Patamuté é negligente com sua história

“Sonhador é aquele que percebe a aurora antes dos outros” (Oscar Wilde, 1854-1900).

Os prefeitos que Curaçá produziu nas últimas décadas não conseguiram perceber a aurora da história do município.

Com raríssimas exceções e algumas poucas ações visíveis na sede do município, todos se olvidaram no que concerne à cultura e às tradições do lugar.

A cultura e as tradições de um povo devem ser perpetuadas, principalmente, através da iniciativa e ação de seus governantes.

Curaçá está devendo – e Patamuté, por extensão – uma homenagem póstuma à professora Beatriz Gonçalves dos Reis Gomes, ícone do ensino estadual em Patamuté nas décadas de 1960/1970.

Afigura-se inadmissível para este escrevinhador, que não somente a professora Beatriz, mas outras que se dedicaram ao ensino em Patamuté tenham sido colocadas na vala do esquecimento pelas autoridades, mormente os prefeitos.

É verdade, todavia, que alguns deles sequer sabiam o que é cultura e/ou tradição, mas esta é outra história. Os eleitores os colaram lá, democraticamente. Isto é o bastante. Escolher errado também é um direito democrático.

Ademais, é forçoso presumir que Patamuté sempre teve representantes eleitos na Câmara Municipal de Curaçá, mesmo que em períodos alternativos. Nem assim, tais representantes cuidaram da história do lugar. Desleixo, falta de visão ou talvez desconhecimento da função legislativa.

Os vereadores de Curaçá sempre se ativeram ao assistencialismo exacerbado, ao “tapinha nas costas” do eleitor, aos efusivos cumprimentos.

Eles entendem que a função legislativa se resume ao comparecimento a rodas de São Gonçalo, festas nas fazendas, et cetera. É fato inegável, incontrastável.

A função legislativa sempre foi negligenciada, desvalorizada, apequenada. Entretanto –  reconheço –  este não é privilégio ou vergonha somente de Curaçá.

A professora Beatriz Gonçalves dos Reis Gomes integrou o então Departamento de Educação Primária, da Secretaria de Educação e Cultura da Bahia. Nesta condição, atuou exemplarmente no ensino de Patamuté.

A homenagem que reivindico em benefício da memória da professora Beatriz Gonçalves dos Reis Gomes é simples, embora cônscio de que não disponho de nenhum lastro político ou prestígio para tanto: que seu nome seja atribuído a algum equipamento público ou equivalente de Patamuté, quer seja uma rua, estrada vicinal ou escola a ser eventualmente construída.

Deixo a sugestão ao prefeito Pedro Oliveira (PSC), que anda alardeando por aí que está fazendo muito ou tudo pelo município, embora não se vislumbre tanto e este escrevinhador não duvide de sua eficiência administrativa.

A sugestão humilde é extensiva aos vereadores que hoje se dizem preocupados com os assuntos de Patamuté e ao prefeito e vereadores que serão eleitos no próximo pleito de 2020.

Aqui, uma pergunta ousada, atrevida: Patamuté tem representante junto à Prefeitura?

Os homens públicos também devem ter iniciativas e torná-las realidade, embora saibamos que exigir iniciativas de homens públicos é uma tarefa ingente e difícil, quiçá inútil.

É indefensável a negligência dos homens públicos de Curaçá relativamente à história de Patamuté.

Em 1975, o delegado de Polícia de Patamuté era Cleómenes Brandão Matos (Quezinho). Para quem não sabe – e ninguém tem obrigação de saber – Patamuté tinha delegado de Polícia.

Salvo engano, na estrutura do Estado, o distrito tinha sub-delegado de polícia, geralmente chamado delegado, o que aqui pouco importa.

À época, jovem e inexperiente e hoje mais inexperiente do que velho, perguntei a Quezinho, porque o mercado municipal de Patamuté, construído pelo prefeito José Félix Filho (Zé Borges) na década de 1960, não tinha o nome de um antepassado do lugar, mas apenas a inscrição Mercado Municipal.

A resposta sábia e pronta de Quezinho foi esta: “porque Patamuté não cuida de sua história”.

Nunca esqueci esta lição.

Como se vê, continua como dantes.

araujo-costa@uol.com.br

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