O prefeito e o presidente

O zoólogo, pesquisador e compositor Paulo Vanzolini (1924-2013), autor de Ronda, talvez a música mais tocada na noite boêmia paulista, costumava contar o caso de um prefeito do interior do Nordeste.

Um repórter quis saber se era verdade que o prefeito havia nomeado o filho para importante cargo na Prefeitura, mesmo sem ostentar nenhum conhecimento técnico para a função.

A resposta do prefeito foi clara.

– É verdade. Nomeei meu filho e vou nomear os filhos dele, os netos dele e, se puder, os bisnetos dele.

O repórter insistiu.

– Por quê?

O prefeito esclareceu.

– Porque em minha família quem manda sou eu. E chispe daqui.

E o repórter chispou.

O presidente Jair Bolsonaro tem três filhos com mandato eletivo: vereador, deputado federal e senador. Presume-se que cada um deve atuar em sua casa legislativa e pronto. O povo os escolheu para isto.

Entretanto, um deles, que é vereador no Rio de Janeiro, parece que se ocupa mais com as redes sociais e vem dando pitaco em assuntos do governo federal, o que não é bom. Trata-se de intromissão descabida. Ele não faz parte do governo, não exerce função no governo. Pior: fala em nome do pai-presidente e sai, por aí, distribuindo opiniões polêmicas fora de contexto.

O diabo é que o presidente vem concordando com os pitacos do filho em assuntos estritos do governo, o que tem causado razoável incômodo no Palácio do Planalto. E parece que o presidente não aceita ponderações de outros auxiliares quanto à ingerência do filho em assuntos de governo.

Isto faz lembrar a história contada por Paulo Vanzolini.

Parece que o presidente da República entende que quem cuida de sua família é ele.

Quando pensar de modo diferente – se vier a pensar – poderá ser tarde.

Há muitos exemplos de famílias que arruinaram governos.

araujo-costa@uol.com.br

Uma consideração sobre “O prefeito e o presidente”

  1. Ótimo texto meu amigo Walter! Dizia um grande amigo nosso e também grande político, que família se administra com coração e paixão, diferente da Gestão Pública que deve ser impessoal e razoável, respeitando os dois princípios, o da impessoalidade e e o da razoabilidade.

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