Amigo: lembrança de primavera

Cantor e amigo de muitos anos, combinou de passar em meu escritório para um papo, um café, um uísque, sei lá o que mais. Nunca apareceu.

Um dia, primavera do ano passado, telefonou alterado: “Pô cara, você não trabalha mais?”

Disse-lhe que estou no batente todos os dias, continuo pobre, preciso ganhar para viver.

Mas quis saber a razão da irritação. Disse-me que passou em meu escritório uma, duas, três vezes, em meses diferentes. Eu não estava, não se identificou, não deixou recado.

Ponderei: se você não deixou recado, como eu poderia saber?

Meu ingênuo argumento foi pior. Deu-me a lição: “se sua assessoria não insistiu em saber meu nome, o problema não é meu, mas seu. Seu escritório é uma m….Cuide urgentemente de corrigir”.

Grande amigo! Tempos difíceis em que nos conhecemos!

Não tínhamos dinheiro para comer, para frequentar “baladas” em finais de semana. Naquele tempo, as amizades nasciam em meio aos tropeços, às quedas, às dificuldades, diferente de hoje, que os interesses estão acima de tudo e se sobressaem.

Hoje você é amigo se vestir roupas de grife, se tiver bons carros, se frequentar ambientes de celebridades, se portar cartões de créditos com respeitáveis saldos disponíveis.

Desejo-lhe muitas flores nesta primavera.

Quando puder, apareça. Mas se eu não estiver, deixe recado.

Ainda tenho tempo de corrigir os meus erros.

araujo-costa@uol.com.br

Deixe um comentário