“Não se faz política sem vítimas” (Tancredo Neves).
Fernando Haddad foi obrigado a assumir sua candidatura presidencial, em decisão tardia, mas necessária.
A equipe de confiança de Haddad o convenceu de que é por demais constrangedor ele ir quase todos os dias ao cárcere, ajoelhar-se aos pés de Lula e ouvir as ordens do morubixaba petista, o que tem sido para ele uma rotina embaraçosa.
Pessoas próximas a Haddad orientaram-no no sentido de assumir sua identidade, ser ele próprio o candidato presidencial e não fantoche do ex-presidente Lula, o que lhe desmoraliza como político e dá munição aos adversários. Haddad aceitou a sugestão aliviado.
Haddad não é títere, mas vítima da malandragem política de Lula, que o usou até mais não poder.
Já está dando certo a decisão da campanha de Haddad. O nome de Lula vai ser omitido, paulatinamente, nas falas e propagandas do segundo turno e, mais do que isto, a coordenação da campanha petista está adquirindo ares de seriedade, o que não se via antes.
O senador eleito e ex-governador da Bahia Jaques Wagner parece que vai integrar a coordenação da campanha presidencial petista e já ponderou: “o povo precisa conhecer o Haddad. Ele tem de assumir personalidade própria”.
Jaques Wagner era a primeira opção de Lula para a cabeça de chapa, em sua substituição. Experiente, declinou do abacaxi e abraçou a candidatura ao Senado da República. Está rindo à toa, sentado na prerrogativa de foro adquirida nas urnas da Bahia. Se a Lava Jato não lhe importunar até 31 de janeiro de 2019, somente poderá fazê-lo depois de oito anos.
Entretanto, Lula sinalizou para que Jaques Wagner passe a coordenar a campanha de Haddad, diante do clima de desânimo que tomou conta do candidato, após o primeiro turno das eleições, tendo em vista que ainda persiste a divisão do PT no que tange à candidatura Haddad.
Também faz parte da equipe que tenta mudar os rumos da campanha presidencial petista o ex-guerrilheiro Franklin Martins, homem de estrita confiança de Lula e profundo conhecedor de suas intenções na área da imprensa e Gilberto Carvalho, “o seminarista” de Santo André, pés e mãos de Lula.
A preocupação petista é que Jair Bolsonaro cresceu em todas as regiões, exceto no Nordeste, o que já era esperado. Isto tem dificultado as negociações do núcleo da campanha de Haddad para angariar apoios no segundo turno.
Os eleitores de Bolsonaro não se vinculam a líderes partidários e por isto a ausência de canais na campanha de Haddad tendentes a atrair tais eleitores para seu lado e mais alguns incautos.
Certo mesmo, por enquanto, só o apoio do lulista convicto Ciro Gomes, o que já se esperava e também o pífio apoio do invasor de propriedades Guilherme Boulos.
Haddad forçosamente terá de tentar dialogar com a indiferença, com o antipetismo e com os eleitores decepcionados com os desacertos da era Lula/Dilma.
É um tanto difícil.
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