O PT, Michel Temer e o outro lado do espelho

“Eles furtam em todos os tempos de verbo: furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse” (Padre Antonio Vieira, “Sermão do Bom Ladrão”, 1655).

O Partido dos Trabalhadores (PT) sempre quis Michel Temer na condição de aliado e isto ficou evidente nos conchavos para a sucessão do primeiro governo nacional petista.

Lula da Silva o achava ideal para ser cúmplice do PT e o entronou como tal. Empurrou-o goela abaixo de dona Dilma Rousseff, que não morria de amores por Michel, mas não podia rejeitá-lo como vice, por duas razões inexoráveis: não tinha jogo de cintura política nem de qualquer outra cintura e não podia contrariar o morubixaba Lula da Silva.

Durante todo o tempo em que exerceu a presidência da República, dona Dilma governou com Michel Temer atravessado na garganta, mas em público o elogiava, até as relações pessoais entre eles subirem ao telhado.

Entretanto, Lula da Silva sabia muito bem porque queria Michel Temer na condição de seu aliado, a qualquer custo. E a razão era muito simples: os partidos de ambos – PT e MDB – estavam conluiados para furtar o Brasil, inclusive a Petrobras, que Lula da Silva jurava defendê-la.

Lula da Silva sabia de tudo, mas dizia que não sabia e hoje também diz que não sabe a razão pela qual está no xilindró, embora por pouco tempo. É que “um dia é da caça, outro do caçador”, diz o ditado, mais ainda quando o caçador vive à procura de caça alheia.

Com o advento do impeachment de dona Dilma, os petistas passaram a dizer que Michel Temer é golpista, elegeram-no como inimigo político e ainda tentam construir um discurso esfarrapado para desdizer tudo que haviam dito sobre o hoje presidente da República, como se os brasileiros fossem idiotas a ponto de acreditar no descalabro que eles apregoam.

O fato é que o PT furtou, o MDB furtou, o PP furtou, o PSDB furtou e outros partidos políticos, aliados ou não, também furtaram. E “haveriam de furtar mais, se mais houvesse”, como dizia o padre Antonio Vieira.

Como se vê, por conta dos furtos, o Brasil está atravessando uma crise moral, econômica, social e política. Não o Brasil, propriamente, mas os políticos que participam ou participaram do poder em todos os níveis, pelo menos nesses últimos trinta anos.

Após se lambuzarem no mel da insensatez, PT e MDB descobriram que o espelho tem outro lado, além do lado que refletia o brilho que imaginavam ter. É o lado opaco, sem luz, sem brilho. É este lado do espelho que os remete para o desmoronamento moral, quiçá para os presídios.

Hoje Michel Temer, Lula da Silva e todos os que com eles participaram dessas maracutaias seguem o mesmo caminho rumo ao banco dos tribunais.

araujo-costa@uol.com.br

Festa de Santo Antonio de Patamuté

Igreja de Santo Antonio de Patamuté/Reprodução fcebook (a foto não é atual)

Começa no primeiro dia do mês de junho – e se prolonga até o dia 13 – a festa de Santo Antonio de Patamuté, padroeiro do lugar, no sertão baiano de Curaçá. Mui remotamente Patamuté elevou-o à condição de padroeiro, assim como Abaré, Canudos, muitos outros lugares da região e inúmeros espalhados pelo mundo.

É impressionantemente popular e querido “o santo de todo o mundo”, como assim é chamado pelos católicos desde o século XII.

O que é ser padroeiro? Significa ser protetor, patrono, ser presente no dia-a-dia do povo. A festa de Santo Antonio, conhecida como trezena, porque se estende por treze dias, vai acontecendo, fervorosamente, avivando a fé de quem a tem ou, pelo menos, pensa que tem. Mas, em termos de fé, o importante é pensar conforme o preceito bíblico, que diz: “Fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hebreus, 11-1).

Diz a história de Patamuté – e a história é sábia – que a primeira imagem de Santo Antonio, que ainda está lá na igreja, ao lado de outra adquirida depois, foi doada por um retirante lá pelos idos de 1902 ou 1903. A torre da igreja foi levantada em 1906. O certo é que Patamuté já ultrapassou um século de fé e devoção ao padroeiro.

Antigamente, a expectativa do povo era muito grande à espera da festa. Quer dizer, antigamente é modo de dizer, porque não sou tão velho assim, para que um antigamente venha se intrometer nesta crônica. É que sou de uma quadra do tempo em que o respeito à igreja e ao seu calendário era mais evidente. Revestia-se de seriedade e a religião não se misturava tanto com as coisas profanas. Havia uma separação criteriosa e necessária.

Havia expectativa à espera dos festejos, porque naquele tempo, aguardava-se a festa do padroeiro para se realizarem casamentos e batizados. Houve um tempo em que os casamentos de Patamuté eram acompanhados pela Orquestra Filarmônica 15 de Março, de Barro Vermelho, sob a regência do maestro Filemon Martins.

A procissão de encerramento da festa, dia 13, acontecia num clima de reverência. Os comerciantes fechavam as portas de seus estabelecimentos em sinal de absoluto respeito, independentemente da fé que professavam.

Entretanto, sabe-se que nos dias de hoje não é mais assim. Mudou o tempo, mudaram-se os costumes e o conceito de respeito à fé alheia.

Há mais de uma década, pelo menos, a falta de criatividade permitiu que se fizesse uma pista de dança nos fundos da igreja de Santo Antonio. Podia ser mais distante do local onde se praticam as atividades religiosas, porque espaço sempre teve. Entretanto, minha pequenez de raciocínio não me autoriza a criticar a inteligência de nossos governantes municipais. Todavia, mudou ou está mudando, parece.

Além do mais, falando de antigamente, participei, como pude, das atividades da pequena igreja de Patamuté e fui até, em certo ponto, um ingênuo defensor da ideia de que lá fosse criada e instalada uma sede de paróquia, para que tivesse padre diuturnamente, cuidando das fraquezas e misérias humanas.

Coisas da juventude, uma ideia difícil de acontecer e de explicar, mas própria dos sonhos da idade. Os sonhos são os melhores atributos da juventude.

O padre Adolfo Antunes da Silva, que foi vigário de Curaçá e meu amigo, disse-me, sabiamente, que a juventude às vezes não tem em que se amparar, a não ser na própria utopia. Eu era utópico neste particular. A utopia é inerente à juventude.

Patamuté sempre segurou suas tradições religiosas, com a força de sua gente, independentemente de ser sede de paróquia. Continua não sendo e, apesar disto, Santo Antonio está lá, excelso, galante, protetor. Com a dedicação de seus moradores e a indiferença injustificável de alguns filhos relapsos e distantes como eu.

O certo é que Patamuté já está em festa. Desde os primeiros dias de maio já acontece um quê de felicidade. Alguns de seus filhos mais presentes não deixam esmorecer a homenagem ao santo padroeiro, tampouco se esquecem do lugar nesta época do ano. E para lá acorrem com o intuito de sustentar a fé e tradição do lugar. Escravo dos meus defeitos, eu não me tenho feito presente há anos.

Cada dia, nesses treze da festa, a comunidade se faz presente, como se angariando forças para a continuidade da vida. Reflete sobre os temas de cada noite, temas fortes, necessários, importantes para a comunidade.

Em anos anteriores, generosamente, a organização da festa me incluiu como noiteiro no dia 06, embora em caráter temporário. Sou grato e elevo minhas preces ao glorioso Santo Antonio para que cuide bem de seu povo e de todos nós, como sempre fez.

Santo Antonio de Patamuté está lá, acolhedor, hospitaleiro, protetor e glorioso. E seus filhos pedem sua bênção tão necessária neste mundo de turbulências, crueldades e desassossego.

Em tempo:

Esta matéria, publicada em 22/05/2018, foi editada para fazer constar que a festa de Santo Antonio vem contando com a participação do dinâmico Frei Valdevan Correia de Barros, pároco da Paróquia de Bom Jesus da Morte e São Benedito, de Curaçá, que preside as cerimônias atinentes às festividades do padroeiro.

Frei Valdevan pertence à Ordem dos Frades Menores Conventuais (OFMConv) e vem se destacando em seu trabalho religioso em Curaçá.

araujo-costa@uol.com.br

A alvorada e o despertar

“O homem desperta e sai cada alvorada

Para o acaso das cousas…e, à saída

Leva uma crença vaga, indefinida

De achar o ideal nalguma encruzilhada”

(Raul de Leoni, 1895-1926)

A razão de viver de cada um de nós reside na esperança. E essa esperança faz-se alentada toda vez que, ao amanhecer, a alvorada nos dá a certeza do início de um novo caminhar.

O ideal que buscamos talvez esteja numa encruzilhada ou simplesmente estribado em nossas próprias forças ou mesmo na vontade de seguir avante.

Seguir adiante significa carregar os fardos, as incertezas, o cansaço, as intempéries, os dissabores, as dores, a marca dos tropeços e, em certos casos, até mesmo as lágrimas que chegamos a derramar durante a caminhada.

Há horizontes que ainda não atingimos, mas pretendemos chegar lá. Sempre há uma luz distante, sempre há um sonho a ser perseguido e sempre há esperança.

O segredo é lutar, sonhar, atingir o topo do desconhecido. O desconhecido também é um caminho possível.

Termino com uma frase de D. Carmine Rocco:

“Se lhe der vontade de parar, olhe para quem caminha à sua frente. Ele também está cansado”.

Este é o nascer de um novo blog.  Com os defeitos de quem nele escreve.

Mas com a vontade de acertar, de corrigir, de engrandecer o debate e penitenciar-se diante das críticas.