Há uma frase atribuída ao governador Otávio Mangabeira, considerado o “filósofo da baianidade”, que parece estar em alta: “Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”.
A Bahia é um dos estados em que o PT vai bem, com alvissareiras expectativas de êxito eleitoral nas urnas, tudo por conta da atuação de Jaques Wagner, que respira política o tempo todo e tendo em vista a incapacidade de articulação dos seguidores do carlismo, que está se esvaindo.
Contudo, há um quiproquó: o governador Rui Costa, pré-candidato à reeleição, trabalha na composição de sua chapa e pretende deixar de fora a senadora Lídice da Mata, aliada histórica do PT na Bahia, em favor do deputado estadual Ângelo Coronel.
Este senhor Coronel vem a ser o presidente da Assembléia Legislativa e faz parte do grupo do senador Otto Alencar.
O governador diz – e parece que acertadamente – que na formação da chapa vai considerar as peculiaridades locais da Bahia e, neste caso, a senadora Lídice não teria espaço, já que a outra vaga ao Senado da República é destinada ao cacique carioca e chefe político de Rui, Jaques Wagner, que tem eleição garantida, salvo se as águas que estão passando por baixa da ponte até as eleições de outubro o arrastarem para as caudalosas surpresas da Lava Jato.
Dentro do PT há um movimento para Jaques Wagner abrir mão da candidatura ao Senado e disputar a presidência da República em substituição a Lula da Silva, que dificilmente terá sua candidatura acolhida pela Justiça Eleitoral, em razão da Lei da Ficha Limpa, exceto uma situação de disputa sub judice, o que é possível.
Todavia, Jaques Wagner parece não estar disposto a abandonar a expectativa de oito anos de mandato no Senado para se dedicar à difícil tarefa de recolher as cinzas políticas de Lula da Silva, não obstante amigos.
É uma aventura, uma temeridade. Deixar o certo pelo duvidoso não parece ser a tradição política do ex-governador baiano.
Todavia, o quiproquó é o seguinte: a presidente nacional do PT, senadora paranaense Gleisi Hoffmann, que entende tudo de radicalismo e nada de política séria, não aceita que a senadora Lídice da Mata seja afastada da chapa majoritária de Rui Costa e insiste em meter o bedelho nas costuras políticas do governador. Até – dizem – Gleisi já gravou vídeos em apoio à candidatura de Lídice, o que não deve ser bom para a senadora baiana.
O destrambelhamento da senadora paranaense pode atrapalhar o PT da Bahia. Gleisi articula mal, mistura alhos com bugalhos e carrega uma agravante nas costas: é politicamente muito confusa.
Em Tocantins, a senadora Kátia Abreu que disputava a governadoria em eleição suplementar, ocupava um folgado primeiro lugar em todas as pesquisas de opinião. Bastou Gleisi Hoffmann gravar um vídeo em apoio a Kátia para a situação degringolar.
Abertas as urnas, Kátia Abreu amargou um mísero quarto lugar. E se escondeu, não se sabe se com vergonha, em razão da derrota inesperada ou para não se encontrar com a senadora Gleisi.
Como se vê, parece não ser recomendável que a presidente nacional do PT tente atrapalhar as costuras do governador Rui Costa. O PT pode se enroscar nas linhas de sua costura e atrapalhar o próprio desempenho eleitoral no estado.
Rui Costa tem um professor de política: Jaques Wagner. E a senadora Gleisi Hoffmann passou longe dessa sala de aula.
Como dizia Otávio Mangabeira, a Bahia tem precedente em todos os absurdos.
Colocar em risco composições políticas seguras feitas por Rui Costa e Jaques Wagner, para atender Gleisi Hoffmann, pode caracterizar um desses absurdos.
Quanto à senadora Lídice da Mata, sua história não será arranhada se, eventualmente, ficar fora dessa chapa majoritária de Rui Costa.
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