Patamuté, memória da infância: professora Graziela.

À direita, professora Graziela. Ao lado, sua cunhada Silvina/Arquivo Dorinha Souza, sem data.

Todos nós temos lembranças da infância, da juventude ingênua, dos primeiros anos, do despertar para a vida.

Tenho muitas, embora esparsas, às vezes opacas, em razão do caminho percorrido. 

O tempo apagou algumas, a memória deixou escapar outras, os tropeços do caminhar deixou outras tantas pela estrada.

O sofrimento, as angústias e as incertezas do caminho se encarregaram de firmar muitas dessas lembranças, transformando-as em saudade.     

Como parte dessas lembranças, guardo, com carinho, o nome da primeira professora: Graziela Ferreira da Silva (09/06/1930-30/07/2011). Não somente o nome, mas a presença inapagável de sua vida correta, prestativa, admirável.

As datas de nascimento e morte de Graziela me foram passadas generosamente por sua sobrinha Dorinha Souza, a quem recorri há algum tempo, porque não tive o cuidado de guardá-las, em razão de desleixo, falta de atenção, ingratidão.

Difícil entender o tempo, a vida, a morte. Difícil entender o adeus das boas pessoas, para sempre.

Dorinha Souza é filha do também professor Theófilo Ferreira que, a exemplo de Graziela, dedicou parte de sua vida ao ensino e abrir caminhos para o andar da juventude.

Graziela Ferreira da Silva foi professora primária na Fazenda Bom Jardim, nos domínios do distrito curaçaense de Patamuté.

Ensinou-me a ler, escrever, formar as primeiras palavras escritas, engendrar frases, conhecer os primeiros livros de leitura.

Assim Graziela fez com muitos de minha geração.

Como esquecê-la, ensinando-me a escrever meu nome, caligrafia firme, segura, exemplar?

Como esquecer a paciência, o sorriso puro, o cuidado, o respeito com seus alunos?

Como esquecer a preocupação, o coração generoso, a merenda que ela me dava, muitas vezes de sua cozinha, em razão da precariedade do lugar e da dificuldade de acesso à alimentação diária e necessária, que minha mãe nem sempre tinha?    

A escola da Fazenda Bom Jardim era mantida sob a responsabilidade de um senhor sonhador, que vislumbrava o futuro promissor para as crianças pobres do sertão naquela quadra do tempo: Antonio Ferreira Dantas Paixão, comerciante e político.

A vida de Antonio Paixão merece um livro de reconhecimento por tudo que fez em benefício daquela gente de Patamuté e arredores.

Devo-lhe gratidão e tenho saudade. Ele e Graziela foram sustentáculos dos sonhos de toda uma geração.

Faziam do ensino o esteio para que todos nós vislumbrássemos um mundo diferente daquele em que vivíamos.

Alguns conseguiram, outros não.

Eu ainda vivo a peregrinar por caminhos ásperos e difíceis, mas necessários. Seguir adiante é preciso, inobstante os tropeços da idade septuagenária.  

Em São Paulo, colhi numa folha de papel que guardo comigo, a assinatura de Graziela, já na velhice, beirando os oitenta anos, mãos trêmulas e caneta titubeante entre os dedos.

Isto se deu em maio de 2009. Confesso que me emocionei ao lembrar seus ensinamentos, acomodando o lápis em minha mão, para dali nascerem as primeiras palavras escritas.

Tempo de infância na Fazenda Bom Jardim, tempo dos primeiros sonhos, tempo de idade tenra em busca de amparo.

Assim como a vida dá alegria e tristeza, também mostra razões para refletir, abandonar a arrogância, recolher-se à pequenez, ajoelhar-se diante da humildade e, algumas vezes, chorar. 

Graziela mudou-se para São Paulo e por aqui viveu algumas décadas, sempre rodeadas de parentes e amigos. Os mais próximos carinhosamente a chamavam Dadá.

Um dos maiores e inexplicáveis vazios que senti na vida, até aqui, aconteceu no dia do seu enterro em Vila Formosa, em São Paulo. Uma sensação de terrível desamparo.

Parecia que sua despedida em direção ao túmulo estava arrancando alguma coisa de mim, mas deixando o que de mais precioso ela me passou naqueles dias de infância: o conhecimento, a gratidão e o gosto pelo estudo.   

araujo-costa@uol.com.br

Cisternas do Nordeste e sinais de maracutaia

Ministro Wellington Dias/Fábio Rodrigues, Agência Brasil

Há um programa de combate à seca no Nordeste baseado na distribuição de cisternas para famílias do meio rural.

O programa é capitaneado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

O ministro titular da pasta – todos sabem – é Wellington Dias (PT), ex-governador do Piauí.

Wellington Dias é aquele esperto senhor lulopetista que, para acabar com a fome, começou por sua casa e arranjou um emprego vitalício de conselheira para a mulher Rejane Ribeiro Souza Dias, no Tribunal de Contas do Piauí, com salário aproximado de R$ 40 mil por mês, mais mordomias e penduricalhos que elevam o salário às nuvens.

O emprego de Sua Excelência, repita-se, é para sempre, até se aposentar.

Mas vamos ao assunto das cisternas.

O programa de combate à seca destinou R$ 755,8 milhões para viabilização de cisternas.   

Desse valor, 85% – cerca de R$ 640,1 milhões – foram destinados a uma Organização Não Governamental (ONG) de filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT).

A ONG chama-se Associação Um Milhão de Cisternas para o Semiárido que, por sua vez, subcontrata outras  entidades dirigidas por petistas, para instalar os reservatórios de água nas pequenas fazendas e sítios espalhados pelo Nordeste.

Mais do que isto: repasses do programa – 9 milhões – foram destinados a entidades dirigidas por ex-assessores petistas do ministro Wellington Dias.

A ONG COOTAPI, do Piauí, que recebeu R$ 9 milhões, é dirigida por assessor com cargo comissionado de Rafael Fonteles (PT), atual governador do Estado, sucessor e aliado de Wellington Dias.  

O jornal O Globo identificou 37 ONGs comandadas por petistas que foram subcontratadas por R$ 152 milhões para o combate a seca através das cisternas.

Por enquanto, sabe-se que a bagunça está espalhada pelo Ceará, Pernambuco e Bahia, por exemplo.

Na Bahia, feudo petista comandado pelo governador que entende de valas e retroescavadeiras e nada de segurança pública, R$ 3,4 milhões foram destinados a uma entidade de nome Instituto de Formação Cidadã, com sede em Guanambi e igual valor para a ONG Centro de Agroecologia do Semiárido, de Manoel Vitorino, todas dirigidas por petistas.

Como se diz no Nordeste, “além da queda, coice”.

Como se não bastasse o assalto aos aposentados do INSS – milhares no Nordeste – o nordestino pobre e carente ainda passa por situações esquisitas como essa das cisternas, de transparência duvidosa, no mínimo.

Entretanto, quero crer que se trata tão somente de mera coincidência que todo esse dinheiro público seja derramado somente em entidades dirigidas por petistas.

O ministro Wellington Dias, certamente sensato, além de esperto, deve explicação à população do Nordeste sobre essa fumaça esquisita que sai do seu Ministério e das ONGs petistas.  

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Deslumbramento e soberania do Brasil à deriva.

Janja/Crédito: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Tirantes o constrangimento criado na China pela primeira-dama do Brasil e sua deslumbrada insignificância, o episódio serve para reforçar que o papel da primeira-dama, qualquer que seja ela, em qualquer governo, nada tem a ver com funções de Governo e de Estado.  

Logo, a primeira-dama não deve se imiscuir em assuntos oficiais tratados entre o Brasil e os demais países. A função é restrita ao presidente da República que é chefe de Governo e de Estado.

O respeitável corpo diplomático brasileiro, por sua vez, faz a atribuição que lhe compete, consoante o estilo e regras do Itamaraty.

Quebrar protocolo em eventos oficiais é reprovável e constrangedor, mormente em visita a países amigos, na casa do anfitrião. Foi o que Janja fez estabanadamente e ofuscou a visita do presidente Lula à China.

De tão bizarro e fora de esquadro o episódio protagonizado na China pela primeira-dama Janja, que a equipe de Lula da Silva se sentiu constrangida e o presidente chinês e sua mulher deram um chega pra lá na deslumbrada mulher do presidente.   

D. Janja precisa ler, para aprender a se comportar, sobre a grandeza e a  conduta das primeiras damas Sarah Kubitscheck (esposa de Juscelino Kubitscheck), Eloá Quadros (esposa de Jânio Quadros), Ruth Cardoso (esposa de Fernando Henrique Cardoso), dentre outras.

Se as indevidas interferências da primeira dama continuarem em assuntos oficiais, das duas, uma: ou presidente Lula da Silva não manda mais em seu cambaleante governo, ou o seu redor virou uma esculhambação, o que não chega a ser nenhuma novidade.  

Entretanto, o que é mais constrangedor é o presidente Lula da Silva pedir ao presidente chinês para enviar uma pessoa de confiança ao Brasil com o objetivo de interferir no controle das redes sociais em território brasileiro.

Por onde anda a soberania do Brasil?

araujo-costa@uol.com.br  

Estas Palavras Rimadas de Laudney Mioli

A boa companhia de Palavras Rimadas, de Laudney Mioli

O conspícuo Laudney Mioli, paulista do simpático município de Adolfo, lançou recentemente, Palavras Rimadas, novo livro de sua abalizada autoria.

O livro tem a lavra da Editora LUX e prefácio, também abalizado, de   Darci Fonseca. O jornalista Edmilson Zanetti enriquece-o com palavras de saudade do passado da cidade de Adolfo.

Como se vê, Laudney está bem acompanhado. Aliás, esta é uma de suas façanhas: sempre se acercou de boas companhias.

No mais, como tudo que Laudney se propõe a fazer, o livro é admirável.

Desejo a Laudney constante êxito no ofício de escritor.

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Retrato e sombra do tempo: José Januário, político de Chorrochó

“A morte é uma sombra que não cobre o sol da vida.” (José Sarney, ex-presidente da República e membro da Academia Brasileira de Letras.

José Januário da Silva/arquivo pessoal do autor

José Januário da Silva exerceu a atividade política durante muitos anos no município de Chorrochó.

Sua trincheira de trabalho e luta política era a Fazenda Estreito, nos limites do município de Curaçá, à margem do Riacho da Várzea, lá para as bandas de Patamuté.

Homem de poucos amigos, mas de amizades sólidas, mantinha estilo sério, respeitador e alinhava-se às estruturas de educação e modo de vida do sertão.

Em Chorrochó, seu amigo de sempre foi o líder Dorotheu Pacheco de Menezes, de quem era aliado politicamente. Outro amigo era Agatão Pires Belfort, parente distante e por quem tinha admirável consideração.

Em Curaçá, tinha predileção por Durval Santos Torres (Durval Gato), amizade que vinha dos tempos em que Chorrochó pertencia àquele município.

Em Patamuté, centenário distrito de Curaçá, seu amigo mais presente era o cunhado, comerciante e também político Antonio Ferreira Dantas Paixão com quem discutia política e amenidades.

A caatinga foi o cenário, o horizonte e, sobretudo, a base de apoio de José Januário. Nascido no limiar do século XX, nunca se afastou do lugar e lá construiu seu caráter e sua história de vida.

Culto, autodidata, ético, inteligente, escrevia bem, texto escorreito e portador de conhecimento amplo sobre a vida e as coisas da vida.

Desdobrando o emaranhado do tempo, lembro José Januário como referência de honestidade e honradez, incapaz de produzir qualquer mau exemplo que se estendesse à juventude de então.

Já morando em São Paulo, dele recebi algumas cartas, filosóficas e orientadoras cartas, quando ainda se escreviam cartas e o correio era uma expectativa para quem estava distante de sua terra.

José Januário exerceu a vereança em Chorrochó, mas os registros de sua passagem pela Câmara Municipal são tenros, escassos, opacos, praticamente inexistentes, como, de resto, são os registros de todos que passaram pela Edilidade .

Os governantes de Chorrochó sempre foram negligentes com a História do lugar, de modo que resta a esperança de que as novas gerações que se vinculam à cultura local se interessem por restabelecer o passado que o município construiu dignamente.

Foram contemporâneos de José Januário na atividade política, dentre outros, além de Dorotheu Pacheco de Menezes e José Calazans Bezerra (Josiel): Antonio Pires de Menezes (Dodô), Pascoal Almeida Lima, Oscar Araújo Costa,  Lucas Alventino, José Claudionor de Menezes (Nonô), Vivaldo Cardoso de Menezes, Ariçon Gomes de Souza, Aurélio Alves de Barros, Sebastião Pereira da Silva (Baião) e Boaventura Manoel dos Santos.

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Governo Lula é “bastantemente avacalhante”    

Odorico Paraguaçu, caricato prefeito da agitada Sucupira, se vivo fosse, certamente seria aliado a Lula da Silva e aos seus súditos mais próximos.

Assim como em Sucupira, adeptos, fanáticos e ingênuos, acreditam piamente nalguma coisa, mesmo que seja em político corrupto e suas lorotas.

Vão aqui alguns exemplos da confusão instalada no gangrenado governo petista.

Relativamente ao furto dos aposentados e pensionista do INSS, o governo se apressou em dizer que a estrutura dos descontos ilegais deu-se em 2019 no governo Bolsonaro.

Não está-se dizendo o contrário, tampouco duvidando disto.

Contudo, ocorre que a maracutaia se avantajou neste terceiro governo Lula da Silva, quando o ministro da Previdência Social (Carlos Lupi-PDT), o ministro do Trabalho (Luiz Marinho-PT), amigo pessoal de Lula e a direção do INSS, antros do esquema corrupto, foram indicados e nomeados no governo de Lula, dentre pessoas de sua confiança ou de confiança dos ministros das respectivas pastas.

Há até uma instituição envolvida no escândalo em que dela é dirigente Frei Chico, irmão de Lula, o que não significa, por enquanto, que ele seja culpado.

Se a instituição de Frei Chico participou do assalto aos aposentados, pouco importa se a estrutura vem ou não do governo Bolsonaro.

Se houver provas, a instituição tem de ser punida, independentemente de o assalto aos aposentados ter sido estruturado no governo de Bolsonaro ou de Lula.

O enviesado dessa história do caos lulopetista vai além.

O governo petista diz que o problema começou no governo Bolsonaro. Então, por que o governo Lula é contrário à formação e instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso Nacional, para investigar o caso?

A espevitada ministra Gleisi Hoffmann, das Relações Institucionais e o deputado Lindberg Farias, líder do PT na Câmara, dentre outras lideranças arraigadamente lulistas, estão em franca campanha para impedir a CPMI. 

Dentre essas outras lideranças contrárias à CPMI, inclui-se o senador sem noção Randolfe Rodrigues (PT), do Amapá, líder do governo no Congresso Nacional, aquele senador que fala muito e nada diz.

Por outro lado, o governo lulopetista está sinalizando o reembolso dos descontos em favor dos aposentados e pensionistas, mas com dinheiro público.

Acho que minha inteligência não alcança a honesta intenção de Lula da Silva. Como se sabe, Lula é honesto, honestíssimo.

Senão, vejamos:

Sindicatos e associações pilantras credenciadas pelo Ministério do Trabalho, em conluio com dirigentes do INSS, usurparam o bolso dos pobres e Lula pretende devolver tal dinheiro surrupiado com recursos públicos, por óbvio, provenientes de impostos que esses mesmos pobres pagaram e/ou ainda pagam.

Pergunta-se, então: qual o destino do dinheiro que as associações e sindicatos afanaram dos aposentados e pensionistas?

Então, o governo não está devolvendo o dinheiro furtado, mas simplesmente penalizando ainda mais o bolso dos pobres surrupiados, ou seja, devolvendo com o próprio dinheiro dos brasileiros.

A ministra Simone Tebet – a mesma que dizia que o maior escândalo de corrupção da história deu-se no governo Lula e hoje pede a bênção ao mesmo Lula – assegurou que o dinheiro público é uma saída para cobrir o rombo do assalto aos aposentados e pensionistas.

De outro turno, Rui Costa (PT), ministro-chefe da Casa Civil, entrou em rota de colisão com o ministro da Controladoria Geral da União (CGU) e sinalizou que  investigar o assalto aos aposentados não é tão importante assim.

Rui Costa disse que o papel da Controladoria Geral da União “é impedir o crime” e não “apurar o crime” (O Globo, 08/05/2025).

Então, que se dê à CGU atribuições legais para investigar. O que não pode é criticá-la porque se dispõe a investigar.

Como se vê, o governo Lula é “bastantemente avacalhante”.

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Waldir Pires e a decência em fazer política

Waldir Pires/Foto: André Dusek

O governador Jerônimo Rodrigues (PT), adepto da antidemocracia da retroescavadeira, não perderia tempo algum se procurasse ler sobre Waldir Pires, um de seus predecessores no governo da Bahia.

A leitura sobre grandes homens públicos sempre nos conduz aos bons exemplos.

Sensato, culto, educado, nobre, digno, inteligente e, sobretudo democrata, não se conhece na história da vida política de Waldir Pires uma só palavra ofensiva aos baianos e, por extensão, aos brasileiros.     

Duas qualidades inquestionáveis de Waldir, dentre muitas: a combatividade e a retidão de caráter. Homem de convicções admiráveis defendia arraigadamente o ideário que sempre sonhou para o Brasil.

Era viciado em democracia e extremamente ético.

Waldir Pires disputou a eleição de 1986 para o governo da Bahia, tendo como adversário principal o jurista e professor de direito constitucional Josaphat Marinho, este apoiado pelo poderoso Antonio Carlos Magalhães (ACM), líder político inconteste na época.

Waldir ganhou a eleição, beneficiado pelo alvoroço democrático. O que veio depois é outra longa história.

Na década de 1950, aos 24 anos de idade, Waldir Pires foi secretário do governo Régis Pacheco e, mais tarde, deputado estadual, deputado federal e Consultor Geral da República na presidência de João Goulart.

Essa primeira fase de sua atuação política anterior ao movimento de 1964 foi auspiciosa, rica, valiosa.

Antes, Waldir havia disputado e perdido as eleições de 1962 ao governo da Bahia para o dentista e ex-prefeito de Jequié, Antonio Lomanto Júnior (1924-2015).

Com a queda do presidente João Goulart, Waldir e seu amigo Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil do governo Jango, fugiram num avião monomotor para o Uruguai. Lá ele viveu alguns anos e depois se exilou na França.

Com a anistia, terminou a amargura e voltou ao Brasil. Na França, foi professor na Universidade de Dijon e depois na Universidade de Paris.

No pós-exílio, além de governador da Bahia e parlamentar, Waldir foi ministro da Previdência, ministro do Controle e da Transparência e ministro da Defesa.

Nascido em Acajutiba, passou a infância em Amargosa e mudou-se para Salvador. Daí, Waldir saiu para o mundo da grandeza democrática.

O despontar para o amanhecer político – dizia ele – se deu em Nazaré das Farinhas. 

Sua história de luta e coragem é um exemplo para aqueles que desejam um Brasil melhor para todos.

Considerado de centro-direita, mas sempre aliado à esquerda democrática, Waldir era estratégico e ostentava brilhante capacidade de costurar alianças. Era avesso a rompimentos.  

Calar adversários certamente nunca esteve no horizonte de Waldir, tampouco arranhar os princípios da democracia. Respeitava dignamente os adversários políticos.

Mas a memória de Waldir já dava sinais de cansaço, embora lúcido, ativo, atento às coisas do Brasil. Sua combatividade, entretanto, vinha perdendo o vigor desde 2016, término do mandato de vereador de Salvador.

A esposa D. Yolanda Avena Pires, com quem viveu 55 anos e foi sua companheira de vitórias e infortúnios, faleceu em 2005. Mas Waldir continuou lutando em defesa de suas convicções democráticas.

Em 1986, seu amigo de exílio e da vida, Darcy Ribeiro escreveu: “Waldir tem panca e ideologia de estadista. Seu propósito é, nada menos, do que passar o Brasil a limpo”.

Waldir Pires recolheu-se à sua última trincheira, o mundo da velhice. A derradeira e altiva batalha que travou.

Waldir faleceu na madrugada de 22/06/2018. Deixou um legado de esperança e combatividade em favor do Brasil. Exemplo para todas as gerações.

araujo-costa@uol.com.br

Despreparado, governador da Bahia pode tropeçar na impopularidade.

Brasil de ontem e de amanhã! Dai-nos o de hoje, que nos falta.” (Ruy Barbosa, 1849-1923).

Governador Jerônimo Rodrigues (PT). Crédito: Mateus Pereira/Jornal Grande Bahia

Jerônimo Rodrigues (PT) sugeriu acabar com os brasileiros contrários ao PT e ainda indicou a forma de como fazer: jogá-los  em valas com o uso de retroescavadeira.

Sua Excelência deve ter se espelhado nas sangrentas ditaduras que o PT admira.

Exemplo: em Cuba, o comunista Fidel Castro, que era amigo de Lula da Silva – chegou almoçar na casa do petista, na Rua São João, em São Bernardo do Campo – fazia o fuzilamento de adversários encostados em paredes conhecido como “paredón”.

A história registra que, pelo menos 9 mil cubanos, foram executados nessa circunstância.

Na Bahia de hoje, o governador dos baianos recomenda valas.

Não importa o procedimento, se fuzilamento ou valas. Nenhum deles pode acontecer.

Difícil aquilatar se é a ideia que é abominável ou o governador da Bahia.  

Considerando o descalabro, a crueldade da afirmação ou a ingenuidade política do governador, não resta dúvida de que ele alcançará a impopularidade.

O radicalismo ofusca a razão, deturpa o raciocínio e apequena o radical que, por si só, é pequeno.  

A Bahia – ou parte dela – está envergonhada.

A Bahia, que teve como governadores, respeitáveis homens públicos da envergadura de J.J.Seabra, Landulfo Alves, Otávio Mangabeira, Antonio Balbino, Régis Pacheco, Juracy Magalhães, Antonio Carlos Magalhães e Waldir Pires, dentre outros, nunca passou por tamanha agressão aos seus valores democráticos.    

A Bahia é nobre demais para ser assim espancada e espezinhada.

araujo-costa@uol.com.br

A Bahia e o radicalismo do governador

Em primeiro plano, governador Jerônimo Rodrigues (PT). Crédito Joa Souza/GOVBA

Em discurso estúpido, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) sugeriu que o ex-presidente Bolsonaro e todos seus eleitores sejam jogados na vala, utilizando, para isto, retroescavadeiras.

Inobstante governador do Estado, Sua Excelência não sabe que a Bahia e o Brasil são de todos nós, independentemente da escolha política de cada um.

Esta ignorância política apequena-o como homem público.

A democracia pressupõe conviver com os contrários e absorver os antagonismos, civilizadamente, o que não parece ser o pensamento do governador baiano.

As palavras do governador são raivosas e destrambelhadas e beiram o descalabro ideológico. São incompatíveis com a decência do cargo de governador, que tem o dever precípuo de respeitar todos os estaduanos.

Ei-las, conforme reproduzidas por diversos órgãos de imprensa:

“Tivemos um presidente que sorria daqueles que estavam na pandemia sentindo falta de ar. Ele vai pagar essa conta dele, e quem votou nele podia pagar também a conta. Fazia no pacote. Bota numa enxedeira…Sabe o que é um enxedeira? Uma retroescavadeira. Bota e leva todo mundo pra vala.”, (Correio, 04/05/2025).

Os eleitores de Bolsonaro não podem pagar pelos erros do ex-presidente, assim como os eleitores de Jerônimo Rodrigues não devem ser responsabilizados pelos erros do governador.

O discurso tem a inequívoca evidência de desviar a atenção da população sobre o escândalo dos respiradores protagonizado pelo então governador petista Rui Costa, chefe do boquirroto Jerônimo Rodrigues, que pagou cerca de R$ 48 milhões para uma empresa fajuta, não recebeu os respiradores e nem o dinheiro de volta, caso que ainda está sob investigação.

A falta de respiradores e o consequente dinheiro surrupiado também não contribuiram para mortes de nordestinos durante a pandemia?

Dinheiro público, que o petista Rui Costa não teve a cautela de zelar por ele, na condição de presidente do Consórcio Nordeste, espécie de palanque político dos governadores da Região.

O governador Jerônimo Rodrigues estava indo bem, mas tende a cair no despenhadeiro do desgaste político. Certamente aprendeu com seu guru Lula da Silva, que inventou a polarização “nós e eles” e deu no que deu: semeou a discórdia entre os brasileiros e dessa insanidade política nasceu a chamada polarização, que atravanca o debate político.

Não parece pugnar pela seriedade, o governante que se ancora em avantajado rabo de palha que seu grupo político ostenta, para acusar adversários considerados inimigos e sair por aí, irresponsavelmente, ofendendo cidadãos que exerceram o direito democrático de fazer, através das urnas, a escolha que melhor lhes convém.    

Jerônimo Rodrigues quer manter a Bahia na condição de feudo petista a todo custo, inclusive ofendendo quem não votou no PT.

Governar significa, sobretudo, ter preparo para enfrentar o emaranhado de ideias que a democracia produz.

A Bahia é de todos, governador. E não somente dos petistas. Se o governador não tiver condições de compreender isto e tampouco entender que governa para todos os baianos – bolsonaristas e lulopetisas – a situação é grave.

O radicalismo leva somente à incompreensão e à imbecilidade política. Mais do que isto: prejudica a população.

araujo-costa@uol.com.br      

Conversa do envelhecer: Elias, Helda e a saudade

Foto do casamento de Helda e Elias, Santo André-SP, 02/06/1979

Já se vão, por aí, algumas décadas.

Na década de 1970 havia uma pensão na Rua Brás Cubas, centro de Santo André, coração do ABC paulista.

A pensão não existe mais. O progresso imobiliário extirpou-a do local, mas não conseguiu extirpar as lembranças e a saudade dos amigos de antanho.

A pensão abrigava rapazes, geralmente estudantes e alguns senhores circunspectos, que ainda cavavam o esperançar da vida.

Morei lá, vivi lá, aprendi muitas coisas lá. Dessas coisas, pratiquei umas, abandonei outras e tenho dúvidas se acertei ou errei ao não ter seguido outras tantas.

O ambiente era central e acolhedor, vizinho à bela e histórica catedral diocesana de Nossa Senhora do Carmo, perto de tudo e inserido nos acontecimentos da fervilhante região do ABC.

Na catedral está enterrado D. Jorge Marcos de Oliveira, primeiro bispo da diocese de Santo André.

Como é praxe nesses ambientes de juventude, ali nasceram amizades, sedimentaram-se experiências, dissolveram-se arrogâncias e, mais do que isso, aprendiam-se modos de viver.

Aliás, toda pensão e seus quartos têm modus vivendi, regras sociais sadias criadas por seus ocupantes.

Toda pensão é um simulacro de nossa sociedade, às vezes conturbada, outros vezes tranquila, quase sempre incompreensível, mas aceitável.

Lembro um amigo pernambucano, Elias Pedro dos Santos.

Convivemos lá na pensão, inquietos, barulhentos, combativos. Ele já professor de uma respeitável instituição paulista; eu ainda estudante, sem nenhuma âncora profissional, impaciente com as incertezas da vida.

Elias é um sujeito que cultiva as amizades, preocupa-se com elas e, sobretudo, não as abandona. É intransigente na defesa de seus amigos.

Quase quatro décadas depois, Elias me localizou em São Bernardo do Campo e honrou-me com a sua visita.

Senti-me vaidoso, rejuvenescido. Como nos tempos de pensão. Elias continua inquieto, buliçoso, bem-humorado.

Mas a passagem do tempo lhe trouxe uma marca: os cabelos homogeneamente brancos, tingidos pelo tempo. Marca que, além da experiência, significa fidelidade aos seus princípios de berço pernambucano e nordestino. 

O escritor Mario Prata adotou uma teoria um tanto lógica e curiosa: o período da “envelhescência”. Diz ele que essa fase da vida se situa entre a maturidade e a velhice, vai dos 45 aos 65 anos.

Sendo assim, nela já me incluí, faz tempo. É a preparação para a velhice, aduz o escritor, assim como depois da infância segue-se a adolescência, que é a porta de entrada da maturidade.

Então, creio, a “envelhescência” traz reflexão e inquietude. Inevitável olhar para trás e perceber o diluir de muitas esperanças, até mesmo as idealizadas em quartos de pensão.

Inevitável antever o futuro e observar o pouco tempo que resta para a realização dos sonhos que ainda pretendemos alcançar. A construção desses sonhos claudica diante da exiguidade do tempo. O horizonte se distancia, mas a coragem persiste. Os sonhos também.

Mas o certo é que na “envelhescência” adquirimos envergadura para não aceitar mais algumas coisas. Por exemplo, que pessoas empoleiradas no poder nos empurrem goela abaixo coisas que elas se acham no direito de fazer. Os governantes gostam muito disto. Adoram empurrar imbecilidades em nossos orifícios.

Naquele tempo da pensão de Santo André lutávamos por um Brasil melhor. Hoje os momentos de reflexão insistem em dizer que fracassamos politicamente.

A única certeza é que valeu a pena a sequência dos tropeços e a poeira que sacudimos ao caminhar em direção aos nossos sonhos.

Em Santo André, naquela quadra do tempo, Elias conheceu Helda e com ela se casou.

A foto que ilustra e encima esta crônica é do casamento de Elias com Helda em 02/06/1979.

Helda faleceu em 20/03/2025. Estamos todos tristes.   

araujo costa@uol.com.br