Segundo turno das eleições presidenciais de 1989. Alberico Souza Cruz, poderoso diretor de telejornais da Rede Globo, editou o debate havido entre os candidatos Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva.
Noticiada pela imprensa, a edição do debate deu-se numa sexta-feira e no sábado seguinte, a pedido de Lula, oito mil militantes foram protestar na porta da TV Globo contra a emissora.
A eleição aconteceu no domingo, 17 de dezembro. Lula da Silva perdeu por pequena margem de votos, derrota atribuída à montagem do debate vista como grosseira e desonesta, a favor de Collor.
A TV Globo puxou a sardinha para o lado de Collor, que saiu vitorioso com 53,03% dos votos. Lula teve 46,97%.
Enquanto os manifestantes se apinhavam na porta da TV Globo, no Rio de Janeiro, Lula da Silva jantava, escondido, com a direção da emissora, a convite do próprio Alberico Souza Cruz, que manipulou o debate contra ele.
– “Derrubamos 3 litros de uísque”, contou Lula depois. E ponderou: “não vou brigar com a Globo, né?”.
Os manifestantes e defensores de Lula fizeram papel de bobos em frente à Globo. Protestaram, esgoelaram-se, levantaram bandeiras, gritaram palavras de ordem e Lula lá, em jantar com a direção da emissora, comendo, bebendo e extasiando-se.
– “Aquilo doeu e me pareceu falta de dignidade pessoal”, disse César Benjamin, ícone da esquerda do Brasil, fundador do PT e um dos responsáveis pelo protesto. Depois disto ele abandonou o PT.
Até o íntegro Leonel Brizola ficou indignado com a edição do debate e comprou a briga com a TV Globo. E Lula lá, fingindo que estava brigando com a emissora.
Até hoje tem militantes que embarcam nas lorotas de Lula e pensam que ele é contra a Rede Globo, ao ouvirem suas bravatas. Lula da Silva “joga pra galera”, de acordo com o momento. É um esperto estrategista político. Sabe dizer na hora certa o que a militância quer ouvir.
Curioso é que Lula da Silva considerava Fernando Collor inimigo figadal, mas quando assumiu o poder uniu-se a ele e passaram a viver aos abraços até hoje, um defendendo o outro. Coisas do amor.
A inimizade começou porque na campanha eleitoral, Collor divulgou assuntos da vida pessoal de Lula, o que não vem ao caso citá-los. Convenhamos, vida pessoal não deve ser misturada com campanha eleitoral. É baixaria, mau caráter.
Há outros episódios que Lula da Silva protagonizou às escondidas de seus admiradores, como a greve de fome que simulou quando estava preso no DOPS paulista no tempo da ditadura militar.
Mas esta é outra história que, de tão hilária, entrou para o folclore lulista.
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