
Esta é uma crônica de saudade.
Abgail Gonçalves dos Reis (1937-2019) se despediu de Patamuté, de São Paulo, dos parentes e dos amigos. Acenou para o mundo, para nós que ainda ficamos e se foi para a eternidade. É um adeus difícil, dilacerante, incompreensível.
Difícil a finitude da vida. Difícil o reencontro que a crueldade da morte não nos permite alcançar.
Abgail deixou Patamuté ainda jovem. Mas lá deixou fincadas suas raízes firmes, seguras, indestrutíveis.
Conheci Abgail em São Paulo. Vi pela última vez, em São Caetano do Sul, em junho do ano passado, de modo casual, num daqueles momentos de tristeza que a vida ou a morte nos permite: o velório de Handerson Mendes Raposo, um rapaz encantador da família de Abgail, filho de Vanízia Maria Mendes, amiga que conservo desde os tempos áureos de nossa juventude em Patamuté.
Conversamos nos limites do que era possível em ambiente de funeral. Disse-lhe que telefonaria, para retomar uma conversa que havíamos começado há anos.
Eu havia pedido a Abgail informações sobre suas raízes familiares, para constar numa quase-biografia que comecei a escrever – e não terminei – sobre Theodomiro Mendes da Silva, outro filho ilustre de Patamuté e prefeito de Curaçá por dois períodos.
Modéstia à parte, Theodomiro era meu amigo. Talvez por isto me tenha sido tão difícil escrever sobre sua vida sem afastar as lembranças da amizade.
Ela se mostrou prestativa, atenciosa e interessada em ajudar-me. Essa nossa conversa foi interrompida por desleixo deste escrevinhador, sempre relapso, embora com a intenção de retomá-la, o que nunca houve. Deixei pra depois, inocentemente alheio às surpresas da vida.
A ingenuidade às vezes nos tolhe o caminho, dificulta os objetivos.
Minha proximidade com Abgail deu-se em razão de outra existência que me serviu de régua e exemplo de vida: a professora Beatriz Gonçalves dos Reis Gomes.
Beatriz foi minha professora na antiga Escola Estadual de Patamuté. À professora Beatriz devo-lhe meus sustentáculos para enfrentar as ventanias, os tropeços, as intempéries. Como tem sido difícil o caminhar!
Abgail tinha um quê somente encontrável nas pessoas boas, admiráveis: a civilidade, a lhaneza, o encantamento, a firmeza no falar, a sensatez.
Abgail prezava suas raízes, como convém às pessoas sábias: Júlio Reis, carinhosamente conhecido como Júlio do Brejo e Joaninha, que lhe transmitiram a educação e a retidão de caráter, assim como fizeram relativamente aos demais filhos.
Abgail deixou parentes íntegros, irmãos admiráveis, família exemplar. Deixou lembranças, deixou saudade e, sobretudo, deixou lágrimas.
Que Jesus Cristo, redentor do mundo, indique-lhe o caminho.
Que Deus a ampare.
Deixo meus sentimentos de pesar para Luís Frederico Ferreira Victal e todos da família de Abgail.

araujo-costa@uol.com.br
Obrigado querido amigo por esta maravilhosa homenagem a esta grande mulher que foi Abgail!
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Lindo texto! Meus pêsames a família e amigos!
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