Lula (PL).

Dizem as duvidosas estatísticas oficiais que há aproximadamente treze milhões de desempregados no Brasil. Lorota. Há mais, muito mais.

Aliás, quando apeada do poder, dona Dilma Rousseff transferiu esse macabro inventário de desempregados oriundo dos governos petistas ao fraquíssimo e enrolado Michel Temer que, simplesmente, engrossou a estatística de desafortunados, sem condições de freá-la.

Ironia. Os governos do Partido dos Trabalhadores criaram milhões de desempregados, o que significa entender que os trabalhadores estavam em plano secundário nos governos petistas.

Os dados oficiais abrangem somente os desempregados que tiveram carteira assinada, ou seja, as estatísticas do governo se baseiam no cadastro do Ministério do Trabalho e Emprego chamado Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Através desse cadastro, as empresas são obrigadas a informar para o Ministério do Trabalho e Emprego, por determinação legal, toda vez que admitem ou demitem empregados. O governo se baseia nessas informações para lastrear os dados estatísticos com o número de desempregados existentes no Brasil.

Logo, por óbvio, as estatísticas não espelham a realidade, porque não consideram a informalidade, as pessoas que trabalham sem registro em carteira e aqueloutras que, vivendo de serviços eventuais, aqui e acolá, nada encontram para fazer por conta da crise econômica.

Assim, no Brasil com aproximados treze milhões de desempregados, considerados os números do governo, não havia mais espaço para o Partido dos Trabalhadores e, em consequência, surgiu o Partido do Lula, o PL, já que foi o esperto ex-sindicalista que sempre mandou no PT e, nessas alturas, o que menos importa para ele é um partido de trabalhadores.

Para Lula, importa eleitores, votos, maracutaias, conchavos, composições políticas, poder, satatus, dinheiro.  Importa mais: o aparelhamento do Estado brasileiro em benefício de seu projeto político.

O Partido dos Trabalhadores nada mais é do que um arcabouço jurídico bem estruturado para sustentar as pretensões políticas e de poder de Lula da Silva que, convenhamos, até aqui têm dado certo. Inteligente e carismático, Lula da Silva agiu como fogo em monturo, silenciosamente, mas perigosamente.

O PT não foi criado com outro objetivo senão atender a vaidade de Lula. Foi concebido assim, tanto que, muitos de seus fundadores ideologicamente sérios pularam fora do barco petista ao perceberem o desvio de rumo do partido.

Alegre como pinto no lixo, Lula da Silva ficou livre dos incômodos e inocentes ideólogos do PT e deitou e rolou à sua maneira. Deu certo.  Está dando certo. Continuará dando certo.

Em sua essência, o PT não mais tem razão de ser como partido dos trabalhadores. Transformou-se no Partido do Lula, desviou-se de rumo e seguirá em frente, consoante a vontade de seu morubixaba Lula da Silva.

O PT se personificou na pessoa de Lula. Hoje o PT é Lula.

Dizer que os trabalhadores chegaram ao poder com Lula e dona Dilma Rousseff é uma enganação. Eles nunca chegaram lá. “Lula lá”, sim. E também outros espertos que, ao lado de Lula e dona Dilma, ganharam muito dinheiro no poder à custa da miséria dos trabalhadores.

Os trabalhadores continuam como sempre, ocupando a periferia das decisões nacionais.

O PT virou PL.

araujo-costa@uol.com.br

Em Chorrochó, um exemplo de oitenta e dois anos

Já se vão, por aí, algumas décadas. Em 1971, precisamente em janeiro, conheci Dr. Antonio Pacheco de Menezes Filho. A circunstância foi alvissareira para este modesto escrevinhador que, oriundo da caatinga curaçaense de Patamuté, matriculava-me no primeiro ano do curso ginasial em Chorrochó.

À época Dr. Pacheco era Diretor do Colégio Normal São José, função que desempenhava com dignidade e honradez.

O Colégio São José, então cenecista, porquanto obedecia normas e diretrizes da Campanha Nacional de Educandários da Comunidade (CNEC), instituição de providencial importância para os municípios do interior naquele tempo, ainda se estava estruturando.

O ensino propiciado pelo poder público nos municípios era demasiadamente ineficiente e deixava lacunas consideráveis. A CNEC, em alguns casos, preenchia esses espaços, fundando escolas e viabilizando professores locais. Assim, estribado nesses princípios, Chorrochó construiu significativos valores que perduram até hoje.

Na ocasião a que me refiro, Dr. Pacheco já havia ingressado no Ministério Público do Estado da Bahia e exercia a função de Adjunto de Promotor na então jovem comarca de Chorrochó, que tinha sido instalada em outubro de 1967. O Dr. Olinto Lopes Galvão Filho era o juiz de direito titular da comarca.

Dr. Antonio Pacheco de Menezes Filho fez brilhante carreira na Bahia e trabalhou em diversas comarcas do Estado, dentre elas Chorrochó, Morro do Chapéu, Euclides da Cunha, Paulo Afonso e Salvador. Em todas elas alçou posição de destaque no edificante exercício de sua função de promotor de Justiça. Salvo engano, aposentou-se em novembro de 1994.

Dr. Pacheco é casado com a refinada professora Maria Therezinha de Menezes, brilhante senhora da sociedade chorrochoense, ícone da cultura local, lídima, notável e conspícua intérprete das tradições de Chorrochó, com quem constituiu família. As filhas Fabíola Margherita e Cynthia Cibelle completam o núcleo familiar do casal. E estão, por aí, sempre ao redor, desfrutando a ascendência exemplar.

Não custa acrescentar que o Colégio São José, hoje estadual, ainda desempenha importante papel na educação de Chorrochó. Lá está, seguramente, a semente imorredoura plantada pelo ilustre aniversariante de hoje.

Chegou-me a informação, neste tempo moderno da internet, que o Dr. Antonio Pacheco de Menezes Filho completa 82 anos. É uma data significativa para quem, durante toda a vida, deu monumentais exemplos de bondade e competência profissional para seguidas gerações.

Parabenizá-lo é pouco, mas as normas de etiqueta me induzem a fazê-lo. É regra, é praxe. Que Jesus Cristo, redentor do mundo, seja seu companheiro hoje e sempre.

Dono de uma humildade impressionante, Dr. Pacheco construiu uma história de elevada honradez e seriedade. É um exemplo para chorrochoenses, admiradores e familiares.

araujo-costa@uol.com.br

Lula da Silva e Gleisi Hoffmann

“A lei é como uma cerca. Quando é forte, a gente passa por baixo. Quando é fraca, a gente passa por cima” (Coronel Chico Heráclio, 1885-1974, Limoeiro-PE).

Lula da Silva, que pode ser tudo, mas besta não é, jogou um balde de água fria na espevitada presidente nacional do PT.

Normalmente histérica, a senadora Gleisi Hoffmann vem diminuindo o tom de seus destemperos e de suas visíveis perturbações.

Na medida em que Fernando Haddad cresce nas pesquisas de intenção de voto, Gleisi Hoffmann vai se encolhendo nos limites de sua insignificância.

O fato é que Gleisi manteve a esperança, até a última hora, que seria a ungida de Lula da Silva para disputar a presidência da República, mesmo com as evidências de que o morubixaba petista já havia escolhido Haddad, por questões que não vêm ao caso agora.

Gleisi não queria o ex-prefeito paulistano. Achou que tinha força. Não tinha. Não tem. Nunca teve.

Lula a escolheu para ser presidente nacional do partido e mandou o pessoal votar em seu nome na convenção, uma espécie de gratidão pelo destacado desempenho de Gleisi no episódio do impeachment de dona Dilma Rousseff.

A presidência nacional do PT está com Gleisi apenas por uma questão formal. Quem decide pelo partido é Lula da Silva e os súditos e fanáticos obedecem. Ele é a instância máxima, Gleisi é presidente faz-de-conta.

A presidente nacional do PT até encontrou um subterfúgio para visitar diariamente Lula da Silva no cárcere e ficar próxima dele. Pensando que a lei é fraca, para passar por cima, Gleisi habilitou-se como advogada do ex-presidente, condição legal para ter acesso ao preso, sem restrição, mas não se tem conhecimento de nenhuma petição assinada por ela nos processos a que Lula responde.

A Vara de Execuções Penais vislumbrou a maracutaia de Gleisi e restringiu seu acesso a Lula da Silva, na condição de advogada. Ela queria participar dos assuntos decisórios ao lado de Lula, mas somente era comunicada das decisões já tomadas. E virou porta-voz dele.

Mas não é somente isto que está deixando Gleisi Hoffman cabisbaixa. O mandato de senadora que ela exerce acaba em fevereiro e com ele vão-se as mordomias de que ela tanto gosta. A rapadura é doce, dá saudade.

Mais: Lula obrigou o PT a fazer composições eleitorais em diversos estados, exatamente com aqueles políticos que votaram pelo impeachment de dona Dilma e Gleisi os chamava “golpistas”. E quem era “golpista”, agora é amigo de infância de Gleisi com direito a beijinhos hipócritas.

A hipocrisia se entrelaçou com a fome de poder e fica o dito pelo não dito.

Convicta de que não será reeleita senadora, Gleisi está disputando o cargo de deputada federal pelo Paraná, com chances de se eleger, evidentemente.

Gleisi Hoffman continua fingindo que faz política nacional em nome do PT. É sua atribuição formal como presidente do partido. Nada mais do que isto.

araujo-costa@uol.com.br