Bahia: o PT está atrapalhando o PT

Há uma frase atribuída ao governador Otávio Mangabeira, considerado o “filósofo da baianidade”, que parece estar em alta: “Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”.

A Bahia é um dos estados em que o PT vai bem, com alvissareiras expectativas de êxito eleitoral nas urnas, tudo por conta da atuação de Jaques Wagner, que respira política o tempo todo e tendo em vista a incapacidade de articulação dos seguidores do carlismo, que está se esvaindo.

Contudo, há um quiproquó: o governador Rui Costa, pré-candidato à reeleição, trabalha na composição de sua chapa e pretende deixar de fora a senadora Lídice da Mata, aliada histórica do PT na Bahia, em favor do deputado estadual Ângelo Coronel.

Este senhor Coronel vem a ser o presidente da Assembléia Legislativa e faz parte do grupo do senador Otto Alencar.

O governador diz – e parece que acertadamente – que na formação da chapa vai considerar as peculiaridades locais da Bahia e, neste caso, a senadora Lídice não teria espaço, já que a outra vaga ao Senado da República é destinada ao cacique carioca e chefe político de Rui, Jaques Wagner, que tem eleição garantida, salvo se as águas que estão passando por baixa da ponte até as eleições de outubro o arrastarem para as caudalosas surpresas da Lava Jato.

Dentro do PT há um movimento para Jaques Wagner abrir mão da candidatura ao Senado e disputar a presidência da República em substituição a Lula da Silva, que dificilmente terá sua candidatura acolhida pela Justiça Eleitoral, em razão da Lei da Ficha Limpa, exceto uma situação de disputa sub judice, o que é possível.

Todavia, Jaques Wagner parece não estar disposto a abandonar a expectativa de oito anos de mandato no Senado para se dedicar à difícil tarefa de recolher as cinzas políticas de Lula da Silva, não obstante amigos.

É uma aventura, uma temeridade. Deixar o certo pelo duvidoso não parece ser a tradição política do ex-governador baiano.

Todavia, o quiproquó é o seguinte: a presidente nacional do PT, senadora paranaense Gleisi Hoffmann, que entende tudo de radicalismo e nada de política séria, não aceita que a senadora Lídice da Mata seja afastada da chapa majoritária de Rui Costa e insiste em meter o bedelho nas costuras políticas do governador. Até – dizem – Gleisi já gravou vídeos em apoio à candidatura de Lídice, o que não deve ser bom para a senadora baiana.

O destrambelhamento da senadora paranaense pode atrapalhar o PT da Bahia. Gleisi articula mal, mistura alhos com bugalhos e carrega uma agravante nas costas: é politicamente muito confusa.

Em Tocantins, a senadora Kátia Abreu que disputava a governadoria em eleição suplementar, ocupava um folgado primeiro lugar em todas as pesquisas de opinião. Bastou Gleisi Hoffmann gravar um vídeo em apoio a Kátia para a situação degringolar.

Abertas as urnas, Kátia Abreu amargou um mísero quarto lugar. E se escondeu, não se sabe se com vergonha, em razão da derrota inesperada ou para não se encontrar com a senadora Gleisi.

Como se vê, parece não ser recomendável que a presidente nacional do PT tente atrapalhar as costuras do governador Rui Costa. O PT pode se enroscar nas linhas de sua costura e atrapalhar o próprio desempenho eleitoral no estado.

Rui Costa tem um professor de política: Jaques Wagner. E a senadora Gleisi Hoffmann passou longe dessa sala de aula.

Como dizia Otávio Mangabeira, a Bahia tem precedente em todos os absurdos.

Colocar em risco composições políticas seguras feitas por Rui Costa e Jaques Wagner, para atender Gleisi Hoffmann, pode caracterizar um desses absurdos.

Quanto à senadora Lídice da Mata, sua história não será arranhada se, eventualmente, ficar fora dessa chapa majoritária de Rui Costa.

araujo-costa@uol.com.br

Mentiras e invenções

Desde jovem, sempre fui cauteloso e intransigente no que diz respeito à intromissão em assuntos pessoais dos outros. Quero dizer, a privacidade de cada um é um bem inviolável e protegido por disposição constitucional.

Ninguém tem o direito de escarafunchar ou intrometer-se na privacidade de outrem. Isto vale pra todos, sem exceção.

Todavia, de quando em vez, aparecem supostos pesquisadores, curiosos, bisbilhoteiros, fofoqueiros e outras figuras mais, todos ávidos para saber detalhes da vida dos outros.

O passado nada mais é do que a soma de muitos e constantes agoras e, neste contexto, há pessoas que se interessam em saber como éramos no passado, como somos hoje e até o que pretendemos ser no futuro. Sempre com uma pitada de maldade. Tirante a maldade, nada há de estranho nisto. O diabo é acrescentar o sórdido, o asqueroso, a torpeza.

Levanto cedo, porque comumente passo as madrugadas acordado, conversando com a insônia. E chego cedo ao meu local de trabalho, chova ou faça sol. Faz tempo que é assim.

O pesquisador também chegou cedo. Queria saber o significado de uma frase que eu teria dito: “noventa por cento do que escrevo é mentira. Só dez por cento é invenção”.

Deixei-o desapontado de pronto. Disse-lhe que a frase não é minha, nunca foi minha e jamais será minha. É do poeta matogrossense Manoel de Barros e, conhecidíssima, consta em todas as publicações que falam da vida do escritor. Frase bonita, poética, emblemática, talvez um “chega pra lá” nos intrometidos perguntadores.

Ele insistiu, questionou, titubeou: “mas você disse esta frase há pouco tempo, que eu sei”. E daí? Ponderei que, se disse, foi a título tão-somente de citação inserida noutro contexto que não a autoria e com o cuidado de declinar o nome do autor e se escrevi, o que também não lembro, tive igual cuidado de colocá-la entre aspas.

As citações são naturais, comuns, permitidas, desde que creditadas aos seus autores.  É a técnica, é a regra, é a ética, é a decência.

O pesquisador pretendia colocar uma cilada em meu caminho, espalhando-a no ventilador da irresponsabilidade. Ele sabia que a frase não é minha, mas, talvez por falta do que fazer, mente vazia, queria publicar alguma matéria confusa, sabe-se lá onde, no mínimo polêmica, problemática, altamente discutível.

Não foi desta vez, entretanto. Nem será noutra.

O escritor Jorge Amado contava que quando Sonia Braga foi escolhida para viver a personagem Gabriela na televisão, foi-lhe apresentada na casa do Rio Vermelho, em Salvador. Ele não a conhecia, nunca tinha visto e, portanto, a escolha não tinha sido dele, mas dos responsáveis pela novela.

Reunidos todos, antes de Sonia Braga chegar, um repórter de São Paulo presente à reunião, maliciosamente portando uma revista na qual a atriz tinha posado, perguntou maldoso: “por que você escolheu Sônia Braga?”. Esperto, Jorge Amado percebeu a malandragem: “escolhi porque ela é minha amante”. Instantes depois a atriz chegava e Jorge foi logo dizendo: “muito prazer Sônia, somos amantes. Sabia?”

As maldades andam por aí, em tudo quanto é lugar. O que dá audiência em televisão, redes sociais, mídia em geral e permite venda de jornais é a vida privada dos outros, suas fraquezas, inclusive. Então, a privacidade das pessoas às vezes é invadida, acintosa e desnecessariamente, extraindo dela o combustível para o sensacionalismo.

Até hoje não sei como alguém pode deliciar-se com a miséria dos outros.  É sádico valer-se de falhas, deslizes e até de fatos casuais, involuntários ou não, na vida de uma pessoa, para escancará-la diante de todos.

O trilho por onde passa a condução da ética está avariado. Precisa de cuidados.

araujo-costa@uol.com.br

 

 

Brasil provisório: o sono do governo

1. Apesar das constantes crises, tem muita gente dormindo no governo. O Palácio do Planalto vai adquirir 100 colchões de solteiro para a segurança presidencial. Os agentes estão com muito sono, pelo jeito.

Parece que a segurança do presidente Temer anda mesmo dormindo muito, tanto que o dono da JBS entrou na residência oficial do presidente, tarde da noite, com uma geringonça e gravou toda a conversa suspeita e cabeluda com Sua Excelência, sem ser incomodado.

Parece piada, mas não é. Se fosse um país sério, a segurança presidencial teria sido responsabilizada. Autorizar a entrada do executivo à residência oficial tudo bem, mas daí a gravar a conversa com o presidente da República vai uma grande distância. É incompreensível, inexplicável, assustador.

O ocorrido parece mais uma conspiração mal engendrada do que uma falha da segurança presidencial. Beira ao ridículo.

2. A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) não conseguiu detectar a ruidosa movimentação preliminar dos caminhoneiros para parar o Brasil. Aliás, feita às escâncaras.

O governo foi alcançado de surpresa. Pior: atabalhoado, não sabia com quem negociar. Continua não sabendo e a situação não está resolvida, com sério risco de nova paralisação dos caminhoneiros.

O serviço de inteligência do governo vai mal, muito mal. Um serviço secreto desses precisa mesmo é de muita cama pra dormir.

3. O presidente Michel Temer anda às voltas com crises, problemas pessoais, investigações, base parlamentar esfacelada, amigos presos e outros na iminência de serem trancafiados. Só não cai porque não tem para onde mais cair. Seu governo já não existe, o que dele resta vai-se capengando até 31 de dezembro.

4. O preço dos combustíveis deve fazer parte de uma política estratégica e perene em benefício do Brasil. O petróleo é brasileiro. Mas governo e Petrobras definem tudo provisoriamente, quando surgem os problemas, sempre de acordo com as regras do mercado internacional, em defesa de investidores externos.

5. A partir de janeiro de 2019 o Brasil vai piorar, se é que o despenhadeiro ainda terá espaço para coisas piores. Basta analisar os pré-candidatos que pretendem disputar a eleição presidencial. Um é pior do que o outro. Qualquer um deles que ganhar não terá credibilidade para mudar o Brasil. É uma excrescência só.
O Brasil, como sempre, continua provisório.

araujo-costa@uol.com.br

 

Estão sacaneando Lula da Silva

Alguns setores da imprensa, mais por gozação do que por maldade, estão sacaneando Lula da Silva.

Houve eleição suplementar no estado do Tocantins. A senadora Kátia Abreu, que conheceu dona Dilma Rousseff na presidência da República e, inesperadamente, passou a ser amiga da presidente “desde a infância”, concorreu ao cargo para a governadoria.

Kátia Abreu estava em primeiro lugar nas pesquisas, longe, muito longe, de todos os concorrentes, com chance até de ser eleita em primeiro turno, segundo as pesquisas.


A senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, gravou um vídeo e leu uma carta do ex-presidente Lula da Silva dando total apoio eleitoral à senadora Kátia Abreu, porque, segundo Lula e Gleisi, Kátia Abreu é amiga de dona Dilma e, por isto, merecia a vitória. E seria as mãos do PT no Tocantins, conforme a pretensão da senadora Gleisi.


Pois bem. Abriram-se as urnas. A senadora Kátia Abreu ficou em quarto lugar e, consequentemente, não teve chance de disputar sequer o segundo turno. Uma derrota acachapante.


Dizem as más línguas – e as boas também – que Lula presidiário e Gleisi Hoffmann falando asneiras, é melhor ser inimigo político de ambos do que aliado. A chance de ser eleito é maior. Sacanagem de parte da imprensa. Não é bem assim. A senadora Kátia Abreu não teve sorte.


araujo-costa@uol.com.br

 

Chorrochó e a ruína de suas tradições.

“As tradições são o passado que se faz presente e tem a virtude de se fazer futuro” (Tobias Barreto, 1839-1889).

A frase do filósofo e jurista sergipano Tobias Barreto parece não se aplicar ao município baiano de Chorrochó.

Limito-me a um exemplo, dentre outros, muitos, inúmeros: o abandono do prédio histórico da Prefeitura Municipal.

Entendo histórico, porque foi a primeira edificação que espelhou o coroamento da luta pela emancipação político-administrativa, porquanto lá se instalou e funcionou a sede da Prefeitura por algumas décadas.

Entretanto, Chorrochó vem se descuidando de seu passado, demonstra negligência quanto ao presente e, sobretudo, não parece vislumbrar o futuro.

A julgar pelo andar da carruagem, a história de Chorrochó, equivocadamente, não vem sendo construída sobre os alicerces seguros de suas tradições.

Evidencia-se ausência de cuidados no que tange à essência dos valores culturais e históricos do município, o que não é bom.

Em quadro assim, parece razoável entender que a história do município de Chorrochó está assentada sobre a ruína de suas tradições, de resto fragilizadas pelo descaso constante de seguidas administrações.

Cuidar do bem público não é conservadorismo. É um dever do município. Isto não significa deixar de priorizar coisas novas, mas manter o liame estrutural entre o passado e a evolução social de sua gente.

Evidente que o município deve construir novas edificações, viabilizar espaços e melhorar a qualidade dos serviços prestados à população, o que é louvável e, mais do que isto, necessário. Contudo, abandonar parte do patrimônio histórico é inaceitável, incompreensível, estúpido.

O estado de abandono em que se acha o antigo prédio da Prefeitura de Chorrochó não encontra amparo plausível em nenhuma justificativa eventualmente colocada pelas recentes administrações municipais.

Difícil não interpretar como descaso, negligência, desatenção.

Informações dão conta de que, ao longo das últimas administrações, as imediações do prédio serviram até, em certo tempo, de local propício para acúmulo de lixo e atuação de vândalos. Situação degradante, estapafúrdia, inexplicável.

Não sou o primeiro a levantar essa questão do abandono do prédio da Prefeitura. Outras pessoas já o fizeram com mais propriedade. Desta vez ocupo-me do assunto, ilustrando-o com imagens de arquivo.

Penitencio-me se a realidade for outra e se a atual administração de Chorrochó já mudou esse quadro deprimente.

Todavia, o que se tem notado em Chorrochó é a ruína de suas tradições.

Em tempo:

Deixo de atribuir crédito às fotos porque não consegui identificar o autor. Tratando-se de bem público, o crédito parece irrelevante. Mas o blog fará constar o crédito, se eventualmente instado a fazê-lo pelo autor das fotos.

Chorrochó

CHORROCHOO

araujo-costa@uol.com.br

 

 

Chorrochó e as redes sociais

Há algum tempo, não muito distante, dizia-se que o papel aceita tudo.  Escreviam-se impressões, pontos de vista, notícias, opiniões, et cetera.

Hoje, diferentemente, o mundo online inseriu outra realidade: tudo se vê em tempo real. Mas isto não significa que se deva aceitar tudo, cegamente, sem reservas.

As palavras sobrevoam o planeta instantaneamente. É difícil e até impossível recolhê-las, trazê-las de volta ao nosso arrependimento, à nossa pequenez, aos nossos impensados arroubos.

Conseguintemente, o que se escreve no papel pode ser mudado a qualquer tempo, ao passo que não pode ser mudado o que se diz no mundo virtual. Com exceção da retratação, da confissão de culpa, a mea culpa, do tardio arrependimento, nem sempre compreensível. Mas isto não é tudo, não pode ser tudo.

Os grupos de WhatsApp se transformaram em verdadeiras armadilhas. O que assusta é a disseminação de ofensas, de acusações, de discussões estéreis. As pessoas estão se acusando, tomando as dores de outras, mormente de políticos, de gestores, de governantes.

Está faltando sensatez, discernimento, delicadeza, compreensão.

Tenho notado que, em Chorrochó, pessoas que participam de grupos em redes sociais vêm se mostrando agressivas, impacientes e intolerantes com a opinião dos outros, o que é incompatível com a convivência democrática que todos desejamos.

Calma, pessoal! Chorrochó precisa ser visto como ambiente de todos nós. Os políticos, as administrações, os gestores e os mandatos passam, mas a terra é de todos nós, tanto dos filhos quanto daqueles que a adotaram como sua.  E aí, nada melhor do que a convivência sadia entre todos.

O fanatismo idiota e burro não leva a nada. Sejamos todos flexíveis ou, se isto não for possível, que sejamos, pelo menos, bons conviventes.

O cargo público eventualmente exercido deve ser atividade institucional digna, sem necessidade de misturar as coisas, se concursado ou em comissão, independentemente da instituição ou político que o concedeu.

Toda função é digna, mesmo que resultado de apadrinhamento político, o que não significa passaporte para ofender quem dela discorde.

araujo-costa@uol.com.br

Os caminhoneiros, a ABIN e a fraqueza do governo Temer.

Qualquer governo que não tem um sistema de inteligência eficiente é perigosamente vulnerável.  Assim é o governo Temer.

A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) se mostrou incapaz de informar o presidente da República sobre a pulverização da manifestação horizontal dos caminhoneiros, fato que o deixou sem meios de debelar a crise com a rapidez necessária.

Quando o governo tentou entabular o primeiro acordo com os caminhoneiros o fez atabalhoadamente, sem base, sem conhecimento da extensão do movimento e das lideranças com as quais devia tratar.

Ainda é visível o estado de desinformação dos ministros encarregados de negociar com os caminhoneiros.

Deu no que deu. A primeira tentativa de acordo subiu ao telhado. E o governo teve que se agachar diante dos grevistas, até porque eles estavam ou estão razoavelmente certos.

O antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) e suas Divisões de Segurança e Informações (DSI) espalhadas em todos os órgãos governamentais, que o presidente Fernando Collor extinguiu, atuavam com absoluta eficiência e, por isto, os governos da época agiam a tempo de evitar transtornos como o agora enfrentado pelo presidente Michel Temer.

Assustadora e perigosa a paralisação dos caminhoneiros. Em 1964, guardadas as devidas proporções, por menos caiu o presidente João Belchior Marques Goulart.

À semelhança de Temer, também vice, Jango assumiu o governo no bojo de uma crise que culminou com a renúncia de Jânio Quadros e a consequente vacância do cargo de presidente da República.

Fraco e inexperiente, Jango foi derrubado pelos militares e o resultado todos conhecemos, a escuridão que se fez sobre o Brasil durante vinte anos de ditadura.

Michel Temer, ao contrário, embora fraco, não corre o risco de ser ejetado do poder, por duas compreensíveis razões: nossa democracia está mais sólida e os militares têm mais o que fazer, que é cuidar de suas atribuições constitucionais. E mais, as eleições estão aí e as urnas trarão outras perspectivas, talvez melhores, espera-se.

O fato é que o presidente Michel Temer está espremido entre sua fraqueza e a ineficiência dos serviços de inteligência do governo, que não lhe passaram informações seguras sobre o perigo quanto à continuidade do movimento dos caminhoneiros.

Uma coisa é o Brasil andando mal. Outra é, diversamente, o Brasil parado.

Como um todo, a sociedade está sentindo os efeitos de um governo mal conduzido, ineficiente, negligente, risível.

A paralisação dos caminhoneiros criou caos assustador no Brasil. Entretanto, com um mérito: eles estão exercendo regularmente o direito de reivindicar, exigir, protestar.

Se houve ou está havendo exageros, cabe ao governo investigar e punir os culpados na forma da lei.  Mas – parece – o exagero não está na forma como os caminhoneiros estão agindo, mas na incompetência do governo para conduzir a situação.

O governo de Michel Temer vive seus estertores. Está minado por corrupção de todos os lados, o que de resto é uma prática que governantes vêm adotando há décadas.

O governo não está podendo contar com suas próprias estruturas, porque ineficientes e apáticas e muito menos com o Congresso Nacional.

As casas do Congresso – Câmara dos Deputados e Senado Federal – pouco ou nada fazem em benefício da sociedade, porque se dedicam a criar subterfúgios legais para a sobrevivência de deputados e senadores, em detrimento da população.

O governo Michel Temer é tão-somente um arcabouço jurídico-político e administrativo necessário, mas incapaz de começar a extirpar os males do Brasil.

De qualquer forma, o movimento dos caminhoneiros serve de lição para o atual governo e para os próximos.

A maneira como o governo Temer vem conduzindo o acordo com os caminhoneiros ensina tudo que não se deve fazer numa negociação dessa envergadura, inclusive no que tange a erros primários.

araujo-costa@uol.com.br

 

O PT, Michel Temer e o outro lado do espelho

“Eles furtam em todos os tempos de verbo: furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse” (Padre Antonio Vieira, “Sermão do Bom Ladrão”, 1655).

O Partido dos Trabalhadores (PT) sempre quis Michel Temer na condição de aliado e isto ficou evidente nos conchavos para a sucessão do primeiro governo nacional petista.

Lula da Silva o achava ideal para ser cúmplice do PT e o entronou como tal. Empurrou-o goela abaixo de dona Dilma Rousseff, que não morria de amores por Michel, mas não podia rejeitá-lo como vice, por duas razões inexoráveis: não tinha jogo de cintura política nem de qualquer outra cintura e não podia contrariar o morubixaba Lula da Silva.

Durante todo o tempo em que exerceu a presidência da República, dona Dilma governou com Michel Temer atravessado na garganta, mas em público o elogiava, até as relações pessoais entre eles subirem ao telhado.

Entretanto, Lula da Silva sabia muito bem porque queria Michel Temer na condição de seu aliado, a qualquer custo. E a razão era muito simples: os partidos de ambos – PT e MDB – estavam conluiados para furtar o Brasil, inclusive a Petrobras, que Lula da Silva jurava defendê-la.

Lula da Silva sabia de tudo, mas dizia que não sabia e hoje também diz que não sabe a razão pela qual está no xilindró, embora por pouco tempo. É que “um dia é da caça, outro do caçador”, diz o ditado, mais ainda quando o caçador vive à procura de caça alheia.

Com o advento do impeachment de dona Dilma, os petistas passaram a dizer que Michel Temer é golpista, elegeram-no como inimigo político e ainda tentam construir um discurso esfarrapado para desdizer tudo que haviam dito sobre o hoje presidente da República, como se os brasileiros fossem idiotas a ponto de acreditar no descalabro que eles apregoam.

O fato é que o PT furtou, o MDB furtou, o PP furtou, o PSDB furtou e outros partidos políticos, aliados ou não, também furtaram. E “haveriam de furtar mais, se mais houvesse”, como dizia o padre Antonio Vieira.

Como se vê, por conta dos furtos, o Brasil está atravessando uma crise moral, econômica, social e política. Não o Brasil, propriamente, mas os políticos que participam ou participaram do poder em todos os níveis, pelo menos nesses últimos trinta anos.

Após se lambuzarem no mel da insensatez, PT e MDB descobriram que o espelho tem outro lado, além do lado que refletia o brilho que imaginavam ter. É o lado opaco, sem luz, sem brilho. É este lado do espelho que os remete para o desmoronamento moral, quiçá para os presídios.

Hoje Michel Temer, Lula da Silva e todos os que com eles participaram dessas maracutaias seguem o mesmo caminho rumo ao banco dos tribunais.

araujo-costa@uol.com.br

Festa de Santo Antonio de Patamuté

Começa no primeiro dia do mês de junho – e se prolonga até o dia 13 – a festa de Santo Antonio de Patamuté, padroeiro do lugar, no sertão baiano de Curaçá. Mui remotamente Patamuté elevou-o à condição de padroeiro, assim como Abaré, Canudos, muitos outros lugares da região e inúmeros espalhados pelo mundo.

É impressionantemente popular e querido “o santo de todo o mundo”, como assim é chamado pelos católicos desde o século XII.

O que é ser padroeiro? Significa ser protetor, patrono, ser presente no dia-a-dia do povo. A festa de Santo Antonio, conhecida como trezena, porque se estende por treze dias, vai acontecendo, fervorosamente, avivando a fé de quem a tem ou, pelo menos, pensa que tem. Mas, em termos de fé, o importante é pensar conforme o preceito bíblico, que diz: “Fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hebreus, 11-1).

Diz a história de Patamuté – e a história é sábia – que a primeira imagem de Santo Antonio, que ainda está lá na igreja, ao lado de outra adquirida depois, foi doada por um retirante lá pelos idos de 1902 ou 1903. A torre da igreja foi levantada em 1906. O certo é que Patamuté já ultrapassou um século de fé e devoção ao padroeiro.

Antigamente, a expectativa do povo era muito grande à espera da festa. Quer dizer, antigamente é modo de dizer, porque não sou tão velho assim, para que um antigamente venha se intrometer nesta crônica. É que sou de uma quadra do tempo em que o respeito à igreja e ao seu calendário era mais evidente. Revestia-se de seriedade e a religião não se misturava tanto com as coisas profanas. Havia uma separação criteriosa e necessária.

Havia expectativa à espera dos festejos, porque naquele tempo, aguardava-se a festa do padroeiro para se realizarem casamentos e batizados. Houve um tempo em que os casamentos de Patamuté eram acompanhados pela Orquestra Filarmônica 15 de Março, de Barro Vermelho, sob a regência do maestro Filemon Martins.

A procissão de encerramento da festa, dia 13, acontecia num clima de reverência. Os comerciantes fechavam as portas de seus estabelecimentos em sinal de absoluto respeito, independentemente da fé que professavam.

Entretanto, sabe-se que nos dias de hoje não é mais assim. Mudou o tempo, mudaram-se os costumes e o conceito de respeito à fé alheia.

Há mais de uma década, pelo menos, a falta de criatividade permitiu que se fizesse uma pista de dança nos fundos da igreja de Santo Antonio. Podia ser mais distante do local onde se praticam as atividades religiosas, porque espaço sempre teve. Entretanto, minha pequenez de raciocínio não me autoriza a criticar a inteligência de nossos governantes municipais. Todavia, mudou ou está mudando, parece.

Além do mais, falando de antigamente, participei, como pude, das atividades da pequena igreja de Patamuté e fui até, em certo ponto, um ingênuo defensor da ideia de que lá fosse criada e instalada uma sede de paróquia, para que tivesse padre diuturnamente, cuidando das fraquezas e misérias humanas.

Coisas da juventude, uma ideia difícil de acontecer e de explicar, mas própria dos sonhos da idade. Os sonhos são os melhores atributos da juventude.

O padre Adolfo Antunes da Silva, que foi vigário de Curaçá e meu amigo, disse-me, sabiamente, que a juventude às vezes não tem em que se amparar, a não ser na própria utopia. Eu era utópico neste particular. A utopia é inerente à juventude.

Patamuté sempre segurou suas tradições religiosas, com a força de sua gente, independentemente de ser sede de paróquia. Continua não sendo e, apesar disto, Santo Antonio está lá, excelso, galante, protetor. Com a dedicação de seus moradores e a indiferença injustificável de alguns filhos relapsos e distantes como eu.

O certo é que Patamuté já está em festa. Desde os primeiros dias de maio já acontece um quê de felicidade. Alguns de seus filhos mais presentes não deixam esmorecer a homenagem ao santo padroeiro, tampouco se esquecem do lugar nesta época do ano. E para lá acorrem com o intuito de sustentar a fé e tradição do lugar. Escravo dos meus defeitos, eu não me tenho feito presente há anos.

Cada dia, nesses treze da festa, a comunidade se faz presente, como se angariando forças para a continuidade da vida. Reflete sobre os temas de cada noite, temas fortes, necessários, importantes para a comunidade.

Generosamente, a organização da festa tem me incluído como noiteiro no dia 06. Sou grato e elevo minhas preces ao glorioso Santo Antonio para que cuide bem de seu povo, como sempre fez.

Santo Antonio de Patamuté está lá, acolhedor, hospitaleiro, protetor e glorioso. E seus filhos pedem sua bênção tão necessária neste mundo de turbulências, crueldades e desassossego.

araujo-costa@uol.com.br

 

A alvorada e o despertar

“O homem desperta e sai cada alvorada

Para o acaso das cousas…e, à saída

Leva uma crença vaga, indefinida

De achar o ideal nalguma encruzilhada”

(Raul de Leoni, 1895-1926)

A razão de viver de cada um de nós reside na esperança. E essa esperança faz-se alentada toda vez que, ao amanhecer, a alvorada nos dá a certeza do início de um novo caminhar.

O ideal que buscamos talvez esteja numa encruzilhada ou simplesmente estribado em nossas próprias forças ou mesmo na vontade de seguir avante.

Seguir adiante significa carregar os fardos, as incertezas, o cansaço, as intempéries, os dissabores, as dores, a marca dos tropeços e, em certos casos, até mesmo as lágrimas que chegamos a derramar durante a caminhada.

Há horizontes que ainda não atingimos, mas pretendemos chegar lá. Sempre há uma luz distante, sempre há um sonho a ser perseguido e sempre há esperança.

O segredo é lutar, sonhar, atingir o topo do desconhecido. O desconhecido também é um caminho possível.

Termino com uma frase de D. Carmine Rocco:

“Se lhe der vontade de parar, olhe para quem caminha à sua frente. Ele também está cansado”.

Este é o nascer de um novo blog.  Com os defeitos de quem nele escreve.

Mas com a vontade de acertar, de corrigir, de engrandecer o debate e penitenciar-se diante das críticas.