Não sou daqueles que seguem na embarcação das críticas à TV Globo, simplesmente porque é a TV Globo.
Mas, convenhamos, a entrevista que o Jornal Nacional fez com o candidato Jair Bolsonaro foi um emaranhado de hipocrisia e falta de seriedade, de modo que nada acrescentou em benefício do eleitor, que esperava coisa melhor, tanto do presidenciável quanto da emissora.
Aproximou-se do ridículo a pauta da entrevista, em detrimento de assuntos urgentes de interesse da população que vive ansiosa por um Brasil melhor. Explico por que:
Apartamento funcional: em 1960, quando a capital federal mudou-se do Rio de Janeiro para Brasília, o governo Kubitscheck havia viabilizado os apartamentos funcionais para acomodar a estrutura governamental na nova capital, composta de funcionários federais, diplomatas, parlamentares, membros dos três Poderes da República, etc, por uma razão simples. Todos esses agentes públicos moravam no Rio de Janeiro e foram obrigados a mudar-se para Brasília, por força da transferência da capital e da função que exerciam no governo da República. Logo, por óbvio, precisavam de imóveis para suas residências.
O uso do apartamento funcional não é invenção do candidato Jair Bolsonaro, mas privilégio de todos os parlamentares do Congresso Nacional e até de agentes públicos do Poder Executivo.
Os parlamentares que não ocupam apartamentos funcionais moram em sofisticados hotéis pagos pela respectiva casa legislativa, Câmara dos Deputados e Senado Federal. Há leis que assim dizem e autorizam a esculhambação.
Portanto, questionar candidato, seja Bolsonaro ou outro qualquer, sobre o porquê de usar o apartamento funcional é, no mínimo, falta de sinceridade e uma forma de negligenciar assuntos de interesse da população.
Esse privilégio nunca foi tirado dos parlamentares, porque nenhum presidente da República quis mexer no vespeiro dos parlamentares que lhe dão apoio no Congresso Nacional e os parlamentares, por sua vez, não querem perder a mamata. Nunca arredaram uma palha para acabar com esse privilégio imoral.
TV Globo. A TV Globo foi fundada em abril de 1965, exatamente um ano após a instalação do governo militar. Não é nenhuma novidade que as Organizações Globo viveram à sombra da ditadura, que lhe sustentou com publicidade oficial, tornando-a a segunda maior emissora comercial do mundo. Mais: sempre noticiou o que interessava à ditadura.
Portanto, não tem sentido a TV Globo melindrar-se porque o candidato Bolsonaro tocou na ferida e lembrou que o fundador da emissora apoiou os governos militares. Significa menosprezar a inteligência dos brasileiros. A TV Globo apoiou os governos militares, sim. Outra época, outro cenário, outra circunstância. Por que a emissora insiste em negar isto?
Comunidade GLBT. Os entrevistadores do Jornal Nacional, mais uma vez, deixaram de lado assuntos mais urgentes de interesse da população. O direito e o espaço desses segmentos sociais já estão garantidos no Brasil e no mundo, através de leis e regulamentos. Os direitos são iguais para todos, independentemente dos valores que cada um carrega dentro de si. Qual a importância de saber, numa sabatina dessa envergadura, se o candidato é contra ou a favor de uma situação que ele não vai e não consegue mudar?
Desigualdade salarial entre homens e mulheres. Esta é uma anomalia existente no mundo inteiro. Países da Europa passam por esse problema, assim como o Brasil. O Brasil precisa ajustar-se, corrigir isto através de leis e sistemas educacionais. Não é culpa do candidato Bolsonaro, nem de nenhum outro candidato que está aí disputando a eleição presidencial.
Todavia, a hipocrisia maior na entrevista foi a apresentadora do Jornal Nacional insinuar que não aceita salário menor em relação a colega do sexo masculino no exercício de função análoga. Chega a ser risível.
A apresentadora deve viver no mundo da lua. Ninguém deixa de aceitar um emprego porque o salário é menor que aquele pago a um colega, seja do sexo masculino ou feminino.
Que as mulheres têm o direito de igualdade de condições, em todos os níveis, isto não se discute, inclusive quanto ao salário. É uma conquista das mulheres e de seus movimentos justos e necessários. E as leis devem assegurar isto.
Mas estes – parece – são os assuntos que a TV Globo entende como prioritários para a solução dos problemas do Brasil.
araujo-costa@uol.com.br
falou tudo.Bem assim.
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