Michel Temer, Aécio Neves e outros “inocentes”

“Nenhuma soma de experiência pode provar que se tem razão, mas basta uma só experiência para mostrar que se está errado” (Albert Einstein)

Os construtores de Brasília tiveram a ideia de nominar a residência oficial da vice-presidência da República de Palácio do Jaburu, aquela ave de pescoço comprido que vive a espreitar os circunstantes.

Presume-se que, se o presidente Michel Temer, que lá mora, tivesse esticado o pescoço, à semelhança do jaburu, talvez houvesse notado o gravador que Joesley Batista carregava no bolso e gravou as conversas suspeitas entre ambos, tarde da noite, nos porões do palácio.

Michel Temer diz que nada houve de ilegal naquela conversa, que é inocente, coisa e tal. É tão comovente que passa a impressão que naquela noite eles ficaram rezando o terço, lendo versículos da Bíblia e orando pelo bem dos brasileiros.

Até hoje me parece estranhíssimo que o Gabinete de Segurança Institucional e a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), o serviço secreto do governo, não tenham detectado a geringonça no bolso do visitante e liberado a entrada em palácio, talvez até com um sorriso generoso dos agentes da segurança presidencial. Ou não quiseram detectar.

Um sistema de segurança pessoal do presidente da República como este não pode ser levado a sério.  É falho, é ineficiente, é tosco.

Por outro lado, o senador Aécio Neves, que se diz honesto – e não estou afirmando o contrário – também caiu na arapuca do sofisticado açougueiro dono da JBS e foi flagrado negociando com ele alguns milhões de reais que, segundo as investigações, trata-se de propina.

Aécio diz ser inocente, honesto, correto e que não é homem de pedir propina. Ah bom!

Com aquela cara de relações públicas de boite, Aécio ainda queria ser presidente da República. Caiu na desgraça, decepcionou seus 51 milhões de eleitores e agora disputa uma vaga de deputado federal, para não perder o foro privilegiado.

A presidência da República passou a ser tão banalizada que seus últimos inquilinos – Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer – estão sendo acusados de negociarem propina em suas dependências. Um horror.

É o que dizem Antonio Palocci, amigo e ministro de Lula da Silva, os marqueteiros de dona Dilma e o bilionário Joesley Batista.

Esse pessoal precisa respeitar os símbolos nacionais e aprender, pelo menos, que “a Pátria confia” em todos nós, inclusive em quem se dispõe a ser presidente da República.

Agora, dona Dilma Rousseff disputa, por Minas Gerais, uma vaga no Senado Federal. Está indo bem nas pesquisas, com grandes chances de ser eleita, mas houve impugnação da candidatura, sob a alegação de que, por ocasião do impeachment da madame, o ministro do STF Ricardo Lewandovski e o PT construíram uma maracutaia para que ela não tivesse os direitos políticos suspensos, contrariando a Constituição da República.

Einstein dizia que basta uma só experiência para atestar que estamos errados.

O presidente Temer, Aécio, Lula da Silva e dona Dilma ainda não conseguiram provar que são honestos, corretos e inocentes. As experiências ao contrário são muitas.

Os brasileiros aguardam.

araujo-costa@uol.com.br

TV Globo, Bolsonaro e falta de seriedade

Não sou daqueles que seguem na embarcação das críticas à TV Globo, simplesmente porque é a TV Globo.

Mas, convenhamos, a entrevista que o Jornal Nacional fez com o candidato Jair Bolsonaro foi um emaranhado de hipocrisia e falta de seriedade, de modo que nada acrescentou em benefício do eleitor, que esperava coisa melhor, tanto do presidenciável quanto da emissora.

Aproximou-se do ridículo a pauta da entrevista, em detrimento de assuntos urgentes de interesse da população que vive ansiosa por um Brasil melhor. Explico por que:

Apartamento funcional: em 1960, quando a capital federal mudou-se do Rio de Janeiro para Brasília, o governo Kubitscheck havia viabilizado os apartamentos funcionais para acomodar a estrutura governamental na nova capital, composta de funcionários federais, diplomatas, parlamentares, membros dos três Poderes da República, etc, por uma razão simples. Todos esses agentes públicos moravam no Rio de Janeiro e foram obrigados a mudar-se para Brasília, por força da transferência da capital e da função que exerciam no governo da República. Logo, por óbvio, precisavam de imóveis para suas residências.

O uso do apartamento funcional não é invenção do candidato Jair Bolsonaro, mas privilégio de todos os parlamentares do Congresso Nacional e até de agentes públicos do Poder Executivo.

Os parlamentares que não ocupam apartamentos funcionais moram em sofisticados hotéis pagos pela respectiva casa legislativa, Câmara dos Deputados e Senado Federal. Há leis que assim dizem e autorizam a esculhambação.

Portanto, questionar candidato, seja Bolsonaro ou outro qualquer, sobre o porquê de usar o apartamento funcional é, no mínimo, falta de sinceridade e uma forma de negligenciar assuntos de interesse da população.

Esse privilégio nunca foi tirado dos parlamentares, porque nenhum presidente da República quis mexer no vespeiro dos parlamentares que lhe dão apoio no Congresso Nacional e os parlamentares, por sua vez, não querem perder a mamata. Nunca arredaram uma palha para acabar com esse privilégio imoral.

TV Globo.  A TV Globo foi fundada em abril de 1965, exatamente um ano após a instalação do governo militar. Não é nenhuma novidade que as Organizações Globo viveram à sombra da ditadura, que lhe sustentou com publicidade oficial, tornando-a a segunda maior emissora comercial do mundo. Mais: sempre noticiou o que interessava à ditadura.

Portanto, não tem sentido a TV Globo melindrar-se porque o candidato Bolsonaro tocou na ferida e lembrou que o fundador da emissora apoiou os governos militares. Significa menosprezar a inteligência dos brasileiros. A TV Globo apoiou os governos militares, sim. Outra época, outro cenário, outra circunstância. Por que a emissora insiste em negar isto?

Comunidade GLBT. Os entrevistadores do Jornal Nacional, mais uma vez, deixaram de lado assuntos mais urgentes de interesse da população. O direito e o espaço desses segmentos sociais já estão garantidos no Brasil e no mundo, através de leis e regulamentos. Os direitos são iguais para todos, independentemente dos valores que cada um carrega dentro de si. Qual a importância de saber, numa sabatina dessa envergadura, se o candidato é contra ou a favor de uma situação que ele não vai e não consegue mudar?

Desigualdade salarial entre homens e mulheres. Esta é uma anomalia existente no mundo inteiro. Países da Europa passam por esse problema, assim como o Brasil. O Brasil precisa ajustar-se, corrigir isto através de leis e sistemas educacionais. Não é culpa do candidato Bolsonaro, nem de nenhum outro candidato que está aí disputando a eleição presidencial.

Todavia, a hipocrisia maior na entrevista foi a apresentadora do Jornal Nacional insinuar que não aceita salário menor em relação a colega do sexo masculino no exercício de função análoga. Chega a ser risível.

A apresentadora deve viver no mundo da lua. Ninguém deixa de aceitar um emprego porque o salário é menor que aquele pago a um colega, seja do sexo masculino ou feminino.

Que as mulheres têm o direito de igualdade de condições, em todos os níveis, isto não se discute, inclusive quanto ao salário. É uma conquista das mulheres e de seus movimentos justos e necessários. E as leis devem assegurar isto.

Mas estes – parece – são os assuntos que a TV Globo entende como prioritários para a solução dos problemas do Brasil.

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Eleições de 2018: candidatos, corrupção e páginas policiais

“Dinheiro é como azeite: por onde passa, amolece” (José Cavalcanti, Patos-PB)

Tenho cá minhas ingenuidades, que são muitas, mas elas não chegam ao ponto de me fazerem acreditar que os políticos de antigamente eram mais sérios, honestos e incorruptíveis e somente os de hoje são embusteiros, corruptos, alguns até “amigos do alheio”, o dinheiro público.

As estátuas que vemos em praças públicas nem sempre são de homens de caráter irrepreensível ou de heróis. Muitas refletem a ruína moral dos homenageados que deixaram a fama de impolutos.

Ocorre que a sociedade de décadas atrás não tinha meios de expor as fragilidades dos seus governantes, tampouco existiam órgãos de controle independentes e eficientes, jornalismo investigativo, imprensa livre e outras formas modernas de alcançar os larápios. E eles reinavam absolutos, como se honestos fossem.

A dificuldade em apontar falcatruas dos governantes residia, inclusive, no medo de perseguição política e no receio que as pessoas tinham de perder cargos, benesses, favores, amizades, apadrinhamentos.

Juízes, delegados e promotores, para ficar nesses exemplos, comumente eram indicados e nomeados pelos poderosos, dentre amigos, amigos dos amigos, parentes, aderentes, eleitores fiéis, et cetera.

Esses agentes públicos, depois de encastelados em suas funções, passavam a atuar no interesse dos chefes políticos aos quais deviam o glamour, a construção da reputação e o cargo vitalício com suas inúmeras vantagens.

Mais: este sistema estrambótico gerou as oligarquias e as elites que se enraizaram e perduram até hoje em todos os estados e se acham intocáveis, insubstituíveis, indiferentes ao clamor público.

Os concursos públicos consistiam apenas em formalidades para cumprimento dos requisitos de provas e títulos, mas o que contava, de fato, era a vontade de quem ostentava o poder e tinha a caneta na mão.

Houve tempo em que um poderoso governador de estado – Deus o tenha na mansão dos mortos ou dos infames – ditava as normas ao seu talante, coadjuvado pela subserviência dos coestaduanos.

Há décadas, dizia-se que em concurso para juiz de direito, tal governador elencou os nomes dos candidatos que deviam ser aprovados e as comarcas para as quais seriam nomeados, exatamente aquelas comarcas dominadas por políticos locais que o apoiavam e se sentiam incomodados com os juízes que lá atuavam, que depois seriam substituídos e transferidos para regiões distantes e inóspitas.

Não é difícil presumir que a comissão do concurso e as autoridades responsáveis pelas nomeações seguiram à risca a determinação do governador.

Corrupção no Brasil “tanto faz ver como saber que tem”. Sempre teve, sempre terá, embora não exista placa indicando onde ela está.

Muitos negam que a corrupção existe. Curiosamente, a negativa vem das autoridades que, de forma hipócrita, fingem não saber e deveriam erigir o bom exemplo. É mais cômodo fingir que não tem do que dizer que tem.

Em 2018, assim como em anos anteriores, muitos candidatos que disputam cargos no Legislativo e Executivo frequentam as páginas policiais com regularidade e não mais o colunismo social, como era praxe em tempos idos.

O que assusta não é a frequência com que aparecem no noticiário policial, mas a cara de paisagem que fazem, como se nada tivesse acontecido ou acontecendo.

É o dinheiro passando e amolecendo.

araujo-costa@uol.com.br

Pesquisas eleitorais e conversa para nordestino cochilar

Com a abertura das urnas do segundo turno das eleições de 2014, desenhou-se no Brasil um quadro eleitoral curioso no que tange à geopolítica brasileira.

Entretanto, nada de novo, nada surpreendente, apenas o mapa da vontade popular.

A reeleição da presidente Dilma Rousseff foi assegurada, basicamente, pelos estados da região Nordeste. Lá dona Dilma ganhou folgadamente, em grande estilo.

Isto foi suficiente para que parte da imprensa e as redes sociais lançassem pedras sobre os nordestinos, que precisam mesmo é de sossego para enfrentar os problemas diários, que são muitos. 

Na ocasião, criou-se um clima “nós contra eles” e vice-versa, idealizado por Lula da Silva, com o intuito de fomentar um quê de desavença entre os brasileiros que, graças a Deus, não vingou. Nem vingará.

Com a aproximação das eleições de 2018, o mesmo lengalenga parece que já começa a se repetir, tão-logo foram publicadas as primeiras pesquisas de opinião nos estados do Nordeste.

Nordestino e baiano que sou, quero meter o bedelho nessa conversa insossa, excessivamente idiota, desconexa, inoportuna, preconceituosa, abominável.

O pessoal que fala mal dos nordestinos gosta mesmo é de lorota, balela. Ora, o voto é a expressão maior da democracia, que todos dizem querer.

A população nordestina tem o direito de votar em quem bem entender, seja em candidatos da esquerda ou da direita, PT, PSDB, DEM, PSB ou quaisquer outras dessas excrescências partidárias que estão por aí. Eleição não é mesmo para escolher? 

Oportuno lembrar que na região Nordeste, ainda prevalece, com muita clareza, a figura do político sobre a ideologia partidária. O eleitor vota no candidato, independentemente do partido político que o abriga.       

Contudo, os nordestinos são duros na queda. Estamos acostumados com seca, sofrimento, fome, miséria, abandono do poder público, críticas de sociólogos e cientistas políticos e abismos de toda ordem. E continuamos firmes, fortes, decididos e, sempre, dando o que falar. Somos mesmo importantes. E daí? 

E mais: não obstante as constantes safras de políticos ruins, eles ainda não conseguiram destruir o Nordeste. Bem que tentaram.  

Os nordestinos não estão interessados em conversa fiada. Têm o direito de decidir sobre o seu destino. Se a escolha não for bem feita, isto não invalida o direito de escolher. Escolher errado também faz parte do exercício democrático.

Apesar de insinuações descabidas, em 2014 o senhor Aécio Neves perdeu a eleição não por culpa dos nordestinos. Perdeu porque dona Dilma teve mais votos. Só isto. A democracia é assim, a maioria vence e a minoria baixa a crista.

Havemos de nos submeter às regras. E as regras dizem que a disputa dá-se nas ruas e nas urnas quem tiver mais votos vence. É lógico, razoável, incontrastável, inquestionável.

Essa conversa cabeluda de que a eleição de 2014 dividiu o Brasil entre Nordeste e estados do Sul e Sudeste e que o fato tende a se repetir em 2018, tem tanta importância quanto a falta de importância. É de somenos, coisa de gente que não está acostumada com as surpresas das disputas eleitorais.

Nós nordestinos conhecemos muito bem isto. Desde sempre convivemos com campanhas eleitorais. Temos experiência até para dizer que o candidato que tiver maioria nas urnas de outubro em nada vai resolver a situação do Nordeste. Nem do Brasil. Mas fará o seu papel de demagogo, como todos fazem em épocas eleitorais. Dirá estrategicamente o que o povo quer ouvir.

Há muita gente do Sul e Sudeste em polvorosa, criticando os nordestinos. Isto nos dá uma malemolência danada. É conversa para nordestino cochilar.

araujo-costa@uol.com.br

             

 

Memória dispersa de Chorrochó: Eloy Pacheco de Menezes

“O homem de responsabilidade política não mente, inventa a verdade” (José Cavalcanti, Patos-PB)

Eloy Pacheco de Menezes fez parte de uma época de lutas e turbulências do município baiano de Chorrochó. Integrante de família tradicional, Eloy carregava no nome a marca de uma estirpe muito respeitável naquela região sertaneja: Pacheco e Menezes.  

Em todo o território do município e circunvizinhança, principalmente na zona rural, quando os sertanejos falavam em respeito e dignidade, era comum a referência a “os Pachecos”, como senhores portadores desses atributos tão importantes na vida do povo nordestino.

Um dos legados de Eloy Pacheco de Menezes foi e será a luta constante e intensa que travou, ao lado de Dorotheu Pacheco de Menezes, amigo e confidente, em prol dos interesses de Chorrochó.

Ao consolidar-se a emancipação do município em 12.09.1954, Eloy foi nomeado gestor dos negócios municipais, uma espécie de prefeito provisório, por decreto do então governador da Bahia, Luís Régis Pacheco Pereira. Nessa condição, foi o responsável pela instalação dos serviços públicos do município, enquanto as instituições precariamente se acomodavam.

Todavia, a história registra alguns atributos de Eloy, além dessa arraigada luta política ao lado de Dorotheu: o caráter inflexível, a dignidade e a intransigência quando, eventualmente, sentia sua honra ameaçada. Noutras palavras, era valente, pavio curto e, sobremaneira, decidido. Em defesa da família e de seus valores morais, tornava-se impassível, afoito, corajoso, audaz.

Como diria Raul Pompéia (O Ateneu), Eloy tinha “as convicções ossificadas na espinha inflexível do caráter”. Não arredava o pé de seus alicerces, de seus valores, dos ditames de sua consciência.

Embora Chorrochó, através dos órgãos de cultura, nunca tenha evidenciado o papel de Eloy Pacheco de Menezes na história do município, é inegável sua contribuição para edificar os alicerces de que hoje o município dispõe.

Eloy foi um daqueles senhores intransigentemente engajados na luta em defesa do município. Dir-se-ia convicto, seguro dos valores que defendia, apegado aos seus pontos de vista.

Eloy viveu numa época em que evidenciava-se a ausência de entendimento entre as lideranças municipais, fato esse que direcionava os assuntos políticos para o terreno das relações pessoais. Tempos difíceis, em que a convivência entre os políticos e líderes locais dava-se de forma arredia, desconfiada, vigilante, atenta.

Naquele tempo, as correntes políticas de Chorrochó eram diuturnamente vigilantes em relação aos adversários. Entretanto, Eloy nunca subestimou o lado contrário, mas não vergava quando o assunto era o arranhar de sua honra.  Em razão disto, tinha fama de duro, valente, intransigente.

Aqui, o fundo de verdade é de ordem geral. O homem nordestino daquele tempo era sobremaneira zeloso com sua honra e construía a reputação alicerçada no respeito e na palavra empenhada.   

Casado com Maria Argentina de Menezes, elegante senhora da sociedade chorrochoense, Eloy constituiu família honrada e decente que enriquece Chorrochó até hoje, através de sua valiosa e respeitável descendência. Transmitiu aos seus filhos a mesma retidão de caráter que ostentou até a morte.

Eloy, a esposa Maria Argentina de Menezes e os filhos Ernani do Amaral Menezes, Maria Menezes (Pina) José Eudes de Menezes (Iê) e Antonio Euvaldo Pacheco de Menezes (Totó) contribuíram, cada um a seu modo, para uma quadra inesquecível da história de Chorrochó, que deve muito a todos eles.

A história de Chorrochó precisa retirar Eloy Pacheco de Menezes do esquecimento e colocá-lo à luz do conhecimento das novas gerações.

araujo-costa@uol.com.br   

Sobre maus tratos aos animais

Este é um lembrete às autoridades, aos políticos, às pessoas que votam.

Talvez com a intenção de chamar a atenção quanto aos maus tratos, pessoas postam nas redes sociais imagens tristes de animais judiados, abandonados, agredidos, famintos, sofridos, espancados, feridos.

São imagens que nos fazem refletir sobre a crueldade que pessoas carregam dentro de si e são incapazes de imaginar que, assim como nós, os animais também sentem dor, fome, sede, abandono, carência de atenção e necessidade de afeto, de medicamentos, de amparo.

Impressionante como é grande a quantidade de pessoas que pratica crueldade aos animais. Entristece-me ver imagens que, no mundo de hoje, simplesmente não deveriam existir.

Aos poucos estão surgindo leis que punem essas pessoas cruéis, maldosas, repulsivas. Entretanto, ainda falta um aparato legal e policial no Brasil para investigá-las, puni-las, prendê-las.

Urge que em cada município seja criado um fundo para proteção aos animais, de tal forma que, pessoas que os maltratam, além da punição criminal, devam ser severamente obrigadas a pagar pesadas indenizações revertidas em prol de entidades que lutam em defesa dos animais.

Imaginemos um animal sendo espancado, indefeso e frágil, sem ninguém por perto que possa evitar a ação furiosa do desprezível agressor. É muito triste. É inaceitável. Até o olhar de um animal sofrido é dilacerante.

A sociedade evolui, mas as pessoas se embrutecem cada vez mais .

Mesmo em se tratando de abate, nos casos permitidos, o procedimento deve evitar o sofrimento do animal. É o mínimo que se espera de uma sociedade que se diz civilizada.

araujo-costa@uol.com.br

Conversa do PT para boi dormir

“Se não puder convencê-los, confunda-os” (Harry Truman)

Se a “determinação” da ONU, para que o Brasil permita a participação de Lula da Silva nas eleições de outubro, tiver a mesma e costumeira força que sempre teve quando a organização “determinou” o fim das guerras da Síria, Iraque, Bósnia, Afeganistão, conflitos no Oriente Médio e et cetera, a situação eleitoral de Lula não vai mudar um milímetro.

A ONU não “determinou”, como espalhafatosamente diz o PT, simplesmente porque, neste caso, não pode determinar. Apenas recomendou. Qualquer manual de Direito Internacional explica isto.

Mais: não foi a ONU que “determinou”, mas um comitê técnico da instituição que recomendou. É um parecer preliminar. Só isto. Salvo melhor juízo, o parecer ainda precisa ser submetido ao Alto Comissariado de Direitos Humanos.

As eleições de qualquer país democrático obedecem às leis internas e a comunidade internacional abrigada na ONU obedece ao princípio de autodeterminação dos povos.  O resto é balela.

A ONU nunca foi e não é capaz de aniquilar a fome no mundo, a exemplo dos países africanos, não é capaz de por ordem em situações degradantes como a que está passando o povo da Venezuela, imaginemos se é capaz de “determinar” que o Brasil seja obrigado a obedecê-la quanto ao caso de Lula da Silva.

A ONU nunca foi capaz de evitar que guerras e conflitos internos em países dominados por ditadores e governantes medíocres matassem centenas de milhares de crianças, idosos e inocentes civis e deixassem mutilados outras tantas centenas de milhares, assim como nunca foi e não é capaz de minorar o sofrimento de milhões de famintos dispersos no mundo.

A ONU é um pêndulo necessário às nações que se dizem unidas, um conchavo entre países, mormente os ricos, para a instituição dizer que resolve os problemas do mundo.

São os tribunais brasileiros que vão decidir a situação jurídica de Lula da Silva e não a ONU. Afirmar de modo diverso é confundir a opinião pública. O PT está fazendo isto.

O PT adotou a frase atribuída a Harry Truman; “Se não puder convencê-los, confunda-os”.

O PT deve disputar as eleições presidenciais, com Lula ou sem Lula, dentro das normas democráticas a que os demais partidos se submetem. Tentar confundir a população beira a ingenuidade. Chega a ser desespero.

Mas as piadas também fazem parte do folclore eleitoral.

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Curaçá, pedaços de saudade.

Desvanecido recebo manifestação de Antonio Edmar de Araújo (Tuna), baiano de Curaçá, que mora em Itabuna, sobre a crônica Curaçá, pedaços de saudade*publicada neste espaço em 11/08/2017.

Edmar é filho ilustre de D. Nenzinha, ícone da cultura curaçaense o que, por si só, lhe engrandece diante de seus conterrâneos aos quais me incluo.

Reproduzo abaixo a crônica em referência, com o intuito primeiro de evidenciar a memória das pessoas citadas e em deferência à insigne presença dos que ainda vivem. Também para fazer algumas correções necessárias, em respeito àqueles que perdem tempo em ler meus textos.

O respeito aos leitores pressupõe a publicação de textos escorreitos, inclusive no que tange à linguagem e técnicas de escrita. Confesso, não tenho conseguido. Por isto, penitencio-me diante de todos. Eis a crônica:

Curaçá, pedaços de saudade.

Primeira metade da década de 1970. Antes de morar na pensão de Maria de Fortunato (Maria de Lourdes Lopes), eu morava no Curaçá Hotel, um casarão de grandes janelas na esquina da Rua Coronel Pombinho, que traduz o estilo das primeiras construções da cidade sanfranciscana.

Os proprietários Maria Roselita Xavier e Adelson Xavier tocavam o empreendimento com dedicação. Mais parecia uma confraria entre amigos do que, propriamente, um hotel. Os hóspedes se tornavam amigos entre si, afáveis e confiáveis.

Nos fundos do casarão existia um boteco de frente para a lateral do Teatro Raul Coelho. Era lá que Adelson, Edvaldo Araujo e eu nos encontrávamos para o conhaque de alcatrão.

Adelson tinha pressão alta. Uma vez ele parou a ponte presidente Dutra, que liga Juazeiro a Petrolina. Passou mal no meio da ponte e o trânsito virou um caos. Amigo de verdade, Adelson deixou, além da saudade, algumas histórias engraçadas, que ele contava com humor e irreverência.

Edvaldo Araujo, amigo e colega de trabalho na Prefeitura Municipal, homem de caráter irrepreensível e exemplo de vida, era casado com Maria de Almeida Araujo (D.Nenzinha), a pessoa mais amável que conheci nessas décadas de vida atribulada.

À época, D. Nenzinha exercia o cargo de delegada escolar de Curaçá, função muito respeitável nos quadros da Secretaria de Educação da Bahia. Hoje, não sei se ainda existe essa função. Se existir diminuiu de importância, em proporção à deterioração do ensino, que se dá não por culpa dos abnegados professores, mas em razão de negligência do Estado.

Se não me falha a memória – e ela sempre falha – D. Nenzinha consta no livro-reportagem “Herdeiras de Feliciana: Perfis de Mulheres de Curaçá”, de autoria da jornalista e professora de História Alinne Suanne Araújo da Silva Torres, que ainda não tive a oportunidade de ler, o que é uma pena.

Nenzinha era uma conselheira diuturna dos jovens. Sentia-se bem, orientando-os. Faleceu em 24/04/2013, salvo engano, beirando os 97 anos. Tenho saudade de nossas conversas na calçada em frente de sua residência. Ao fundo, as águas tranquilas e misteriosas do Rio São Francisco.

Naquele encontrar de ruas, Astério Xavier cuidava da agência dos Correios e Juvêncio Oliveira, “seo” Maroto, se ocupava de sua venda de secos e molhados. E nesse cruzar de ruas e esquinas, surgiam os bate-papos sobre amenidades. Eram conversas despretensiosas, convidativas, interessantes.

Como falo de saudade, deixo aqui um registro: nesse tempo, Adelson Xavier Júnior era criança. Cresceu bondosamente e há pouco se retirou de nosso convívio como uma abelha que se vai subindo em direção às alturas.

araujo-costa@uol.com.br

*Hoje volto a publicar a crônica em referência, com o intuito de acrescentar duas fotografias do arquivo da família de D. Nenzinha, que me foram gentilmente enviadas por Antonio Edmar de Araújo. Vale o registro, vale a saudade.

Petistas e lulistas

O jornalista Sebastião Nery conta que Armando Falcão, que foi ministro da Justiça dos presidentes Juscelino Kubitscheck e Ernesto Geisel, candidatou-se ao governo do Ceará em 1954.

Em campanha, encarregou um deputado amigo para organizar grande comício, o que foi feito. O político providenciou palanque, som, iluminação, bandeiras e tudo mais.

Armando chegou e a praça estava vazia. Perguntou: Cadê o povo, deputado?

O amigo usou a sinceridade:

– Armando, se eu tivesse capacidade de trazer o povo para o comício, o candidato não seria você, seria eu.

Quando Lula da Silva estava prestes a ser preso, a bravateira senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, ameaçou colocar o povo na rua e até, irresponsavelmente, usou a expressão “matar gente”, se houvesse a prisão.

Lula foi preso e a população ficou silente, exceto parte desidratada da militância petista, por uma razão muito simples: no Brasil, com quatorze milhões de desempregados, ninguém acredita mais em bravatas de políticos sabidamente embusteiros e, mais, a população tem consciência dos erros de Lula da Silva, independentemente do que dizem os dirigentes petistas e seguidores.

Em visita a Lula no cárcere, sabe-se que o ex-presidente cobrou a promessa da senadora e teria perguntado pelo povo que a senadora disse que ia colocar na rua. Não se sabe a resposta. Nem tem nenhuma importância saber. O que ela fala não tem importância.

Entretanto, sabe-se que no dia de registro da candidatura de Lula no Tribunal Superior Eleitoral, o PT prometeu levar uma multidão para as ruas de Brasília. Bazófia. Foram apenas militantes dos movimentos sociais, com roupas e bandeiras vermelhas, arrebanhados pelos MST e outras organizações que apoiam o partido, aproximados dez mil, segundo cálculo das autoridades.

Há uma diferença basilar neste contexto. Lula da Silva não é nenhuma divindade, mas assemelha-se a um líder messiânico. Tem seguidores arraigados, independentemente de sua situação jurídica, preso ou solto. Quem é lulista não é necessariamente petista. Há admiradores de Lula que não gostam dos métodos do PT.

Petista é uma situação, lulista é outra, completamente diferente. Quem é lulista o é, em qualquer circunstância, incondicionalmente.

Gleisi Hoffmann ainda não entendeu isto. Não vai entender, não tem condições de entender. Sua fanfarronice a impede de raciocinar decentemente.

À semelhança do deputado cearense, a presidente nacional do PT não tem nenhuma capacidade de colocar multidões nas ruas. Se, eventualmente, pessoas forem às ruas, o farão por causa de Lula e  não a pedido de Gleisi Hoffmann.

Primeiro, o povo precisa comer, pagar aluguel, cuidar da família.

Ninguém faz política de barriga vazia.

araujo-costa@uol.com.br

A esquerda tem nomes melhores e respeitáveis

“O caráter, como os rochedos, pode ter fendas” (Victor Hugo, Os miseráveis)

O debate entre os presidenciáveis na TV Bandeirantes tinha tudo para nortear-se no caminho do alto nível, até o momento em que Guilherme Boulos resolveu insultar o deputado Jair Bolsonaro, tentando puxar o nível para baixo, sem sucesso.

Bolsonaro é capitão da reserva do Exército, da arma de artilharia e frequentou a respeitada Academia Militar das Agulhas Negras. Especializou-se em paraquedismo e, como se vê, tem bagagem suficiente para nocautear o incentivador de invasão de propriedades, que é a única coisa que Boulos sabe fazer.

Ficou clara a disposição dos demais candidatos no sentido de serem elegantes, educados, civilizados, respeitosos. Demonstraram que queriam discutir os problemas nacionais e não assuntos pessoais dos adversários.

Até Ciro Gomes optou por deixar a faísca de lado e não acender seu pavio curto e se portou educadamente, que é o mínimo que se espera de um postulante a presidente da República.

Todavia, Guilherme Boulos estava preocupado em falar da “mulher que cuida dos cachorros” do Bolsonaro e da vida pessoal do adversário e não de assuntos sérios. Inventou acusações contra o candidato Bolsonaro, que a história não registra, demonstrando total desconhecimento do período da ditadura militar, quando ambos os lados – esquerda e direita – cometeram crimes e outras atrocidades reprováveis que mancharam o Brasil.

Boulos tem obrigação de conhecer a história. É graduado em  Filosofia e ativista político, além de incentivador de invasão de propriedades.

Razoável é entender que um debate entre presidenciáveis, nesta quadra do tempo, não comporta mais piegas de quem matou quem no período do regime militar. O Brasil é outro, a sociedade exige mudanças e não um constante olhar no retrovisor da história.

Realmente, Boulos destoou dos demais candidatos. Mas não se pode esperar outra coisa dele. Um sujeito que incentiva e comanda invasões de propriedades particulares, sem nenhum respeito ao direito de quem as adquiriu, não pode primar pela decência. Mas é uma questão de caráter e cabe a ele moldá-lo, se quiser. É problema dele, unicamente. Pode melhorar.

Entretanto, vale registrar que a parte da esquerda que apóia Guilherme Boulos tem nomes mais gabaritados, em seus quadros, para representá-la na disputa pelo comando da República.

Há bons quadros, inclusive no partido político que lhe deu guarida para sustentar a candidatura.

A questão de nossos partidos políticos e lideranças nacionais é misturar democracia com esculhambação.  E mesmo em momentos mais graves, como este que o Brasil atravessa, indicam qualquer zé ruela para disputar o honroso cargo de presidente da República.

Em nosso sistema presidencialista, o eleito passa a ser chefe de governo e chefe do Estado brasileiro. Não pode ser qualquer um.

araujo-costa@uol.com.br